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Varig volta à estaca zero com a saída de Lore

O jogo de forças que nos últimos meses vêm colocando de um lado a maior acionista da Varig, a Fundação Ruben Berta, que detém 87% das ações, e de outro os credores da companhia aérea teve nesta segunda-feira (25/11) um resultado que surpreendeu o mercado. O presidente da empresa, o gaúcho Arnim Lore, de 62 […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

O jogo de forças que nos últimos meses vêm colocando de um lado a maior acionista da Varig, a Fundação Ruben Berta, que detém 87% das ações, e de outro os credores da companhia aérea teve nesta segunda-feira (25/11) um resultado que surpreendeu o mercado.

O presidente da empresa, o gaúcho Arnim Lore, de 62 anos, anunciou no início da tarde sua renúncia ao cargo. Ontem ele já comunicara a decisão de sair da presidência do Conselho de Administração da Fundação Ruben Berta Participações (FRB-Par), a holding que controla o grupo Varig. Além dele, deixaram o Conselho José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica, Clóvis Carvalho, ex-ministro da Casa Civil, e o conselheiro Luiz Serafim Spínola.

Lore assumira a presidência da Varig há apenas três meses com a dura missão de sanear a companhia, que vive a pior crise financeira em seus 75 anos. A empresa tem hoje um patrimônio líquido negativo de cerca de 1,5 bilhão de reais (no grupo todo, o passivo é superior ao ativo em 1,9 bilhão de reais). "Não faz sentido continuar no comando depois dos desentendimentos do conselho com seu principal acionista", diz Lore. "Nossa decisão se deve à recusa da Fundação Ruben Berta em inteirar-se do acordo que firmamos com os maiores credores." A fundação, pertencente a funcionários da Varig tocada por sete curadores recusou-se em assembléia na última sexta-feira a assinar o memorando de entendimentos que envolvia acordo com os principais credores do grupo Varig _GE, Banco do Brasil, BR Distribuidora, entre outras empresas.

Os conselheiros afirmam que a fundação deixou de atender a seguidas convocações para apresentar a proposta. Não é o que dizem os executivos da Varig. "Esses chamados não existiram", afirmou Waldomiro Ferreira da Silva, diretor de atendimento ao cliente da Varig. "Há, sim, uma pressão para que o documento seja assinado. Mas ele tem vários itens não esclarecidos, como a nova participação da fundação e o destino do dinheiro que seria injetado pelo BNDES."

Pelo memorando, estaria garantida uma entrada de 117 milhões de dólares nas empresas do grupo. Eles seriam obtidos por três caminhos: 1) pela suspensão da cobrança de 30,7 milhões de dólares em créditos; 2) pela devolução de 22,7 milhões de dólares retidos pelos credores como garantia ao recebimento das dívidas; e 3) pela concessão de novos créditos, que somariam 63,7 milhões de dólares. Para uma empresa com uma dívida de mais de 900 milhões de dólares e que não registra lucro em seu balanço anual desde 1997, esse dinheiro, dizem os conselheiros demissionários, traria "uma redução importante, ainda que temporária, do déficit de caixa de curto prazo das empresas do grupo".

Hoje pela manhã, Lore e os outros conselheiros foram ao BNDES, que tomou parte no processo de reestruturação da Varig para evitar que os credores estrangulassem o já combalido caixa da empresa. Relataram o que fizeram à frente da Varig, contaram o que houve na assembléia de sexta-feira e reafirmaram a certeza de que a companhia é viável. "A Varig tem definitivamente todas as chances de se reerguer", diz Mendonça de Barros. "A consultoria Bain&Company, que chamamos para estudar a empresa, confirmou que ela pode se tornar viável." Para ele, não há dúvida de que o principal problema da Varig não é de caixa ou operacional, mas de governança corporativa.

A opinião de Barros é compartilhada pelo presidente da Associação dos Pilotos da Varig (Apvar), Flávio Souza, que diz não ter se surpreendido com a renúncia dos conselheiros. "Era bastante previsível que as negociações caminhariam para esse desfecho", diz Souza. "Mas todos são responsáveis por ele." Os pilotos, que dizem que a Varig tem uma dívida previdenciária de mais de 2 bilhões de reais com os funcionários, são céticos em relação ao plano de reestruturação que os ex-conselheiros dizem ter apresentado ao BNDES. "Ninguém viu esse programa e, enquanto isso, a fundação procura protelar a solução. Vejo que a saída terá também uma conotação política", diz Souza.

Uma das avaliações feitas por executivos da empresa é que a Fundação Ruben Berta estaria forçando a situação à espera da posse do novo governo, em 1º de janeiro. "A fundação retomou o poder esperando o próximo governo", diz um funcionário que conhece de perto os impasses no comando da Varig. Eles acharam melhor aguardar os planos do governo Lula para o setor. Até porque os principais credores da Varig são empresas públicas como Banco do Brasil e BR Distribuidora, além da Receita Federal.

Segundo um executivo, os curadores da fundação acreditam que hoje há uma intervenção do atual governo na empresa, já que, no Conselho, estão homens saídos do primeiro escalão do Planalto. Nesse caso, seria melhor aguardar a avaliação dos integrantes do futuro governo e não aceitar as condições de pessoas ligadas ao governo que sai.

No momento, os curadores da Fundação Ruben Berta estão reunidos com o Conselho de Administração da FRB-Par e não divulgaram como será composto o novo Conselho. Arnim Lore e seus ex-subordinados não fazem idéia do que vai acontecer. "Nenhum executivo é capaz de prever o que ficará decidido", diz o diretor Ferreira da Silva. Quanto à chance de intervenção do atual governo, ela é afastada pelos ex-conselheiros e pelos ex-integrantes do atual governo. "Está tudo em aberto, mas não creio que o governo resolva intervir no controle da Varig", diz Clóvis Carvalho.

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