Startups brasileiras apostam no bilionário mercado para pets
Setor de animais de estimação movimentam mais de R$ 36 bilhões e está aberto para serviços e produtos inovadores
Carolina Ingizza
Publicado em 2 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2020 às 07h01.
Eles moram em nossas casas e são considerados membros da família. Nada mais natural, então, que sejam muito bem tratados. No Brasil, cerca de 140 milhões de animais de estimação movimentam um mercado de R$ 36,2 bilhões, segundo estimativa do Instituto Pet Brasil. Em constante crescimento, o setor se revela promissor para inovação e desperta o interesse de quem tem planos de criar uma startup.
É o caso da empreendedora Aline Lefol. Com um currículo extenso na área de negócios e doutora em química, ela até chegou a fazer as contas de quanto precisava investir para abrir uma pet shop . Mas, na época do auge do aplicativo de transporte Uber, a ideia foi “uberizar” os serviços que seriam oferecidos em um local fixo. O resultado foi a criação do aplicativo Lilu, para agendamento do banho e tosa em casa. A startup faz parcerias com os profissionais, realiza o treinamento e a intermediação com os donos dos pets.
“Eu morei em várias cidades e sempre tive cachorro . Manter o banho dos pets em dia era uma dificuldade por falta de tempo ou por outros compromissos. Ficava pensando em uma maneira mais prática de fazer isso”, conta Aline. O preço do serviço varia de R$ 40 a R$ 85, de acordo com o porte e a pelagem do animal. “Nossas parceiras passam por um rígido processo de seleção e avaliação documental. Elas são treinadas e equipadas para fazer o serviço no ambiente doméstico e deixar o local do jeito que encontrou, sem deixar a casa suja”, ressalta.
Cachorros com dificuldade de locomoção e animais que ficam estressados em ambientes externos também fazem parte do público-alvo da Lilu. O piloto do projeto começou em Salvador, na Bahia, até que Aline resolveu mudar para São Paulo. “Abri mão da minha estabilidade para apostar no projeto”, conta a empreendedora, que investiu inicialmente R$ 40 mil no aplicativo.
A startup foi a vencedora na cidade do São Paulo do programa Startup SP do Sebrae-SP e tem como sócios Philippo Chies e Paulo Cesar. Para 2020, a empreendedora busca investimento para “dominar o mercado de São Paulo e iniciar o atendimento nas demais capitais”.
Soluções de serviços, como a Lilu, e de produtos para o mercado pet devem se desenvolver nos próximos anos, na avaliação do consultor de empreendedorismo e inovação do Sebrae-SP Marcus Leite. “O mercado de soluções pet não tem encontrado crise. Cada vez mais as pessoas estão gastando com os seus pets, seja com brinquedos, comida, roupa, passeios ou mesmo serviços inusitados, como spa para pets. A relação com os pets está se aproximando da relação com filhos: hoje já é possível até ter guarda compartilhada de pets em caso de relacionamentos desfeitos”, afirma.
Comodidade
O nicho encontrado pelo casal Agnes Cristina e Diogo Petri para investir no setor pet foi o de gatos , população que cresceu 8,1% no país entre 2013 e 2018, contra 3,8% do crescimento do número de cães. Eles se conheceram em um grupo de resgate de animais abandonados em uma rede social e não foi difícil escolher um mercado para empreender.
A ideia inicial foi uma loja virtual de produtos para gatos, mas durante a pesquisa por novidades eles se depararam com uma falta de oferta de itens para os felinos. Diante de poucas opções e margens apertadas para o varejo, a solução foi partir para um modelo de desenvolvimento de produtos.
O primeiro lançamento da CatMyPet foi o MagiCat, um bebedouro para gatos em formato de torneira, em 2015. A empresa chegou a participar da feira Pet South America com subsídio do Sebrae-SP, continuou em crescimento e foi convidada a participar do programa de TV Shark Tank para apresentar o modelo de negócio. Mas eles receberam cinco “nãos” dos investidores reunidos pela atração.
A negativa dos especialistas não desmotivou os empreendedores. Estudos, pesquisas, mentorias e participação em eventos passaram a fazer parte da rotina do casal. Em um deles, a startup conseguiu uma parceria de distribuição com o empresário americano Kevin Harrington, do programa Shark Tank dos Estados Unidos. Com o convite para uma nova participação no Shark Tank Brasil em 2019, a conquista finalmente veio.
“Entramos no programa pedindo R$ 200 mil e saímos com uma proposta de R$ 1 milhão de dois investidores. O que consolidou a CatMyPet como a marca preferida não só por gatos mas também por tubarões”, brinca Agnes. “Tubarões” são como os investidores do programa são conhecidos pelo público. Para 2020, Agnes está otimista com a entrada dos investidores.
“Projetamos um crescimento de três vezes nos próximos 12 meses. Com a ampliação do portfólio e mix de produtos, estimamos conquistar dez pontos de market share no segmento, consolidando a marca no mercado felino”, destaca.
Tecnologia
Quando o empreendedor Fabio Piva morava na Alemanha, uma amiga do Brasil pediu ajuda para montar pôsteres de “procura-se” para ajudar a encontrar a cachorra perdida. “Eu ajudei, mas comecei a pensar também se não haveria uma forma menos angustiante de encontrar um bichinho quando ele foge”, lembra.
Esse foi o conceito inicial do CrowdPet, originalmente criado como um aplicativo para auxiliar na localização de animais perdidos por meio de fotos, desenvolvido pela empresa SciPet, de Campinas. O app evoluiu para uma plataforma social de dados sobre populações animais para auxiliar o setor público a aplicar recursos de bem-estar animal onde eles realmente são necessários.
Cada animal registrado no CrowdPet recebe uma identidade única, um perfil social geolocalizado e um prontuário de eventos veterinários atualizável, que pode ser acessado por qualquer profissional autorizado via aplicativo. De acordo com o cofundador da SciPet, no município de Vinhedo (SP), a ferramenta é utilizada nas campanhas municipais de castração e no registro de animais para realização de censo animal.
A cidade também abrigou um projeto-piloto em parceria com a ONG World Animal Protection e a prefeitura. Piva explica que cerca de 150 casas de um bairro foram visitadas por veterinárias da ONG, que vacinaram sem custo para a população todos os animais encontrados, entrevistaram e educaram os moradores sobre questões importantes de bem-estar animal e saúde pública. As informações sobre os animais e as vacinas foram registradas na ferramenta e um perfil populacional do bairro foi gerado. “A ação foi um sucesso tão grande que estamos nos preparando para replicá-la no Brasil inteiro em 2020, com o suporte da World Animal Protection”, ressalta Piva.
Para 2020, a startup planeja o lançamento do aplicativo para o público geral. Será possível conhecer os animais cadastrados e auxiliar na busca de animais perdidos. As ONGs locais poderão ainda registrar animais para adoção como se fosse um “marketplace de animais adotáveis”. “Nossa solução é uma social tech e tem um desafio: chegar sem custo às mãos da população, para que todos possam se envolver no mapeamento dos animais de rua das nossas cidades”, destaca Piva.