Obra da Odebrecht: a empresa, hoje com um terço do quadro de funcionários que já teve, passa por um dramático processo de depuração e tentativa de sobrevivência | Germano Lüders / (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2018 às 05h00.
Última atualização em 21 de junho de 2018 às 05h00.
Pela sétima semana consecutiva, no dia 18 de junho, o Focus, um boletim publicado pelo Banco Central com uma média de previsões de especialistas, mostrou que o ímpeto de recuperação da economia brasileira minguou. Ficou para trás uma fase de esperança de reação mais forte — antes, as projeções dos especialistas haviam subido ou se mantido estáveis por 26 semanas, chegando a antever uma expansão de 3% no ano. Agora, o prognóstico é de um crescimento do produto interno bruto de menos de 1,8% neste ano e 2,7% no próximo. Mas ninguém mais acredita de fato nesses números diante da incerteza criada a respeito do rumo que o país tomará após as eleições.
A reversão da curva de expectativas é um indicador de como o Brasil está penando para sair do poço em que caiu. O problema não é só a economia. Há um desencanto generalizado com a política e com a exposição das entranhas da corrupção — marca infeliz da nossa história, e que num período recente parece ter tomado proporções jamais alcançadas antes na vida nacional. Um lado alentador é o próprio fato de muitos pecados estarem sendo revelados, criando em alguma medida a chance de ser expiados e, quem sabe, deixados para trás.
Isso que está acontecendo com o país ocorre em estágio mais avançado com empresas que foram protagonistas da fase de fastio com o dinheiro público. Uma das mais simbólicas desse período em que sonhos faraônicos se combinaram com o capitalismo de compadres e alimentaram esquemas escusos é a Odebrecht. Junto com outras empreiteiras, ela foi uma das que mais se aproveitaram das oportunidades de multiplicar obras muitas vezes questionáveis, como os estádios erguidos para a Copa de 2014 e os estaleiros amparados numa reserva de mercado.
Alvejada em cheio pela Operação Lava-Jato a ponto de ter seu então presidente preso em Curitiba, a empresa passa por um dramático processo de regeneração. A reportagem de capa desta edição, coordenada pelo editor executivo Lucas Amorim e com apuração a cargo das repórteres Denyse Godoy e Karin Salomão, mergulha na situação da Odebrecht: sua batalha para renegociar dívidas, seu empenho para enterrar a velha cultura e gestar uma nova, sua tentativa de continuar a fazer negócios. Internamente, o clima ainda é tenso e há muita coisa em aberto, incluindo a própria gestão. Mas é notável que a organização, que já teve mais de 180.000 empregados e hoje está com um terço disso, faz um grande esforço. Outras empreiteiras e empresas de setores diversos passam pelo mesmo processo.
Muitas fábricas e escritórios foram fechados, muita gente perdeu o emprego — infelizmente, tal depuração não ocorre sem sofrimento. E ainda não dá para saber os resultados que vão ficar. Uma coisa é certa: não é do interesse de ninguém que empresas como a Odebrecht morram. O que precisa ser sepultado é o jeito viciado de fazer negócio que ela e outras usaram no passado para crescer. Isso precisa acabar para dar lugar ao novo. O Brasil sairá ganhando se a mudança vingar. EXAME estará atenta como sempre, para acompanhar, informar e analisar o que for feito — torcendo pela reconstrução.