Falta de profissional qualificado afeta mercado de startups
"O aluno sai da faculdade e não está pronto para entender sobre a nova economia e as novas vagas", diz diretor da ABStartups
Agência Brasil
Publicado em 15 de julho de 2018 às 14h04.
Última atualização em 16 de julho de 2018 às 10h19.
Um dos problemas que preocupa os empreendedores de inovação é a falta de profissionais qualificados. Segundo especialistas, o mercado de tecnologia da informação no Brasil tem hoje cerca de 460 mil vagas de emprego abertas e não preenchidas por carência de pessoal com qualificação adequada.
O alerta foi dado por empreendedores e analistas durante o Startup Summit, primeiro evento nacional do setor, promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), nos dias 12 e 13 de julho em Florianópolis.
De acordo com Felipe Matos, um dos pioneiros em startup no Brasil e autor do livro 10 mil Startups, o déficit de mão de obra pode prejudicar a competitividade do país no setor. Conforme o especialista, o número de estudantes graduados nunca foi tão grande, contudo, apenas 15% são da área de tecnologia, enquanto que a média mundial, também considerada baixa, é de 25%.
A Associação Brasileira de Startups (ABStartups) ressalta que o problema pode aumentar se as universidades e outras instituições de ensino, desde o ensino básico, não alinharem seus propósitos às novas necessidades do mercado para formação de profissionais com visão estratégica, solução inovadora para problemas e não apenas operacionais.
"Vale uma provocação para o setor acadêmico, que eu acho que está um pouco distante da nossa realidade. A gente ainda está passando por problemas de contratação. O aluno sai da faculdade e não está pronto para entender sobre a nova economia que está acontecendo, ele não conhece as novas vagas que estão surgindo no mercado", disse à Agência Brasil, Rafael Ribeiro, diretor-executivo da ABStartups.
A nova economia e a transformação digital das empresas criaram novas linguagens e funções como "customer search" ou "startup hunter", termos poucos conhecidos dos recém-formados e até de profissionais experientes.
Ribeiro conta que a própria associação, que tem cerca de 6 mil startups cadastradas, encontrou dificuldade para efetivar a contratação de um profissional nos últimos seis meses. "Não consegui contratar e a gente teve de desistir e começar a treinar", disse.
Para Felipe Matos, outro desafio é o desconhecimento sobre as startups, fruto de uma cultura ainda avessa a um novo modelo de negócio, que tem mais riscos e não segue a estrutura tradicional de uma empresa. O especialista acredita que casos de sucesso e o surgimento dos primeiros unicórnios (empresas que valem mais de US$ 1 bilhão) brasileiros, como o aplicativo de transporte "99", podem ajudar a transformar a cultura de negócios do país e estimular o surgimento de empreendedores.
A preocupação com a falta de recursos humanos para desenvolver a chamada 4ª Revolução Industrial é compartilhada por integrantes do governo, que estudam a possibilidade de viabilizar algum tipo de programa para atrair talentos e startups internacionais e acelerar a formação dos profissionais brasileiros.
"Essa é uma preocupação que nós temos, não só de termos bons modelos de negócios, mas termos equipes técnicas que consigam executar projetos sofisticados e complexos. Por exemplo, você contratar alguém que vai trabalhar com a parte de inteligência artificial, que seja voltado para determinada indústria, precisa conhecer muito das tecnologias emergentes, e isso não é fácil de se encontrar no mercado", afirmou Rafael Moreira, secretário de inovação e negócios do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
* A repórter viajou a convite do Startup Summit, promovido pelo Sebrae Nacional