Revista Exame

Os noruegueses têm R$ 12 bilhões para o Brasil

É quanto o fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, pretende aplicar em ações e títulos públicos aqui até o fim do ano, segundo seu principal executivo de investimentos

Trond Grande, vice-presidente do Norges Bank Investment Management (Vegard Giskehaug/EXAME.com)

Trond Grande, vice-presidente do Norges Bank Investment Management (Vegard Giskehaug/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2013 às 20h11.

São Paulo - Os fundos soberanos, como são conhecidas as instituições responsáveis por administrar o dinheiro de governos, tornaram-se protagonistas do mundo das finanças na última década. Impulsionados pela alta no preço do petróleo e por suas exportações, países como China e Emirados Árabes foram às compras — tornaram-se sócios, por exemplo, de bancos como o Morgan Stanley e de fundos como o Blackstone.

Nenhum desses fundos soberanos é tão poderoso e discreto quanto o Government Pension Fund Global, da Noruega. Hoje, tem 716 bilhões de dólares sob gestão, mais que o produto interno bruto da Suíça. Detém 1% das ações negociadas nas bolsas mundiais. Sua estratégia é investir em ações e títulos públicos, que podem ser negociados com rapidez. Imóveis respondem por uma pequena parte da carteira.

Com isso, embora tenha perdido quase um quarto do patrimônio durante a crise de 2008, o fundo soberano norueguês valorizou cerca de 50% desde então. Capitalizado com o dinheiro do petróleo (a Noruega é o sétimo maior exportador mundial), o fundo está revendo sua estratégia de aplicação para depender menos da Europa e aplicar mais em países emergentes, diz Trond Grande, responsável pelos investimentos do fundo e vice-presidente do Norges Bank, que administra a carteira.

O Brasil entrou na mira do maior fundo soberano do mundo e o novo plano prevê uma aplicação de 12 bilhões de reais aqui nos próximos meses. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

EXAME - Os investidores estrangeiros, de forma geral, estão pessimistas com o Brasil. Por que o senhor pensa de forma diferente?  

Trond Grande - Começamos a investir em títulos do governo brasileiro no ano passado. A relação entre o endividamento do governo e o PIB é boa, especialmente frente à média mundial. Hoje, o risco de investir em papéis públicos no Brasil é baixo, e os retornos são interessantes.

Os juros caíram, mas permanecem elevados, também numa comparação global. No mercado de crédito privado, temos papéis de empresas com grau de investimento, como a mineradora Vale, mas esse tipo de título responde por uma parte menor de nossa carteira. Preferimos os papéis públicos, que têm mais liquidez.

EXAME - As perspectivas também são positivas para a bolsa?

Trond Grande - O Brasil tem uma das maiores bolsas do mundo, e estamos em meio a um processo para recalibrar nossa carteira de investimentos para que ela reflita a nova realidade de mercado depois da crise de 2008. Estávamos com muitas aplicações na Europa e poucas nos paí­ses emergentes, que são interessantes hoje.


Nosso plano, que começou a ser colocado em prática em julho de 2012, é aumentar a fatia dos mercados emergentes na carteira de 6% para 10% do total até o fim deste ano. A participação do Brasil na carteira dos emergentes é de 23% — e essa proporção deve ser mantida.   

EXAME - Ou seja, o fundo aplica hoje 18 bilhões de reais no Brasil e poderia aplicar 30 bilhões. A desaceleração da economia e a queda do lucro de muitas empresas brasileiras não assustam?

Trond Grande - O fundo faz investimentos de longo prazo, e projeções de mercado de curto prazo não afetam nossa estratégia. Além disso, não escolhemos países para investir em razão do crescimento  econômico. Procuramos bons ativos.Historicamente, não há uma relação comprovada entre expansão do produto interno bruto e retorno nas bolsas de valores.

Outro fator importante em relação aos países emergentes diz respeito ao risco cambial. Nossas novas análises mostram que nossa exposição a esse risco é menor do que estimávamos. Por isso, queremos aumentar nossos investimentos em diferentes moedas, como o real.  

EXAME - O fundo teve uma desvalorização de 23% em 2008. O desempenho ruim provocou mudanças na carteira de investimentos?

Trond Grande - Sim. Passamos a ser mais restritivos nos limites de alavancagem e no uso de aplicações nos mercados futuros. Mas não ficamos mais conservadores. Tínhamos definido em julho de 2007 que a participação de ações da carteira do fundo iria aumentar de 40% para 60%.

Essa nova política foi efetivada ao longo de dois anos, até os primeiros meses de 2009. Ou seja, o fundo aumentou sua exposição à bolsa durante a fase mais aguda da crise. E deu certo. Em 2009, tivemos um retorno recorde de 26%, por exemplo. No ano passado, a valorização foi de 10%. Outra mudança diz respeito a imóveis: vamos aplicar mais nesse mercado daqui para a frente.  

EXAME - Por que colocar mais dinheiro no mercado imobiliário? A falta de liquidez não é um problema? 

Trond Grande - Tudo depende do preço. Começamos a investir nesse mercado em 2010, só na Europa, quase como um teste. Agora, achamos que há oportunidades em outras regiões, inicialmente em países desenvolvidos. O primeiro passo foi dado nos Estados Unidos em fevereiro deste ano (o fundo comprou prédios de escritórios em Nova York, Washington e Boston por 1,2 bilhão de dólares).

Mais adiante, os investimentos provavelmente incluirão outros países, como o Brasil. O plano é reduzir a participação de títulos de renda fixa na nossa carteira de 40% para 35%, já que os retornos estão baixos com a redução dos juros em muitos mercados, e aplicar essa sobra em imóveis para elevar as taxas de retorno. 

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