Negócios

Turismo rural: busca por conexão com a natureza tem fomentado pequenos negócios no campo

Receber visitantes, vender produtos e promover experiências são opções para diversificar receita e aumentar ganhos

Auricleide Gonçalves Duarte, proprietária do Sítio Campo Verde Auricleide: turismo rural tem ampliado frentes de receita (Sebrae-SP/Divulgação)

Auricleide Gonçalves Duarte, proprietária do Sítio Campo Verde Auricleide: turismo rural tem ampliado frentes de receita (Sebrae-SP/Divulgação)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 15 de abril de 2023 às 10h00.

A 52 quilômetros da Praça da Sé, marco zero de São Paulo, está localizado o Sítio Campo Verde, no distrito de Parelheiros, extremo sul da Capital. Foi lá que a empreendedora Auricleide Gonçalves Duarte resolveu testar e começar a plantar mirtilo, também conhecido como blueberry, fruta nativa de regiões da Europa e Estados Unidos. A plantação começou em 2014, mas foi em 2021 que ela resolveu também abrir as portas da sua propriedade para receber visitantes interessados no cultivo.

Uma mesa farta de café da manhã, com geleia de mirtilo, bolos com a fruta e outras delícias, recepciona os visitantes, que também podem participar da colheita e fazer trilhas no local. O sítio é um dos exemplos de propriedades que apostam no turismo rural como forma de diversificar as receitas e incrementar o faturamento.

O turismo rural ganhou destaque, principalmente, após o relaxamento das medidas de restrição devido à pandemia de Covid-19 e com o avanço da vacinação. De acordo com a gestora estadual de turismo do Sebrae-SP, Aline Delmanto, as pessoas se sentiram mais seguras para viajar, entretanto, a tendência inicial foi buscar espaços abertos que propiciassem contato com a natureza e tivessem um fluxo menor de turistas. “Foi natural que se buscassem destinos onde o turismo rural e o turismo de natureza fossem a oferta principal. O grande desafio agora é manter esse fluxo alto porque os destinos tradicionais e consolidados já estão reabertos”, pondera.

No caso do Sítio Campo Verde, Auricleide segue apostando no crescimento do interesse por locais próximos das cidades e com muita natureza. O plano é construir chalés para receber ainda mais pessoas e estender o período de hospedagem.

A decisão de apostar no turismo rural foi motivada após a realização de cursos do Sebrae-SP. Até então, o faturamento vinha do plantio e venda da fruta. A produtora era dona de um restaurante em Guarulhos, mas sempre teve vontade de comprar um sítio para lazer.

Ao adquirir a propriedade, Auricleide se interessou pelos benefícios do mirtilo, fez testes e apostou no plantio orgânico da fruta. A rotina de ir e voltar para a cidade começou a pesar e motivou a mudança definitiva da família para o sítio em janeiro de 2020 – pouco antes do início da pandemia.

Como o sítio ainda não tem uma grande estrutura para receber muitas pessoas, Auricleide trabalha com o sistema day use. “Durante as visitas, temos a oportunidade de falar do mirtilo para que as pessoas conheçam e consumam mais, porque é uma fruta que ainda não está na mesa dos brasileiros”, destaca Auricleide. Segundo ela, metade do faturamento da propriedade vem do turismo.

Foco no vinho

A busca por uma pequena propriedade para passar os fins de semana também marcou o início dos negócios da sócia da Vinícola Villa Santa Maria, Celia Carbonari. A família chegou à Serra da Mantiqueira no ano 2000, e logo começou a planejar algo para transferir a moradia definitiva para o município de São Bento do Sapucaí. “Pensamos em vinho. Era um pouco arrojado, pois ninguém plantava uvas na região. Fomos atrás e logo descobrimos como seria possível iniciar esse cultivo”, relembra.

As primeiras experiências começaram em 2004 e, um ano depois, o plantio começou com cerca de 4 mil pés de uva vinífera – numa propriedade com vista para a Pedra do Baú. “Tudo era novo e desafiador. Em 2009, nós tivemos a primeira safra, pois esse é o tempo que a parreira precisa para ter sua maturação. E a surpresa foi maravilhosa. O terroir era ótimo para esse cultivo. Ficamos animados e fomos comprando mais terra e plantando mais uvas”, conta Celia.

O processo deu tão certo que a vinícola conquistou o primeiro prêmio internacional em 2013. Hoje, são quase 70 mil pés plantados e um amplo espaço para receber visitantes. O local conta com um restaurante e os interessados podem agendar uma visita guiada para conhecer os parreirais e participar de uma degustação.

O investimento no turismo rural começou em 2018. “Já tínhamos bastante vinho, e sempre acreditamos que a experiência de consumir o nosso produto dentro da nossa propriedade traria ao visitante uma experiência única. Seria muito mais do que escolher uma de nossas garrafas em uma prateleira cheia de rótulos. Fizemos um projeto adequado para receber bem as pessoas e transmitir um pouco da nossa história”, relata Celia.

Segundo a sócia da vinícola, o restaurante traz um resultado expressivo para o negócio e a estratégia é seguir com o processo de expansão com a construção de uma pousada no local.

Como ampliar o faturamento com ajuda do turismo rural

A gestora do Sebrae-SP reforça a oportunidade do turismo rural como um meio de aumentar o faturamento em pequenas propriedades. Os produtores podem começar a trabalhar com a venda de ingressos para conhecer a propriedade e o processo produtivo e avançar para outros serviços, como a oferta de refeições e hospedagem nas propriedades.

Outra sugestão é investir na venda dos produtos in natura ou processado. “Alguns estudos sobre o comportamento do consumidor indicam que a fidelização à marca é um outro benefício oriundo da visitação turística. Há de se considerar também que a venda de produtos no fim do circuito de visitação permite às organizações reduzir os custos relativos à distribuição, na medida em que, ao vender diretamente aos consumidores, eliminam-se os intermediários”, afirma Aline.

Os produtores interessados em explorar o turismo rural e o turismo cultural como alternativa para diversificação e ampliação do negócio precisam se atentar a uma série de ajustes gerenciais e operacionais antes do processo de abertura à visitação.

Aline cita desde o investimento em infraestrutura básica, como adequação da estrutura para aumento do consumo de energia, melhoria de acesso, gerenciamento de resíduos sólidos, até investimentos em infraestrutura receptiva, como implementação de restaurante, hospedagem, embarque e desembarque de visitantes. Outros pontos fundamentais são o treinamento e aumento da mão de obra e a melhoria do sistema de comercialização dos produtos.

Acompanhe tudo sobre:Pequenas empresasEmpreendedorismo

Mais de Negócios

Depois de arranha-céus em Balneário Camboriú, FG Empreendimentos estrutura banco e lança consultoria

No radar da SmartFit, Velocity planeja dobrar de tamanho e faturar R$ 140 milhões em 2024

Casa do Pão de Queijo pede recuperação judicial com dívida de R$ 57,5 milhões

Fábrica brasileira de semicondutores investe R$ 650 milhões para produzir mais e até exportar chips

Mais na Exame