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Trump x Biden? Eleição nos EUA será destaque em ano que terá quase 80 eleições pelo mundo

Ex-presidente chega como favorito em eleição dos Estados Unidos quatro anos após perder nas urnas, negar resultado e sofrer processos em série na Justiça

Donald Trump: ex-presidente é favorito para obter nomeação do Partido Republicano e disputar a eleição presidencial em 2024 (Scott Olson/Getty Images)

Donald Trump: ex-presidente é favorito para obter nomeação do Partido Republicano e disputar a eleição presidencial em 2024 (Scott Olson/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 10h57.

Em 2024, haverá eleição nacional em pelo menos 78 países, segundo levantamento do think tank Atlantic Council. A lista, que atinge número recorde, inclui países como Índia, Rússia, Uruguai, México e Venezuela, mas o grande destaque será a disputa nos Estados Unidos. Por lá, Donald Trump será novamente protagonista e tentará voltar ao poder, em uma provável reedição da eleição de 2020, quando perdeu para o atual presidente, Joe Biden.

Trump foi a grande novidade da política americana na última década: eleito em 2016, apostou na imagem de candidato de fora do sistema, que enfrentaria os poderosos para defender o cidadão comum. O modelo estimulou diversas outras candidaturas pelo mundo, muitas delas de sucesso. Ao perder a reeleição, Trump também agiu de modo inesperado: não aceitou o resultado e tentou reverter a derrota à força, em um movimento cujo ápice foi a invasão do Congresso dos Estados Unidos por seus apoiadores, em 6 de janeiro de 2021, para tentar impedir a certificação da vitória de Biden. O dia terminou com cinco mortos e centenas de pessoas processadas, incluindo Trump, alvo de um processo de impeachment, do qual acabou absolvido.

Fora da Casa Branca, ele conseguiu manter sua base engajada e, mesmo sendo alvo de quatro processos na Justiça, se mantém como o favorito para obter a indicação do Partido Republicano. O ex-presidente construiu uma narrativa de que os processos, que incluem acusações de fraude fiscal, tentativa de suborno e a questão de que ele levou documentos confidenciais da Casa Branca para sua mansão na Flórida de modo ilegal, são apenas uma perseguição do sistema. Os Estados Unidos não têm um equivalente à Lei da Ficha Limpa, e Trump poderá se candidatar e ser eleito mesmo que seja condenado e preso. Os processos estão em andamento e há chances de que algumas das sentenças saiam no meio da corrida eleitoral de 2024.

Na disputa do ano que vem, os Estados Unidos também terão um cenário não visto há décadas: existe grande probabilidade de a disputa final ser entre dois homens que já presidiram o país. O atual mandatário, Joe Biden, não deve ter dificuldade para obter a nomeação democrata. Historicamente, presidentes em exercício conseguem a indicação facilmente, pois o cargo traz visibilidade e poder de arrecadação de doações de campanha muito maiores do que os rivais de partido. Confirmado o cenário, haveria uma repetição de 2020, quando Biden venceu com 81 milhões de votos. Embora tenha perdido, em 2020 a votação em Trump trouxe um dado curioso: ele teve 74 milhões de votos ante os 62 milhões de eleitores de 2016. Os 12 milhões de eleitores a mais dão uma pista de sua força política.

“A maioria das sondagens atuais coloca Trump na frente, ou pelo menos empatado com Biden, inclusive em estados-chave para o Colégio Eleitoral, como Michigan e Geórgia”, diz Rafael Ioris, professor de política na Universidade de Denver. “Biden tem dificuldade em colher frutos do controle da inflação. Por continuar um pouco elevada, isso faz muitos americanos a culpá-lo por isso.” Para Tatiana Teixeira, professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid/UFRJ) e editora do Observatório Político dos Estados Unidos (Opeu), Biden teve um bom desempenho na aprovação de projetos no Congresso, e a economia melhora. “Mas isso pouco adianta se a mensagem desejada não chega ao eleitor”, diz. 

No mercado financeiro, a precificação já está acontecendo. Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, avalia que os agentes econômicos apostam no favoritismo de Trump — e se preparam para esse cenário. “A volatilidade vai vir na medida em que os candidatos anunciarem seus programas de governo. Será importante o posicionamento de Trump em relação ao fiscal. Como ele vai endereçar algum tipo de ajuste? Isso é esperado em certa medida, pois ele fez cortes de impostos no primeiro mandato e houve agora certa piora dos dados fiscais americanos, com aceleração das despesas e queda de receitas”, afirma.

Por outro lado, o fato de Trump estar novamente na urna pode motivar mais eleitores a votarem contra ele, especialmente na esteira da decisão da Suprema Corte, de 2022, que retirou o direito ao aborto no país. Uma vitória do republicano, que defende valores conservadores e deve aumentar as restrições ao procedimento no país. “Trump não é mais um novato e não tem mais a aura de novidade que o favoreceu em 2016. Tanto apoiadores quanto opositores já sabem como seria seu novo governo”, diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper. Um segundo governo Trump, afirma Cosentino, pode levar os Estados Unidos a reforçar o protecionismo e dificultar a importação de produtos brasileiros. Nesse cenário, o Brasil poderia ficar ainda mais dependente do comércio com a China. 

Antes de saber o destino dos Estados Unidos será interessante ver as decisões que bilhões de eleitores tomarão mundo afora, começando por Taiwan. Em 13 de janeiro, cidadãos da ilha considerada pela China como parte de seu território vão às urnas. Gestos mais fortes de Taiwan em direção à independência poderiam motivar uma invasão chinesa, o que geraria um conflito de repercussão global. A agenda eleitoral de 2024 tem ainda El Salvador, Índia, Rússia, México e outros. Com tantas eleições, podemos chegar a 2025 com um mundo remodelado.

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