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Políticos fazem US$ 1 tri ir para o lixo em infraestrutura

Para o diretor global de infraestrutura da consultoria McKinsey, o Brasil gastaria um terço menos com obras se os projetos não fossem alvo de interferência política

Robert Palter, da McKinsey: “A maioria dos projetos não tem viabilidade econômica” (Divulgação)

Robert Palter, da McKinsey: “A maioria dos projetos não tem viabilidade econômica” (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2014 às 06h00.

Rio de Janeiro - O canadense Robert Palter, diretor global de infraestrutura da consultoria americana McKinsey, fez as contas e concluiu: o mundo investirá 57 trilhões de dólares em infraestrutura até 2030 para sustentar o crescimento econômico. No Brasil, serão 3 trilhões de dólares.

Um terço desse dinheiro deverá ser perdido para a ineficiência, que começa na interferência política. Palter diz, porém, que vários governos do mundo têm conseguido ganhos de eficiência no planejamento e na execução de obras. Os bons exemplos geralmente contam com estruturas públicas especializadas em infraestrutura, a salvo da pressão política.

1) EXAME - No Brasil, as obras não costumam cumprir prazo e orçamento. Por que somos tão ineficientes?

Robert Palter - Há várias razões, e elas não são exclusivas do Brasil. Em geral, a seleção dos projetos tem como base motivações políticas. Com isso, a maioria dos projetos não tem viabilidade econômica. As contratações governamentais também são problemáticas, pois não favorecem a inovação.

2) EXAME - Por que os governos inibem a inovação?

Robert Palter - Os processos de concorrência nas obras foram pensados para reduzir o risco de corrupção. Todas as informações de uma concorrência têm de ser compartilhadas entre os competidores. Mas isso gera um problema: se alguma empresa quiser usar uma nova tecnologia, essa informação terá de ser repassada aos concorrentes. Resultado: adeus, inovação.

3) EXAME - Mas como resolver isso?

Robert Palter - Permitindo que as concorrentes apresentem suas ideias individualmente. Para isso, é preciso ter uma terceira parte idônea e imparcial que acompanhe o processo. Isso é possível, e já é feito em Nova York e em Ontário, no Canadá.

4) EXAME - Em seu estudo global, o senhor mostra que o setor de construção civil não ganhou produtividade nos últimos 25 anos. Por quê?

Robert Palter - As leis trabalhistas e de segurança aumentaram muito os custos das obras nos últimos 25 anos. Há lugares em que os sindicatos definem a atividade que cada empregado pode desempenhar. Se um funcionário falta, outro não pode assumir seu lugar, e o trabalho é paralisado. 

5) EXAME - Há governos realmente eficientes no planejamento e na execução de obras?

Robert Palter - Sim. A província de New South Wales, na Austrália, e a de Ontário, no Canadá, conseguem. Várias cidades da Coreia do Sul também. Esses governos contam com órgãos que têm equipes especializadas em infraestrutura e que não sofrem interferência política. O trabalho delas é selecionar os projetos, financiá-los, negociar com construtores e monitorar as obras até a entrega. 

6) EXAME - Como se mede a eficiência de uma organização dessas?

Robert Palter - Em sete anos de existência, a Ontario Infrastructure, responsável pelas obras da província, descumpriu o prazo e o orçamento em apenas um único projeto. Creio que esse é um bom parâmetro.

7) EXAME - O que o senhor diria sobre o Brasil a seus clientes investidores?

Robert Palter - O Brasil tem elementos fundamentais para atrair investimento: urbanização, expansão da classe média e a necessidade de melhorar sua infraestrutura para conseguir crescer. Mas, como em toda decisão de investimento, é preciso identificar os riscos políticos, econômicos e regulatórios.

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