Revista Exame

Oi está à espera de 12 bilhões de reais

Endividada, a Oi cortou os investimentos e parou de crescer. Agora, aguarda o aporte bilionário do novo sócio, a Portugal Telecom, para retomar a expansão

Falco, presidente da Oi: “vida normal” a partir do ano que vem (Marcelo Corrêa/EXAME.com)

Falco, presidente da Oi: “vida normal” a partir do ano que vem (Marcelo Corrêa/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.

Luis Eduardo Falco, presidente da Oi, deixou a sede da empresa, no Rio de Janeiro, para um encontro inédito em São Paulo, no último dia 11 de novembro. Ao lado de Pedro Jereissati, vice-presidente do grupo La Fonte (um dos maiores acionistas individuais da Oi), de outros cinco conselheiros da empresa e de seus principais executivos, tinha a missão de apresentar os resultados do terceiro trimestre e discutir com cerca de 250 investidores e analistas as perspectivas de futuro no evento chamado Oi Investor’s Day, o primeiro já feito pela empresa. O retrato que tinham para apresentar não era dos mais animadores.

Em 2010, a Oi estacionou. No final de setembro, possuía 62,4 milhões de clientes, praticamente o mesmo patamar registrado em 2009. Ao longo deste ano, a empresa perdeu participação em todas as suas principais frentes de atuação — telefonia fixa, internet banda larga e celular. Como consequência, as receitas avançaram 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado. E, a essa altura, já se sabe que este será um dos anos de menor crescimento da empresa. “Sabíamos que a Oi tinha de reduzir seu endividamento, mas não esperávamos uma paralisia tão grande”, diz o americano Michel Morin, analista de telecomunicação da Barclays Capital. Na tentativa de melhorar o ânimo dos analistas, Falco afirmou à plateia: “O objetivo era aumentar a rentabilidade, e isso nós fizemos. No ano que vem, a vida voltará ao normal”.

Por trás da estagnação está uma empresa sem fôlego para investir. Às voltas com a digestão da Brasil Telecom, comprada em 2008 e que resultou na maior companhia de telecomunicações do país, a Oi iniciou 2010 com a missão clara de diminuir sua dívida, que chegava a 21,9 bilhões de reais, equivalente a 2,4 vezes sua geração de caixa anual e mais de cinco vezes a de concorrentes como Vivo. Para manter as finanças sob controle, os investimentos caíram pela metade em relação ao mesmo período do ano passado. Até setembro, 1,4 bilhão de reais foram injetados na operação. O aperto ajudou a reduzir a dívida para 19,3 bilhões de reais — equivalente a 1,9 vez a geração de caixa, mas ainda acima da média dos rivais.

Nessa situação, a longa fase de vacas magras só deverá acabar com a chegada de um impulso bilionário do novo sócio, a Portugal Telecom — que, em julho, acertou a compra de 22,4% de participação na Oi, numa transação que será acompanhada por dois aumentos de capital no valor total de 12 bilhões de reais. Ao final da operação, aguardada para o primeiro trimestre do ano que vem, pelo menos 7 bilhões de reais entrarão para reforçar o caixa da companhia. Parte desse dinheiro já tem destino certo: a ampliação da rede de transmissão de dados, para linhas fixas e celulares. “É um mercado de capital intensivo. Sem investimento não há como crescer”, diz Luiz Azevedo, analista de telecomunicação do banco Bradesco.


Alternativas

Para administrar a falta de dinheiro que marcou 2010, a Oi teve de procurar fontes de receita alternativas — renegociou dívidas, buscou pelo menos 2,6 bilhões de dólares em linhas de crédito mais baratas no exterior e usou até mesmo seus imóveis para levantar recursos. Em agosto, transferiu 260 imóveis próprios para subsidiárias e acertou com os bancos Itaú e Safra a criação de um fundo com base no aluguel que passaria a pagar para ocupá-los. Com isso, conseguiu levantar 1,6 bilhão de reais. Para não deixar a própria rede totalmente sem investimentos, a Oi terceirizou o serviço de instalação de fibras ópticas. Coube a esses parceiros, empresas como a chinesa Huawei, bancar grande parte dos 800 milhões de reais investidos na expansão da rede de banda larga da operadora, que neste ano chegou a 1 300 novas cidades. Em troca, essas empresas passaram a alugar o serviço para a Oi. “Foi uma forma de aliviarmos a necessidade de investimentos”, diz João Silveira, diretor de mercado da Oi.

Embora sua participação tenha caído em todas as frentes, a perda mais inesperada — e preocupante — veio da telefonia móvel. Juntas, TIM, Vivo e Claro conquistaram neste ano 19 milhões de clientes. No mesmo período, a Oi ampliou em apenas 1,5 milhão número de linhas — e perdeu 1,35 ponto percentual, chegando aos atuais 19,35%. Embora em números absolutos possa parecer pouco, 1 ponto percentual no mercado de telefonia móvel equivale a cerca de 670 milhões de reais. “Mesmo sem a entrada de novos competidores, a Oi perdeu participação num de seus mercados de maior potencial de crescimento, a telefonia móvel”, diz Leonardo Nitta, analista de telecomunicações do Banco do Brasil. O segmento merecerá atenção especial da companhia a partir do ano que vem, sobretudo com investimentos em sua rede de transmissão de dados com a tecnologia 3G. Hoje, os serviços de dados, que incluem internet fixa e móvel, representam apenas 23% do faturamento atual da Oi, mas, nas contas da empresa é daí que virá mais de 70% de todo o crescimento de receita nos próximos três anos.

Quando finalmente receber o dinheiro da PT, a Oi encontrará um mercado com concorrentes ainda mais fortalecidos. A Vivo fará sua integração com a Telefônica, passando a Oi como a maior empresa de telecomunicações do país. E o bilionário mexicano Carlos Slim já deu os primeiros passos para unir suas empresas Embratel, Claro e Net no país. Paralelamente, a Oi pretende tirar enfim do papel seu plano de expansão internacional — uma promessa feita com o anúncio do negócio com a Brasil Telecom e a criação da chamada supertele brasileira (que hoje, ironicamente, tem uma operadora portuguesa como sua maior acionista). Na época, a meta era que a empresa chegasse a 30 milhões de clientes no exterior em cinco anos, principalmente por meio de aquisições. Quase três anos mais tarde, nada aconteceu. Para Falco, a tal “vida normal” a partir do ano que vem não parece que será muito fácil.

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