(Victor Vilela/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.
O Brasil vive uma revolução que une o agronegócio e a indústria. Em dez anos, a produção de biocombustíveis cresceu quase 40%, chegando ao patamar histórico de 43 bilhões de litros entre etanol e biodiesel. E estamos somente no começo.
Com a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, que aumentou o percentual de mistura do etanol na gasolina, a expectativa é que o setor salte dos 36 bilhões de litros de etanol para 59 bilhões até 2037.
No próximo ano, a oferta de etanol de milho deverá saltar dos 8 bilhões de litros na safra 2024/25 para 10 bilhões de litros na safra 2025/26, segundo a Datagro Consultoria.
Para o biodiesel, que utiliza a soja como principal componente da mistura, a Datagro estima um crescimento de 10% na demanda em 2025, impulsionado pela elevação da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, que passará de 14% para 15% no ano que vem — o aumento resultará em um consumo estimado de 10,3 bilhões de litros no próximo ano, ante os 9,3 bilhões atuais.
Em relação à cana-de-açúcar, a previsão é de estabilidade, com a produção mantendo-se em 23,5 bilhões de litros tanto em 2024/25 quanto em 2025/26.
A nova lei estabelece que o percentual de etanol na gasolina seja fixado em 27%, com possibilidade de ajustes entre 22% e 35% pelo Poder Executivo, de acordo com as condições do mercado. Atualmente, a mistura pode chegar a 27,5%, com um mínimo de 18%.
No caso do biodiesel, a mistura de 14%, vigente desde março deste ano, será aumentada gradualmente a partir de 2025, com acréscimos de 1 ponto percentual ao ano, até atingir 20% em 2030. Além disso, a legislação traz incentivos para o diesel verde e o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).
Além dessas commodities tradicionais, há expectativas em relação a outras matérias-primas. No Rio Grande do Sul, está prevista para o final de 2025 a inauguração de uma usina de etanol de trigo capaz de produzir 209 milhões de litros por ano.
Na Bahia, a Acelen investirá 3 bilhões de dólares em uma biorrefinaria para produzir óleo de macaúba, uma planta nativa do Cerrado. A empresa planeja expandir o projeto, com a criação de até cinco polos para o desenvolvimento da cultura em todo o Brasil, incluindo a construção de outras biorrefinarias.
Para Daniel Furlan Amaral, diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o agronegócio brasileiro está preparado para um boom no setor de biocombustíveis, abrangendo da produção às máquinas agrícolas.
“Além do aumento no esmagamento de soja e na industrialização do milho para produzir DDG, etanol e óleo, bem como o uso da cana-de-açúcar, estamos observando o desenvolvimento de outras culturas, como canola, girassol, carinata, macaúba e palma”, afirma Amaral.
Os segmentos automotivos e o de equipamentos, aponta o especialista, estão atentos às oportunidades oferecidas pelos biocombustíveis, trabalhando para integrar essas soluções sustentáveis em suas operações e produtos.
O próximo ano será crucial para a indústria de biocombustíveis. E isso não é pouco. A Agência Internacional de Energia (AIE) afirma que a oferta desses combustíveis sustentáveis crescerá em 38 bilhões de litros até 2028, e 40% disso virá do Brasil. É muito bem-vinda a corrida entre todos os biocombustíveis.