Visão estratégica da Nestlé é ofuscada por morte na L’Oréal
A Nestlé é dona de 23% da fabricante de cosméticos e o falecimento da herdeira Liliane Bettencourt põe em dúvida o futuro desse investimento
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2017 às 11h48.
Toronto/Zurique - Enquanto o novo CEO da Nestlé , Mark Schneider, se prepara para expor sua visão estratégica para a gigantesca empresa suíça de alimentos, seus planos serão ofuscados por uma mudança no comando de outra gigante europeia dos bens de consumo — a francesa L’Oréal .
A Nestlé é dona de 23 por cento da fabricante de cosméticos e o falecimento da herdeira Liliane Bettencourt põe em dúvida o futuro desse investimento. O chefe de hedge fund Dan Loeb quer que a proprietária do café Nespresso venda a participação, o que lhe dará munição financeira para uma transformação maior do que qualquer uma das projeções feitas pelos analistas para a primeira grande apresentação de Schneider aos investidores.
A diretoria da Nestlé enfrenta uma pressão crescente para “esclarecer seu pensamento sobre o relacionamento a médio prazo da empresa com a L’Oréal”, disseram analistas da UBS liderados por Pinar Ergun em uma nota. Embora o cenário-base por enquanto seja manter o status quo e uma oferta de aquisição seja uma possibilidade, a venda é o caminho mais provável a médio e longo prazo, disse ela, “dadas as trajetórias estratégicas divergentes das duas empresas nos últimos dez anos”.
Schneider, que assumiu o cargo de CEO em janeiro, ofuscou seu próprio protagonismo ao anunciar uma recompra de ações no valor de 20 bilhões de francos suíços (US$ 21 bilhões) e adquirir empresas de café e alimentos frescos, além de tomar medidas para vender a unidade de confeitaria da Nestlé nos EUA.
A Nestlé está buscando crescer em unidades como café, água e alimentos para animais de estimação em um momento em que enfrenta a rejeição do consumidor a lanches açucarados, que contribuiu para uma advertência em junho de que o crescimento das vendas neste ano será o mais fraco em pelo menos duas décadas.
A Third Point, de Loeb, pediu uma mudança mais radical depois de investir cerca de US$ 3,5 bilhões neste ano na empresa suíça, exigindo uma meta maior para a margem operacional e a venda de sua participação de US$ 28 bilhões na L’Oréal.
Dia do investidor
Analistas preveem que Schneider não se preocupará imediatamente com essas questões quando subir no palco do salão de baile do Corinthian Hotel de Londres na terça-feira diante de representantes de cerca de 145 investidores. Ele disse à Bloomberg Television em fevereiro, antes de Loeb divulgar seu investimento, que a participação da Nestlé na L’Oréal é “altamente estratégica” e não há uma urgência imediata para alterar a relação.
Segundo um acordo com a família Bettencourt, maior acionista da empresa francesa, nenhum dos lados pode aumentar sua participação durante seis meses após a morte. A Nestlé poderia vender suas ações, mas prometeu agir “em consonância” com a família. Qualquer mudança nas participações também pode afetar um terceiro — a empresa farmacêutica francesa Sanofi, da qual a L’Oréal possui 9 por cento.
Em vez de anunciar mudanças transformadoras, a Nestlé poderia simplificar sua estrutura de gerenciamento, em que categorias de produtos atravessam geografias, de acordo com vários analistas. Uma possibilidade seria transferir os diretores de três zonas regionais — Wan Ling Martello, Marco Settembri e Laurent Freixe — da sede de Vevey, na Suíça, com vista para o Lago de Genebra, para mais perto de seus mercados na Ásia, na Europa e na América, de acordo com Andrew Wood, da Sanford C. Bernstein.
Embora Loeb tenha dito que quer um diálogo construtivo, como acionista de longo prazo, as medidas ínfimas da Nestlé aumentam o risco de um possível confronto. O chefe de hedge fund não costuma recuar diante de uma briga, e este é o maior investimento que ele fez em uma empresa desde que fundou a Third Point em 1995.