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A vantagem da exploração do pré-sal acabou

Para o economista Jeffrey Currie, do banco Goldman Sachs, o petróleo de xisto mudou o mercado mundial para sempre — e a Petrobras deveria levar isso em conta

Jeffrey Currie: "A Petrobras precisa baixar os custos da exploração em águas profundas" (Divulgação)

Jeffrey Currie: "A Petrobras precisa baixar os custos da exploração em águas profundas" (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 22 de abril de 2015 às 05h56.

São Paulo - O economista americano Jeffrey Currie comanda a equipe de investimentos globais em commodities do banco Goldman Sachs. É dele a responsabilidade de analisar as tendências de preço de matérias-primas como petróleo, minério de ferro e soja.

“No caso do Brasil, há dois cenários importantes. O preço do petróleo não deve voltar tão cedo para o patamar de 100 dólares, mas a produção de soja, mesmo com a queda do preço em dólares, continua sendo atraente”, diz Currie, que falou a EXAME durante uma visita recente a São Paulo.

1) Por que o preço do petróleo despencou para o patamar de 50 dólares o barril nos últimos meses?

Jeffrey Currie - A descoberta do petróleo de xisto nos Estados Unidos mudou radicalmente esse mercado. Até 2012, ninguém levava a sério esse tipo de exploração. Mas, em 2013, a extração de xisto dos Estados Unidos foi equivalente à produção anual da Líbia no auge de sua capacidade — e a um custo muito menor.

Estima-se que o custo para produzir um barril de petróleo à base de xisto esteja em cerca de 60 dólares, enquanto tirá-lo de águas profundas sai muito mais caro, algo por volta de 110 dólares.

2) Por que os grandes produtores de petróleo ainda não diminuíram a produção para tentar elevar o preço?

Jeffrey Currie - Países como a Arábia Saudita estão tentando manter sua participação de mercado. Eles sabem que, se reduzirem a extração de petróleo, os produtores de xisto vão tomar o espaço. Pelas contas dos grandes produtores, tem valido a pena até agora vender o petróleo abaixo do custo de extração. O governo saudita já reservou 750 bilhões de dólares para arcar com essa estratégia.

3) Qual será o ponto de equilíbrio do preço do barril?

Jeffrey Currie - Creio que o novo patamar será de 65 dólares o barril, valor que deverá ser alcançado em 2016.

4) Como a queda no preço do petróleo atinge a Petrobras, já abalada por dívidas e denúncias de corrupção?

Jeffrey Currie - O grande desafio da Petrobras é manter-se competitiva, mesmo com o advento do xisto em grande escala. O Brasil tinha a vantagem de ter desenvolvido uma das mais baratas tecnologias para a extração em águas profundas, mas esse benefício acabou. A realidade é que, se a Petrobras não produzir petróleo em águas profundas a um preço ainda menor, estará em enorme desvantagem em relação ao xisto.

5) Não foi apenas o preço do petróleo que caiu. Outras commodities também recuaram. Por quê?

Jeffrey Currie - A queda na cotação de commodities como o minério de ferro e a soja é explicada pela valorização do dólar. De 2001 a 2014, vivemos com o dólar excessivamente desvalorizado. Agora, estamos enfrentando a fase de ajuste.

6) Qual é o impacto no mercado de commodities?

Jeffrey Currie - Existem duas forças atuando simultaneamente. Moedas como o real têm se desvalorizado frente ao dólar numa velocidade maior do que a da queda do preço das commodities. O saldo disso é que houve uma valorização das matérias-primas em reais, mesmo com a queda do preço em dólares.

7) O que cabe a países exportadores de commodities, como o Brasil, fazer nessa situação?

Jeffrey Currie - Se eu fosse um produtor de soja brasileiro, tentaria cultivar o máximo possível. O valor em real nunca esteve tão alto.

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