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Para crescer, startup de babás para pets dá cursos e renda de até R$ 3 mil

A Pet Anjo quer enfrentar a concorrência da principal startup no setor, a DogHero, e crescer de 35 para 50 mil serviços neste ano

Tirando uma soneca: o serviço que mais cresce na Pet Anjo é o de babás para pets (fongleon356/Thinkstock)

Tirando uma soneca: o serviço que mais cresce na Pet Anjo é o de babás para pets (fongleon356/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 16 de junho de 2018 às 08h00.

Última atualização em 16 de junho de 2018 às 08h00.

São Paulo - Que tal contratar uma babá para ficar com sua iguana enquanto você sai para jantar ou para fazer um bate e volta na praia? Parece uma situação absurda, mas esse é um dos serviços que a Pet Anjo já oferece em sua plataforma.

A startup aproveita o fato de que os donos dos mais de 130 milhões de animais de estimação no Brasil estão mais exigentes para ampliar seus serviços de hospedagens, passeios e cuidados a domicílio dos bichinhos - geralmente, cães e gatos. O negócio espera crescer para 50 mil serviços em 2018.

Não é um oceano tão azul, porém: já há uma líder com atuação similar à Pet Anjo, que é a DogHero, focada apenas nos cães e com um recente investimento de 8 milhões de reais no bolso. Para enfrentar a concorrência, a Pet Anjo aposta em oferecer treinamentos especializados aos seus cuidadores, chamados de “anjos” - e afirma que os mais esforçados possuem uma renda mensal de 3 mil reais.

Percepção de mercado

Os brasileiros gastam em média 189 reais todos os meses com seus pets, comprando de rações até tratamentos estéticos. Já há alguns anos surgem pequenas empresas especializadas nos melhores produtos para animais, ajudando o setor a faturar cerca de 20 bilhões de reais em 2017. A disputa está pesada também do lado de serviços com progressiva aceitação no mercado, como hospedagens, passeios e cuidados a domicílio.

A veterinária Carolina Rocha e o engenheiro Thiago Peterson começaram a olhar para o potencial do ramo pet em 2012, quando Rocha passou por uma péssima experiência. Ela deixou seus dois cães em um hotel que já conhecia para fazer uma viagem a Nova Iorque - mas encontrou a suposta cuidadora no mesmo portão de embarque, indo para outro voo.

Rocha se juntou a Peterson, engenheiro de computação com os pés na área de negócios, para criar uma solução melhor. Naquela época, as startups de serviços de hospedagem e passeios de bichinhos já cresciam nos Estados Unidos. Hoje, os EUA possuem o maior número de cães e gatos de estimação no mundo - e o Brasil ocupa o segundo lugar. A startup americana Rover é um dos expoentes dessa onda, com mais de 300 milhões de dólares em investimentos. “Já fizemos reuniões com alguns diretores de lá e gostamos do trabalho deles”, afirma Peterson.

Carolina Rocha e Thiago Peterson, da Pet Anjo

Carolina Rocha e Thiago Peterson, da Pet Anjo: empreendedores olharam principalmente para o mercado americano (Pet Anjo/Divulgação)

Em 2012, Rocha começou seu mestrado em psicologia experimental aplicada ao comportamento animal na Universidade São Paulo. No ano seguinte, tirou certificações internacionais de associações como a Pet Sitters International, com foco no serviço de babá para bichinhos, e a Pet Tech, com cursos como “Dog Walker Academy” e “Dog Safe - primeiros socorros para animais”.

Em 2015, a Pet Anjo fez uma aceleração na ACE e captou um investimento-anjo no valor de 1 milhão de reais no ano seguinte. Agora, está montando um material para captar uma nova rodada de aportes.

