O metano é a segunda maior causa do aquecimento global, e a pecuária contribui com cerca de 32% das emissões geradas pela atividade humana (Bloomberg Businessweek/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)
Leo Branco
Publicado em 6 de dezembro de 2022 às 06h12.
Para evitar que o gado arrote metano, a indústria da carne está experimentando adicionar algas marinhas à sua alimentação.
Mas os coletores de Asparagopsis, a alga vermelha comestível, que impede a formação do gás de efeito estufa na barriga dos bovinos, poderá enfrentar dificuldades para atender à crescente demanda.
Uma startup australiana, a Rumin8 Ltd., está oferecendo uma alternativa sintética que imita os efeitos das algas marinhas.
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O metano é a segunda maior causa do aquecimento global, e a pecuária contribui com cerca de 32% das emissões geradas pela atividade humana. Apenas contando os 1,5 bilhão de vacas criadas globalmente para abate, são 231 bilhões de libras de metano por ano.
Incluir algas marinhas na alimentação do gado, poderá reduzir 98% de suas emissões de metano, de acordo com um estudo.
A relativamente recente descoberta dos poderes de redução de metano do Asparagopsis deu origem a um novo setor de agricultora marinha e produção de aditivos alimentares.
As algas marinhas levam cerca de quatro meses para ficarem prontas para serem colhidas e requerem enormes extensões de mar aberto para crescer; a agricultura intensiva pode ter efeitos negativos sobre outras formas de vida aquática.
E não sai barato: um relatório do Commonwealth Bank da Austrália em setembro estimou que produzir um ano de suprimento de algas marinhas apenas para a indústria de carne bovina do país poderia custar entre
A Rumin8, com sede em Perth, está trazendo ao mercado produtos que contêm bromofórmio, o ingrediente ativo das algas marinhas que inibe a produção de metano, e são feitos em laboratório, não no oceano.
Suas ofertas incluirão uma opção solúvel em água para gado criado no pasto, para animais menos aventureiros, suplementos minerais em pó e um líquido à base de óleo que pode ser misturado em bolinhas de ração. Uma fórmula de liberação lenta na forma de um comprimido grande também está em andamento.
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Testes de laboratório conduzidos pela Rumin8 mostraram que o aditivo pode reduzir as emissões do gado em mais de 95%, diz David Messina, cofundador e diretor executivo. O produto final não custará mais do que 10% do valor de um animal ao longo de sua vida, diz ele.
Ensaios em larga escala em animais estão programados para este ano e para o próximo. A Rumin8, que espera iniciar a fabricação na Austrália Ocidental em 2023, é apoiada pela
Alguns cientistas pedem cautela, no entanto, em relação ao uso de algas marinhas e alternativas sintéticas por causa de seus altos níveis de bromofórmio, que é proibido pelo Protocolo de Montreal, o histórico tratado ambiental de 1987 que identificou produtos químicos que destroem a camada de ozônio.
“Quando o mundo perceber que podemos estar produzindo produtos químicos que destroem a camada de ozônio para resolver o problema do metano, não sei se alguém ficará feliz com isso”, diz Richard Eckard, professor de agricultura sustentável da Universidade de Melbourne. “Muito disso ainda deveria estar na fase de pesquisa e não na fase de comercialização.”
Embora ainda não haja pesquisas extensas sobre o que acontece com o bromofórmio quando ele é ingerido pelo gado, os fornecedores da indústria dizem que as preocupações com o bromofórmio são injustificadas.
Um porta-voz da FutureFeed, produtor com sede em Brisbane, na Austrália, do aditivo comercial Asparagopsis, diz que não há algas marinhas suficientes na ração animal da empresa para danificar a camada de ozônio, e Messina, da Rumin8, diz que o bromofórmio se decompõe quase completamente no estômago de um animal depois de cerca de três horas, o leva a afirmar não existir nenhum impacto no meio ambiente.
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Essas afirmações são apoiadas por uma revisão da literatura publicada em maio de 2022 na Algal Research, revista acadêmica internacional. Os nove autores liderados por Christopher Glasson, da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia — incluindo três que estão envolvidos na comercialização do uso de Asparagopsis para mitigação de metano — escreveram que os microrganismos envolvidos na digestão do gado decompõem o bromofórmio das algas adicionado à sua alimentação.
Concluindo, eles disseram que “a aquicultura em larga escala de Asparagopsis e sua aplicação em estratégias de mitigação de metano para ruminantes em ou perto dos níveis mínimos efetivos de inclusão, podem não impactar negativamente a saúde animal, a qualidade dos alimentos ou a destruição da camada de ozônio”.
Os aditivos alimentares à base de algas e suas alternativas ainda não afetaram as emissões de metano do gado.
A cadeia de abastecimento comercial está em seus primórdios e ainda não há incentivos para agricultores comprarem os suplementos ou processos regulatórios para supervisionar seu uso. Os testes continuam, incluindo alguns que usam variedades de algas marinhas que contêm níveis mais baixos de bromofórmio do que a Asparagopsis.
Opções que não são à base de algas marinhas também estão sendo estudadas, como máscaras de arroto e um aditivo de biocarvão. Eckard é a favor de um aditivo alimentar de nitrato e bioálcool fabricado pela empresa holandesa de nutrição, Royal DSM NV, mas exigiria uma alimentação mais frequente dos animais para obter o impacto máximo, o que o torna impraticável para o gado criado livremente.
Além disso, cientistas da Nova Zelândia estão nos estágios iniciais de desenvolvimento de uma vacina antiarroto. Incluir mais gordura na dieta do gado pode reduzir a produção de metano em até 24%, diz Alex Chaves, professor de nutrição animal da Escola de Ciências Biológicas e Ambientais da Universidade de Sydney. Isso é mais seguro do que trabalhar com bromofórmio, diz ele, que chama a substância de tóxica e insustentável.
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Várias abordagens podem ser necessárias para reduzir as emissões pelo gado com a quantidade de metano na atmosfera aumentando a níveis recordes, incluindo o maior pico no ano passado desde o início do monitoramento há quatro décadas.
“Nos últimos 30 anos, gastamos milhões, talvez bilhões, de dólares tentando mitigar essa situação. Aprendemos muito, mas o sucesso foi muito pequeno”, diz Chaves. “Temos que acabar com essa ideia de 'bala de prata'.”
Tradução de Anna Maria Dalle Luche.