SafeSpace: da esquerda para a direita, Giovanna Sasso, Rafaela Frankenthal e Natalie Zarzur, fundadoras da SafeSpace (SafeSpace/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 21 de outubro de 2020 às 15h48.
Última atualização em 22 de outubro de 2020 às 18h29.
Se todo negócio inovador hoje nasce com o propósito de resolver um grande problema da sociedade, a SafeSpace quer desbravar um novo território e ajudar a abrir a caixa de pandora do mundo corporativo. O que os empreendedores de sucesso têm em comum? Inovação será a chave de 2021. Fique por dentro com o curso exclusivo da EXAME Academy.
A startup quer acabar com o problema de má conduta no escritório, deixando no passado os canais analógicos de denúncia de fraudes e assédio e substituindo-os por um produto de tecnologia que dá mais poder e transparência aos profissionais e aos RHs.
Na semana passada, a SafeSpace fechou sua primeira rodada de investimento, liderada pelo fundo Maya Capital e com mais 11 investidores-anjo, incluindo Ariel Lambrecht, fundador da 99, Ann Williams, COO da Creditas, Mariana Dias, CEO da Gupy, e Luciana Caletti, fundadora do antigo Love Mondays.
O fundo brasileiro Maya Capital anunciou na terça-feira, 20, nova captação de 15 milhões de dólares. O objetivo é investir o dinheiro em mais startups da América Latina, a SafeSpace sendo uma delas.
Em entrevista exclusiva para a EXAME, Rafaela Frankenthal, uma das fundadoras da empresa, disse que o valor do investimento não será divulgado por razões de estratégia, mas que o primeiro aporte será usado para melhoras no produto, oferecendo todas as funções pensadas por ela junto com suas sócias.
O negócio mal completou um ano e já mostra seu potencial. Em outubro de 2019, Frankenthal voltou ao Brasil com a ideia de negócio após completar o mestrado sobres estudos de gênero em Londres. Sua tese foi sobre assédio sexual e sua primeira ideia era propor uma solução para espaços públicos, mas seu foco acabou se voltando para o ambiente corporativo.
Pesquisa do LinkedIn com o Think Eva lançou luz à questão que acaba sendo deixada debaixo do tapete das empresas: quase metade das brasileiras já sofreu assédio sexual no trabalho. Entre elas, uma em cada seis pediu demissão do emprego depois do ocorrido. Reportar um desvio de conduta acaba sendo a exceção nas empresas.
“Do lado do colaborador, os meios disponíveis agora os deixam sem informações e falta confiança nos mecanismos de denúncia. Para as empresas, também falta visibilidade e há uma pressão crescente para ter uma cultura mais inclusiva e um grande risco para sua reputação. Inclusive com a repercussão do movimento Black Lives Matter no mundo, por exemplo, as empresas são cobradas de todos os lados”, comenta ela.
Para tirar a ideia do papel e colocar o negócio de pé, ela chamou duas mulheres: Giovanna Sasso e Natalie Zarzur. Juntas, as cofundadoras e sócias montaram o esqueleto do produto e o plano de negócios. Mais tarde, a quarta sócia e líder de tecnologia Claudia Farias, se juntou a elas para montar o programa.
Os planos para a rodada de investimento em fevereiro foram adiados por causa da pandemia, mas Frankenthal sente que o período ajudou a amadurecer o negócio. Elas recebem o aporte agora já com clientes e prontas para desenvolver uma segunda versão do produto.
“Com a pandemia, todos os problemas de comunicação à distância e a repercussão do Black Lives Matter, a demanda por um sistema mais moderno aumentou. Pudemos provar de forma mais concreta que há demanda pelo produto”, diz ela.
Na primeira versão, os funcionários podem reportar qualquer tipo de incômodo. O produto tira a formalidade do processo de denúncia. Elas inclusive optaram pelo uso da palavra “relato” no lugar de denúncia. A ideia é que os problemas cheguem ao RH, mantendo o anonimato do funcionário, antes de tomarem proporções mais graves.
“Hoje o processo é terceirizado e burocrático. No ponto em que a pessoa decide fazer uma denúncia, geralmente é tarde demais para a empresa interferir sem causar danos maiores. O foco do produto é na experiência da pessoa colaboradora, com um fluxo completo do relato”, explica a cofundadora.
A plataforma torna o processo mais transparente para os dois lados e também oferece informações sobre o código de conduta e ética da empresa. Outra funcionalidade é a disponibilidade de um canal de conversa, similar ao WhatsApp e ainda mantendo o anonimato, entre o responsável da empresa e o funcionário.
“E a pessoa pode acompanhar o status do relato. Nos processos hoje, a demora e incerteza do que vai ser feito causam ansiedade no funcionário. Com a plataforma, a pessoa vê quando foi visualizado, quando começou a investigação e quando foi resolvido”, explica ela.
A primeira função é para tirar os obstáculos do caminho e o estigma das denúncias de má conduta. Depois, a empresa quer atuar na análise de dados dos relatos para começar a prevenção de problemas. Segundo a cofundadora, raramente casos de assédio ou fraude são isolados. Entender o foco dos problemas ajudará a criar programas de treinamento customizados para cada negócio.