"Voltamos a ser uma empresa normal", diz presidente da Usiminas
Passados quatro anos de brigas públicas, as controladoras da companhia mineira anunciaram acordo de governança
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 10h22.
São Paulo - Após o aperto de mãos entre Ternium e Nippon Steel, que na quinta-feira (8) decidiram pôr fim a uma das maiores brigas societárias da história do País, a Usiminas prepara-se para voltar a crescer. "Voltamos a ser uma empresa normal", disse o presidente da siderúrgica, Sergio Leite, em entrevista ao 'Broadcast/Estadão'.
Passados quatro anos de brigas públicas, as controladoras da companhia mineira anunciaram acordo de governança para a empresa, assim como compromissos para resolução dos litígios judiciais em curso.
Leite foi eleito presidente da Usiminas em 2016, mas chegou a ser afastado por alguns meses devido à decisão judicial impetrada pela Nippon Steel, que foi contra sua nomeação. O mandato do executivo vence em maio, mas a Ternium, que pelo novo acordo vai definir o novo presidente, já encaminhou o nome de Leite para o cargo. Dessa forma, o executivo chefiará a empresa até maio de 2022. "Isso traz um novo tempo para a Usiminas, com continuidade, regularidade. O acordo já trouxe uma repercussão muito positiva dentro do nosso grupo de empregados, em Ipatinga (cidade mineira sede da Usiminas)."
Pelo acordo, cada sócio irá nomear o presidente do conselho e o presidente executivo da companhia por dois mandatos consecutivos (com validade de dois anos cada um). Enquanto um escolhe o executivo que tomará conta do dia a dia dos negócios, o outro definirá o líder do conselho de administração. Depois, a situação se inverte.
A diretoria será composta por seis membros, incluindo o diretor-presidente - as nomeações serão divididas de forma igual pelos sócios. As partes acertaram ainda que nenhum dos grupos poderá adquirir ações com direito a voto da Usiminas em circulação até o fim do atual acordo de acionistas - a não ser que tenha autorização da outra sócia. Ambas poderão, porém, vir a exercer o direito de preferência em eventual novas emissão de papéis.
"Essa foi a mais complexa disputa societária no País. A briga teve um processo de amadurecimento recíproco, as propostas foram refinadas, assim como os mecanismos. No final, um acordo passou a ser imprescindível", afirma o sócio do escritório Pinheiro Netto, João Marcelo Pacheco, que assessorou a Nippon na disputa judicial.
Mercado. A trégua entre os acionistas surpreendeu o mercado. Em relatório, o BB-BI, diz que a governança corporativa da empresa deve melhorar com o acordo. "A empresa deve ser beneficiada por processos de tomada de decisão mais eficientes, assim como pela redução do risco", segundo o documento.
A nova fase da Usiminas chega em um momento em que a demanda começa a crescer, puxada, sobretudo, pela recuperação do setor automotivo no País. Leite, lembra, contudo, que uma recuperação mais forte será sentida apenas quando houver uma retomada da infraestrutura e da construção civil. São esses fatores que serão alavancas para o consumo do aço no Brasil.
O BTG Pactual, em relatório, destacou que a Usiminas apesar de resultados ligeiramente fracos no quarto trimestre do ano passado, tem perspectivas muito melhores para 2018.
A companhia reportou no quarto trimestre um prejuízo líquido de R$ 45 milhões, 76% menor do que no mesmo período de 2016. No ano, no entanto, a siderúrgica mineira reverteu prejuízo de R$ 577 milhões em 2016 para um lucro líquido de R$ 315 milhões. A receita líquida, por sua vez, ficou em R$ 3,077 bilhões no quarto trimestre, aumento de 65% em relação ao ano anterior. No acumulado do ano, o faturamento subiu 27%, para R$ 10,734 bilhões.