dom Pedro I: veja 7 curiosidades sobre o imperador que declarou a Independência do Brasil (Bildagentur-online/Universal Images Group/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 12h49.
Última atualização em 22 de agosto de 2022 às 13h09.
Nascido em 1798, ele teve de sair às pressas de Portugal para o Brasil, quando tinha pouco mais de 9 anos, fugindo das guerras napoleônicas. Filho de d. João VI de Portugal e de Carlota Joaquina, ele passou a adolescência no Brasil e ficou conhecido por seu jeito agitado. Adorava atividades físicas, era polêmico e aprendeu a tocar instrumentos musicais, como flauta e violino. Há quem diga que era hiperativo.
Os ataques epiléticos teriam começado quando tinha cerca de 13 anos, no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, o marquês de Valada escrevia ao marquês de Aguiar dizendo: “O nosso adorado príncipe tinha sofrido em um dia três ataques sucessivos de acidentes, padecendo pela primeira vez a mesma enfermidade da Sereníssima Senhora Infanta d. Isabel Maria”. Por ocasião das solenidades pelo aniversário de dom João VI, em 13 de maio de 1816, na revista às tropas, todo o público presenciou o ataque epiléptico sofrido pelo príncipe.
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A primeira esposa de d. Pedro foi Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha do imperador austríaco Francisco I. Leopoldina era cunhada de Napoleão: a irmã tinha sido casada com o imperador francês.
Era uma verdadeira princesa, gostava de botânica e era amiga de Shubert e de Goethe. Apesar de todo o requinte, foi humilhada pelas muitas traições de dom Pedro. A mais conhecida amante do imperador foi Domitila de Castro Canto e Mello, que ganhou o título de marquesa de Santos.
O romance da marquesa com o imperador, que começou um mês antes da proclamação da Independência, se tornou público e virou um escândalo. Em um perfil de dom Pedro I, de autoria da historiadora Isabel Lustrosa, ela narra a turbulenta vida amorosa do imperador: "mal se iniciara o romance com Domitila, o 'insaciável estróina', como o chama um biógrafo, já se metia sob os lençóis de Maria Benedita, irmã mais velha da amante e casadacom Boaventura Delfim Pereira".
No perfil que escreveu sobre o imperador, Isabel Lustosa diz que "Pedro I foi um governante muito à frente da elite brasileira do seu tempo. Ele afrontou os valores da escravidão, combatendo com vigor o hábito de alguns funcionários públicos de mandar escravos para trabalhar em seu lugar; concedendo lotes aos escravos que libertou na Fazenda de Santa Cruz; no Rio de Janeiro e na Bahia, onde os ricos circulavam em liteiras e qualquer pessoa que pudesse ter dois escravos tinha condições de se fazer transportar pelas ruas numa rede amarrada num pau que os escravos sustentavam nos ombros, lembra Macaulay, d. Pedro andava a cavalo ou circulava numa carruagem puxada por cavalos ou mulas e dirigida por ele mesmo; e, como foi visto, não permitiu que seus súditos lhe prestassem a homenagem tradicional de carregar sua carruagem nas costas por ocasião do Fico".
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Em 1831, dom Pedro I, após quase dez anos no trono, abdicou em favor de seu filho Pedro de Alcântara, que viria a ser conhecido como d. Pedro II. Era uma renúncia em que cedia à pressão da elite política então insatisfeita com seu reinado. A economia ia muito mal.
De volta a Portugal, ele escreveu uma série de cartas para o filho que, até hoje, parecem atuais. Já pressentindo as mudanças que aconteceriam no futuro, ele aconselhava dom Pedro II.
No perfil de Isabel Lustosa, há menção a alguns trechos de cartas. "É mui necessário, para que possas fazer a felicidade do Brasil, tua pátria de nascimento e minha de adoção, que tu te faças digno da nação sobre que imperas, pelos teus conhecimentos, maneiras etc., pois, meu adorado filho, o tempo em que se respeitavam os príncipes por serem príncipes unicamente acabou-se; no século em que estamos, em que os povos se acham assaz instruídos de seus direitos, é mister que os príncipes igualmente o estejam e conheçam que são homens, e não divindades", disse em uma delas.
Desde que deixou o país, dom Pedro I não escondia a saudade que sentia do país. Em cartas, ele sempre lembrava que era brasileiro tanto quanto português e que, a cada dia, a distância o maltratava mais.
Em uma delas, escrita para dom Pedro II e relatada no perfil de Isabel Lustosa, ele diz “O Brasil é também meu filho. Não és somente tu”; “O Brasil, tua pátria de nascimento e a minha de adoção”. Em outra, lembra a abdicação ao trono: “Hoje faz 11 anos que os brasileiros me pediram que ficasse no Brasil, e quem me diria a mim que neste ano me acharia tão longe? País que amo tanto como eu amo a ti”.
Na mesma carta em que agradece os desenhos dos filhos, pede que da próxima vez façam-nos de alguma vista que ele conheça, pois seu prazer, assim, seria dobrado: “Repetidas vezes desenrolo o panorama de São Cristóvão e passo bastante tempo a revê-lo e a verter lágrimas nascidas de um coração todo brasileiro”.
Após deixar o trono, dom Pedro I passou um tempo na Inglaterra. Mas voltou a Portugal quando seu irmão dom Miguel tentou ficar com o trono português, que tinha à frente Maria II, filha de dom Pedro.
Os interesses contrários dos dois irmãos deram início à Guerra Civil Portuguesa. As batalhas tomaram os anos de 1833 e 1834. A vitória, ao fim, mesmo com um exército muito menor, foi de dom Pedro. Ele não resistiu, no entanto, à tuberculose, que à época levava à morte. Ele morreu aos 36 anos, em Lisboa.
A seu pedido, o coração ficou na cidade do Porto, na Igreja da Lapa, de onde saiu esta semana para as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. Curiosamente, na ocasião de seu óbito, a autópsia do cadáver apontava que todos os órgãos do imperador estavam lesionados, inclusive coração, mantido há 187 anos numa solução de formol, que estava hipertrofiado, e o fígado.
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