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Vianna, da Delta: única saída é privatizar distribuidoras de energia

Para ex-presidente da Itaipu as empresas privadas de energia conseguem ter uma eficiência que não é possível no setor público

Vianna: "Modelo atual (do setor elétrico) nasceu em 2004 e foi bastante remendado"

Vianna: "Modelo atual (do setor elétrico) nasceu em 2004 e foi bastante remendado"

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Letícia Toledo

Publicado em 12 de abril de 2018 às 15h12.

Última atualização em 12 de abril de 2018 às 16h24.

Após uma passagem que durou pouco mais de um ano na presidência da usina hidrelétrica de Itaipu, o engenheiro Luiz Fernando Leone Vianna assumiu no início desta semana o comando da gestora de fundos criada pelo grupo de energia Delta. “Vou assumir o cargo logo depois dessa entrevista”, brincou Vianna em uma entrevista exclusiva a Exame poucas horas depois de desembarcar de mala e cuia em São Paulo. A nova gestora, Delta Energia Asset Management, nasce com um fundo multimercado que captou 1 bilhão de reais em agosto do ano passado. O fundo identifica o melhor momento para comprar energia barata oferecida no mercado e lucra em uma venda futura, com preço mais alto. O objetivo da gestora é ter 5 bilhões de reais sob gestão em um prazo de até 5 anos. Na entrevista, Vianna falou sobre a nova oportunidade e sobre o setor elétrico no país. Ele afirma que os gastos das empresas estatais de energia são insustentáveis no médio e longo prazo. A solução seria concedê-las à iniciativa privada. Confira a entrevista abaixo.

O senhor tinha um mandato de cinco anos na Itaipu, o que o levou a vir para a Delta pouco mais de um ano depois de assumir da Itaipu?

Eu realmente não tinha a intenção de seguir carreira na Itaipu, como meu antecessor [Jorge Samek] que ficou 14 anos. A minha intenção era terminar o mandato, de cinco anos, que terminaria em 2022. O projeto inicial era esse, mas recebi a proposta da Delta e achei muito importante. Essa proposta é diferente do que se vê no mercado porque une duas pontas. Preenche uma lacuna que existe para as geradoras de energia e uma lacuna que está surgindo que é a necessidade de bons investimentos em um momento de taxa Selic baixa. Essa possibilidade de expandir para outros fundos é uma ótima oportunidade.

O senhor passou dez anos na presidência da Associação dos Produtores Independentes de Energia Elétrica e também foi presidente na Copel. A proposta da Delta é no setor de energia é diferente de tudo o que o senhor já fez. Como sua experiência ajuda nessa nova etapa?

Eu entrei no setor elétrico como estagiário. As experiências que tive trazem um conhecimento do setor elétrico e também um relacionamento com pessoas deste setor. Na minha passagem por Itaipu aprendi o poder da negociação. Como trata-se de uma empresa binacional na qual o Paraguai é dono de 50%, não é possível levar uma proposta para votação sem antes negociá-la.

E houve alguma insatisfação que pesou para o senhor deixar Itaipu?

Um blog divulgou que eu não resisti a pressão política e foi por isso que eu saí. Isso é um absurdo. O que acontece é que eu recebi uma proposta interessante em termos de carreira em um grupo sólido. É claro que há uma questão política em Itaipu, tanto é que até agora não definiram o meu sucessor porque há uma disputa. Há sim uma composição política nas indicações e diretorias, ma a minha indicação foi técnica. O fato de a Itaipu ter uma binacionalidade a protege de questões que poderiam fazer mas a empresa. As grande decisões passam pela diretoria que tem representante dos dois países.

Atualmente há um projeto de lei sobre a reforma do setor elétrico que está no Congresso, que vai ampliar o acesso das empresas ao mercado livre de energia. De que forma ela muda a dinâmica da gestora Delta?

Essa reforma do setor elétrico precisa acontecer. Esse modelo atual nasceu em 2004 e foi bastante remendado. Foi um modelo exitoso para a expansão do setor no país, o problema foram os remendos sucessivos. Como a reforma está no Congresso isso pode sair em breve. E isso acontecendo o caminho para a gente entrar ainda mais nesse horizonte de fundos de investimento cresce, porque teremos uma base de clientes maior, uma capacidade melhor de investir geração. Os contratos também passam a ter mais transparência nos contratos.

Há outra questão importante do setor que é a privatização da Eletrobras. Ela vai acontecer ainda este ano?

Ela tem que acontecer. O governo já teve que fazer um aporte de recursos para impedir que a companhia tivesse maiores problemas, mas isso não pode se perpetuar. A primeira etapa da privatização é a venda das distribuidoras da Eletrobras, que está prevista ainda para este mês. Depois há a questão da privatização do próprio grupo através da pulverização do bloco controlador. O novo ministro [de Minas e Energia, Moreira Franco] colocou isso como uma questão de estado. E vai ter que acontecer nesse governo ainda.

E mesmo sem as distribuidoras a situação da Eletrobras continua complicada?

Mesmo sem as distribuidoras ela precisaria de novos aportes do governo para cumprir seus compromissos. O Wilson Ferreira [presidente da empresa] é a pessoa certa no lugar certo. Tem um histórico brilhante que levou ele para essa posição que é o mais desafio de sua carreira. Ele pegou a Eletrobras numa situação caótica, mas ele já fez tudo que podia fazer.

As distribuidoras estaduais também precisam ser privatizadas?

O único caminho do setor, principalmente para as distribuidoras, é a privatização. A forma de gestão faz uma distribuidora ter um custo muito alto. Por exemplo, na Copel tem mais de 8.500 empregados, mais de 6.000 estão na distribuidora e isso gera um custo gigantesco mas que é inerente a uma estatal. O setor privado pode ser mais eficiente. Não acredito que a distribuidora estatal possa apresentar solidez de bons resultados ou até mesmo que seja sustentável a médio e longo prazo.

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