O interesse dos investidores é justificado não só pelo tamanho do mercado brasileiro de animais de estimação, mas também por prognósticos internacionais. O mercado de cuidados com pets deve crescer e atingir valor de 202,6 bilhões de dólares em 2025, ou cerca de 771 bilhões de reais, de acordo com um relatório da Grand View Research. O mesmo documento indica que 69% da geração dos millennials é propensa ao uso de aplicativos para monitorar seus bichos de estimação, e que os serviços de passeadores de cachorros oferecem conveniência aos responsáveis.

Como funciona?

A Pet Anjo nasceu em 2014, mesmo ano da competidora DogHero. A startup colocou como diferencial um curso online obrigatório de 20h a quem quiser se tornar um “anjo”, com base nos estudos de Rocha. Os cuidadores podem depois fazer cursos especializados em troca de mais pontos de reputação na plataforma, como as aulas de walker (passeador), sitter (ficar com o pet na casa do cliente por algumas horas) e banho a domicílio. Cada um desses cursos custa 80 reais e possui certificado.

Por meio do aplicativo, os usuários visualizam o perfil e a localização desses anfitriões e podem pedir serviços como hospedagens, passeios e babás. Depois, os clientes deixam suas avaliações do serviço na plataforma. O ticket médio é de 50 reais, com a Pet Anjo cobrando uma taxa de 30% do anfitrião. O funcionamento é similar a outros serviços de economia compartilhada, como o aplicativo de mobilidade urbana Uber.

Carolina Rocha e anfitriões da Pet Anjo com seus certificados de cursos realizados pela Pet Anjo

Carolina Rocha e anfitriões da Pet Anjo com seus certificados de cursos realizados pela Pet Anjo (Pet Anjo/Divulgação)

Ao todo, mais de 72 mil serviços já foram realizados pela plataforma. Enquanto o serviço de passeios já é o mais requisitado, com 30 mil pedidos, as 22 mil hospedagens possuem o maior ticket médio e são as que mais contribuem ao resultado da Pet Anjo. O serviço de pet sitters é o mais novo da plataforma, mas já apresenta um acumulado de 22 mil pedidos e possui potencial de crescimento especialmente nos centros urbanos e com pessoas que trabalham até tarde da noite, diz Peterson.

Além do treinamento, outro diferencial da Pet Anjo é atender diversos animais de estimação. Cerca de 60% dos serviços são voltados aos cachorros, mas há muito potencial nos gatos, que já representam 35% da plataforma. Os outros 5% são compostos por outros pets, como coelhos, chinchilas, furões, pássaros e répteis (como as iguanas).

Há 40 mil donos de pets cadastrados no aplicativo - sendo que 10 mil deles são ativos. A Pet Anjo está em 141 cidades e 19 estados brasileiros, com um total de 5 mil anjos. Metade deles trabalha em meio período e apenas pela startup, com um faturamento médio mensal que vai de 400 a 1.000 reais. Outros 30% atuam tanto com a Pet Anjo quanto com outros aplicativos, sem dados exatos de renda. Já os 20% restantes atuam em período integral na Pet Anjo, com renda mensal de 3 mil reais.

Em 2016, a Pet Anjo adquiriu uma concorrente do setor, chamada Pet Hub, para competir com a líder de mercado - a DogHero, focada nos cachorros. A concorrente lançou no mês passado seu serviço de dog walking. Antes, trabalhava apenas com a hospedagem. Mesmo assim, Peterson afirma que a maior disputa vem do “vizinho que se oferece para cuidar do pet”. “Quantos mais as pessoas reconhecerem esses aplicativos, mais tendem a considerar a Pet Anjo uma boa solução.”

Apenas em 2017, a Pet Anjo realizou 35 mil serviços. Em 2018, a meta é chegar a 50 mil. A startup quer fugir do Sudeste e expandir nas metrópoles menos saturadas de anfitriões, como Fortaleza e Recife. É a prova de fogo para a startup mostrar que os amantes de pets (não só de cães) estão espalhados pelo Brasil - e que seu negócio pode virar líder do mercado.

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