Revista Exame

A supersafra e a supercrise

A capa desta edição mostra o ano fantástico no campo, com safra recorde de 250 milhões de toneladas de grãos e receita recorde de 728 bilhões de reais

A produtora Luciana Dalmagro: investimento em energia solar e em reúso de água abre mercados na Europa (Germano Lüders/Exame)

A produtora Luciana Dalmagro: investimento em energia solar e em reúso de água abre mercados na Europa (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2020 às 05h45.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h06.

O passar das semanas de pandemia segue escancarando uma dicotomia entre Brasília e o Brasil. No final de junho, o noticiário político foi tomado pelas descobertas sobre as falhas no currículo de Carlos Alberto Decotelli, o então escolhido para assumir o Ministério da Educação. O combo incluía uma suspeita de plágio no mestrado, a não conclusão de um doutorado na Argentina e a invenção de um pós-doutorado na Alemanha.

Dias antes, o ex-ministro da pasta, Abraham Weintraub, valera de um jeitinho para entrar nos Estados Unidos, driblando as barreiras de saúde impostas a viajantes brasileiros. Decotelli e Weintraub exemplificam a incompetência brasileira em levar a sério uma pauta tão essencial quanto a educação. Uma reportagem desta edição mostra como a falta de políticas públicas para o ensino fica ainda mais nítida na pandemia do novo coronavírus. Uma geração de jovens estudantes da rede pública, como Cauê Vitorasso, de Guarulhos, que sonha em estudar medicina, pode ficar ainda mais para trás com a falta de apoio e de ferramentas durante a quarentena.

A suspensão das aulas pode levar a uma perda de até 1,48 trilhão de reais para a economia brasileira, com efeitos no longo prazo que tendem a afetar sobretudo os estudantes da rede pública. O Brasil escanteia o ensino e dá pouco valor a projetos de longo prazo há gerações. Mas a falta de estratégia e de coordenação torna-se especialmente dramática agora. As respostas ruins à pandemia impulsionaram a crise de saúde que já matou 60.000 brasileiros — e que pode fazer o Brasil encolher até 9% neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional. Seria pior se não fosse por um setor que segue trabalhando, e produzindo, bem longe das disputas políticas: o agronegócio.

A reportagem de capa desta edição mostra o ano fantástico no campo, com safra recorde de 250 milhões de toneladas de grãos e receita também recorde de 728 bilhões de reais. Contamos a história de uma nova geração de empresários do campo que estão levando gestão e tecnologia ao agronegócio. Entre eles estão Maurício De Bortoli, no Rio Grande do Sul, Luciana Dalmagro, em São Paulo, Fabio Tardivo, em São Paulo e Minas Gerais, e Enio Fernandes, em Goiás. Eles planejam seguir investindo em inovação, mas esbarram numa limitação: menos de 40% da área rural tem sinal de 4G, um enorme entrave para o uso de inteligência artificial e hiperconectividade.

Outro entrave é a falta de atenção do governo à sustentabilidade. Os recordes de desmatamento na Amazônia levaram investidores que administram 3,75 trilhões de dólares a manifestar preocupação com a gestão ambiental do Brasil. No médio e no longo prazo, a imagem ruim do país nessa frente pode fechar mercados aos produtores rurais, sobretudo em regiões que aproveitaram a crise para reforçar seus compromissos ambientais, como a União Europeia. É quando Brasília atrapalha o superagronegócio.

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