Brunello Cucinelli: aposta por um "capitalismo consciente" e relacionamento com bilionários (Brunello Cucinelli/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 17 de outubro de 2021 às 08h37.
Última atualização em 17 de outubro de 2021 às 10h52.
O visual básico de Mark Zuckerberg -- que segue, em certa medida, os passos de Steve Jobs -- já foi alvo de diferentes estudos, trazendo à luz a ideia de simplicidade aliada à necessidade de tomar decisões importantes. Contudo, não é por ser básico que o estilo do fundador do Facebook estaria num campo acessível para meros mortais. Uma das marcas preferidas dele é a Brunello Cucinelli, marca de alta costura italiana fundada há 40 anos, cujas camisetas podem chegar a custar 2,6 mil reais.
Mas, mais do que gastar muito dinheiro em itens básicos de moda, um fator que aproxima o bilionário da marca pode estar muito mais relacionada à "filosofia" que a marca prega. Entusiasta do movimento "slow fashion" (que prega consumo mais consciente), Cucinelli acredita em um capitalismo mais humano.
Conhecido como "o rei do cashmere", o fundador da marca tem um império avaliado em mais de 3 bilhões de euros e que emprega, aproximadamente, 7 mil pessoas. "Eu quero trabalhar com pessoas verdadeiras e honestas. Se eles algum dia estiverem preocupados, eu quero perceber isso claramente. Se estiverem felizes, eu quero compartilhar a felicidade deles", afirmou o empresário à revista Fortune.
Para isso, mesmo vestindo bilionários, ele tomou algumas decisões importantes acerca da própria marca. Entre as mais relevantes, estão: jornadas de oito horas diárias, em que telefonemas após o expediente são proibidos, valorização do trabalho manual (de costureiras, por exemplo), optar pela produção local italiana -- mais especificamente, da região da Úmbria -- e o próprio investimento realizado na região para revitalizar o local.
Em 2016, o empresário italiano promoveu um "bônus cultura" para todos os trabalhadores: a empresa reembolsou a compra de livros, ingressos em cinemas, teatros e museus até 500 euros para os solteiros e 1.000 para quem tem família. "A cultura é o fundamento da criatividade, e a criatividade é fundamental para nós", afirma. "São Bento, que nasceu em Norcia, aqui perto, sempre dizia 'cuida a cada dia da mente com o estudo, e da alma com a oração e o trabalho'. Hoje trabalhamos demais. Estamos permanentemente conectados, e é preciso descansar para ser criativo", diz.
Ainda como parte desse compromisso de um capitalismo mais consciente, Cucinelli aproveita o que a parceria com os bilionários tem de melhor a oferecer. Em 2019, reuniu alguns deles em um evento, denominado "Solomeo Summit" (por ser realizado na cidade em que a marca está sediada), a fim de conversar em meio à natureza e discutir, entre outros tópicos, como tornar o mundo um lugar melhor. Na última edição, realizada em 2019, estiveram presentes: Reid Hoffman, cofundador do LinkedIN, o ex-CEO do Twitter, Dick Costolo, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos.
Em entrevista recente ao The Wall Street Journal, Bezos inclusive compartilhou alguns conselhos com Cucinelli. "Ele disse: 'normalmente eu tomo decisões importantes por volta das 10h30 da manhã. Eu discuto sobre o assunto um dia antes, durmo pensando nisso e, pela manhã, eu realmente tomo a decisão que tem de ser tomada", disse Cucinelli ao jornal.
O fundador da marca de luxo disse, ainda, que esse foi um conselho particularmente útil durante a pandemia, uma época em que a marca foi sobrecarregada com US$ 34 milhões em mercadorias excedentes depois que as lojas físicas tiveram de fechar. De acordo com o WSJ, Cucinelli doou o estoque excedente para organizações ao redor do mundo, com o objetivo de fazê-las chegar aos mais necessitados.
Aparentemente, deu certo: em um setor altamente motivado pela rotina presencial, a empresa sofreu pouco em 2020: faturou 544 milhões de euros, queda de 10,5% em relação ao ano anterior. De acordo com informações divulgadas recentemente, a marca não demitiu ninguém e também não reduziu salários no último ano.