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Brasil tem tudo para se dar bem com a nova China, diz economista

Helen Qiao, economista-chefe para a China do Bank of America Merrill Lynch, diz que o país asiático passa por uma transição

Helen Qiao: “A China não é mais o país que fabrica brinquedos e sapatos” (Fabiano Accorsi/Exame)

Helen Qiao: “A China não é mais o país que fabrica brinquedos e sapatos” (Fabiano Accorsi/Exame)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 05h00.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 09h02.

Ao longo dos últimos 15 anos, a economista Helen Qiao fez carreira em bancos de investimento em Hong Kong, acompanhando o mercado chinês. Hoje, ela lidera uma equipe de 12 analistas no banco americano Bank of America Merrill Lynch e é responsável pelos relatórios sobre a China. Numa passagem por São Paulo, ela falou a EXAME sobre a nova fase da economia chinesa e os impactos para o Brasil.

A China é vista como a fábrica do mundo. Isso vai mudar?

Sim. Existem duas tendências importantes na China. A primeira é que a economia está cada vez mais baseada no setor de serviços. Esse setor está crescendo num ritmo mais rápido do que o industrial, e isso já vem ocorrendo há vários anos. A segunda tendência é que a indústria chinesa se atualizou. O tipo de produto que a China exporta é cada vez mais sofisticado.

Qual é a fatia desses produtos sofisticados?

Máquinas e equipamentos já são a categoria de maior participação na indústria, incluindo as exportações. A China não é mais um país que exporta brinquedos, guarda-chuvas, vestuário, sapatos etc. Essa não é mais a China de hoje. A nova China produz computadores, celulares, máquinas. Estamos vendo uma transição. A China está deixando que os outros países emergentes fabriquem os produtos de baixo valor que ela fazia. A China, em si, está buscando o próximo degrau na cadeia de valor global.

Qual é o impacto dessa transição para os demais países?

Haverá vencedores e perdedores. A China vai se tornar cada vez mais um competidor à altura de Coreia do Sul, Taiwan e Japão, países que serviram de modelo para ela. A China possivelmente assumirá o lugar deles. Os países desenvolvidos vão se sentir mais ameaçados pela China do que os emergentes.

De que lado o Brasil está?

O Brasil está muito bem posicionado para se beneficiar dessa transição. O Brasil tem uma economia que é igualmente influenciada pelo aumento do consumo interno chinês e pelo investimento em infraestrutura. A China vai precisar importar mais produtos do que o Brasil fornece.

Que tipo de produto?

Aqueles ligados à agricultura, como grãos de soja. A China ainda importa mais soja dos Estados Unidos do que do Brasil, mas há potencial para inverter essa situação. Também vemos potencial para um aumento na exportação de aves e carne bovina para a China. Água potável e área cultivável são recursos escassos por lá. E esse é o tipo de recurso em que o Brasil é rico. Basicamente, a China está importando luz solar, água potável e terra cultivável ao importar produtos do campo.

Há espaço para o Brasil exportar produtos industriais à China?

Não muito. A China é muito dominante nessa área. Mas provavelmente investidores chineses virão ao Brasil para começar a exportar manufaturados do Brasil, seja para países da América do Sul, seja para a América do Norte.

A economia brasileira se beneficiou do crescimento chinês na década de 2000 e no início de 2010. Isso voltará a acontecer?

Sim. Se olharmos para os preços de commodities, já estamos vivendo outro boom agora. Mas há uma diferença desta vez. A China está dando ênfase à proteção ambiental. O governo está pressionando as empresas para se tornarem mais limpas. Como isso influencia o Brasil? Há um aumento da demanda por matérias-primas de qualidade superior e menos poluentes, como minério de ferro. Brasil e Austrália levam vantagem nisso.

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