Dilma Rousseff: está em suas mãos preparar o terreno para mais um ciclo de crescimento do país (Cristiano Mariz/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2013 às 17h21.
São Paulo - Na política e na economia — como na vida — é comum os fatos serem reavaliados à medida que o tempo passa. O presidente José Sarney acabou o mandato com uma inflação anual de 1 800%, mas hoje também é lembrado como o guardião da redemocratização. No dia da votação do impeachment de Fernando Collor, cerca de 500 000 pessoas foram às ruas pedir sua cassação.
Duas décadas depois, ninguém se esqueceu das denúncias de corrupção em seu governo, mas até seus inimigos reconhecem seu papel na abertura da economia brasileira. Como já se disse sobre avaliações a respeito de mandatos presidenciais, o legado é uma questão a ser avaliada por quem ainda nem nasceu.
Passados dois anos e meio da posse da presidente Dilma Rousseff, discutir como ela entrará para a história é pura especulação. O que parece evidente a esta altura do campeonato é que seu governo patina. Dilma não conseguiu deixar uma marca — pelo menos não uma marca positiva.
Em favor da presidente, seus defensores podem dizer que ela mudou as regras de remuneração da poupança, abrindo caminho para a queda dos juros. Podem lembrar do novo regime de previdência complementar dos servidores públicos federais, que deve reduzir o déficit da previdência social, e das regras que prometem aumentar a competição no setor portuário.
Essas medidas foram inegavelmente um avanço, mas nenhuma delas tem relevância o suficiente para ser classificada como o marco de uma gestão — pelo menos não em comparação ao legado dos últimos presidentes. Colocados na balança, os efeitos negativos do governo Dilma até agora pesaram mais do que seus acertos.
Nos últimos dois anos, a economia cresceu a uma taxa anual média de mero 1,8% — ante 4% nos anos Lula e 2,3% na gestão Fernando Henrique Cardoso. O combate à inflação foi relaxado pela primeira vez desde o Plano Real e o índice de preços vem batendo continuamente no teto da meta fixada pelo Banco Central — a expectativa é que a ultrapasse em junho.
A política fiscal perdeu tanta credibilidade que a agência de avaliação de riscos S&P sugeriu rebaixar a nota do país nos próximos dois anos. Com tudo isso, não chega a ser surpresa que os empresários estejam inseguros. “O desalento é grande. Até um tempo atrás, não era preciso muito para convencer os investidores a aplicar no país.
Como se diz no mercado financeiro, o Brasil era comprado. Agora precisa ser arduamente vendido”, diz o presidente de um banco, que prefere não ter seu nome revelado. No meio empresarial, a tônica é a crise de confiança. “O governo tem sido marcado por baixo investimento, frustração e má gestão”, afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.
Há, também, um sentimento de dúvida sobre os rumos da política econômica. Na mesma semana de junho em que o Ministério da Fazenda deu sinais de preocupação com a questão fiscal, a presidente Dilma anunciou o que muitos estão chamando jocosamente de “Minha Geladeira, Minha Vida”, um programa de 18,7 bilhões de reais com dinheiro do Tesouro para a compra de eletrodomésticos.
Esse é o governo que, em agosto passado, lançou um programa de concessões na área de infraestrutura avaliado em 133 bilhões de reais mas até agora não conseguiu tirar nada do papel. Fez pior. Passou os últimos meses numa inútil disputa com os empresários sobre qual deveria ser a taxa de retorno das rodovias — um sinal de que é a favor de uma solução de mercado para o problema da infraestrutura, pero no mucho.
Arno Augustin, secretário do Tesouro, foi considerado um dos principais opositores ao pleito de aumentar a taxa. “Ele chegava no meio de uma reunião, falava que o percentual de retorno não ia subir e os outros representantes do governo começavam a discutir aquilo como se fosse uma ordem dada pelo Espírito Santo”, diz um executivo que participou dos encontros.
Oito meses depois, o governo cedeu e autorizou pedágios em torno de 10 reais, justamente o que as empresas pediam desde o início. “O problema desse aprendizado em ritmo de marcha fúnebre é que o cenário internacional está mudando rapidamente”, afirma João Augusto de Castro Neves, analista sênior da consultoria Eurasia Group, especializada em riscos políticos.
Lula viveu o melhor momento para os países emergentes, mas a maré mudou. Com a Europa em crise, a China em desaceleração e a perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos, os tempos de dinheiro fácil parecem contados.
É importante notar que boa parte do mau humor recente dos investidores com o país — a bolsa brasileira perdeu 8 bilhões de reais em investimento estrangeiro em 30 dias e está em seu nível mais baixo desde 2011 — deve-se em larga medida aos nossos próprios erros. Trata-se de um dano autoinfligido.
O Banco Central contava com uma reputação excelente — até o governo Dilma. Hoje, ninguém mais sabe quem manda por lá, se o presidente Alexandre Tombini, o ministro Guido Mantega ou a própria Dilma. As estatísticas sobre as contas públicas eram respeitadas até o governo criar a tal “contabilidade criativa”, que consiste em esconder gastos que efetivamente aconteceram.
Está ao alcance das mãos do governo, portanto, reverter o mau momento. Como mostramos a seguir, há um conjunto de ações capaz de pavimentar o crescimento — e, de quebra, dar uma injeção de ânimo ao país.
Mesmo com as constrangedoras vaias na abertura da Copa das Confederações em Brasília, Dilma, com 57% de aprovação, ainda tem uma popularidade recorde. Isso pode levá-la a pensar que não é necessário mudar nada. Se for por esse caminho, a presidente cometerá um erro imperdoável.
Não tanto por questões puramente eleitorais — ninguém tem condições de afirmar hoje nada mais concreto sobre a corrida presidencial de 2014. Mas pelo risco de simplesmente passar em branco. Após as presidências marcantes de Fernando Henrique e Lula, é a vez de Dilma recolocar o país na rota do crescimento. O tempo está correndo.