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O estudo da Prevent Senior que já curou 300 pessoas com cloroquina

Operadora usa remédio em estágios iniciais da covid-19 e diz que 300 pacientes já tiveram alta. "Dados trazem esperança", diz diretor

Fachada de hospital da Prevent Senior no Tatuapé (Prevent Senior/Divulgação)

Mariana Desidério

Publicado em 8 de abril de 2020 às 19h13.

Última atualização em 9 de abril de 2020 às 00h16.

A operadora de saúde Prevent Senior realiza uma pesquisa sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus para pacientes em fase inicial da doença. O estudo tem sido tema de discussão, uma vez que a indicação do Ministério da Saúde é para uso do remédio em pacientes em estado grave. A pesquisa ainda não foi publicada. Mas a companhia afirma que, até agora, 500 pacientes receberam o tratamento em estágio inicial da doença. Desses, 300 foram internados e já receberam alta.

Em entrevista à EXAME, o médico e diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, detalhou a pesquisa que ainda está em andamento. Além do tratamento para pacientes internados, a operadora estuda tratamento para pacientes ambulatoriais, sem internação, que podem até receber o medicamento em casa. A empresa não divulga quantos pacientes foram tratados nessa modalidade nem as taxas de mortes com o uso do remédio nos estágios iniciais da doença. "O que posso dizer é que os dados são robustos e trazem esperança de tratamento adequado para a população", diz Júnior.

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Leia a entrevista:

Pode explicar o estudo que vocês estão fazendo com a cloroquina no tratamento de covid-19?

Hoje saiu um estudo da Fiocruz que achamos fantástico e que corrobora os resultados que estamos encontrando aqui. Eles fizeram uma avaliação do uso da cloroquina em pacientes em estado grave e identificaram que a eficiência nesses casos é baixa. Isso eu já sabia. O estudo da Fiocruz identifica a observação que fizemos há duas semanas, de que a introdução para pacientes graves tem baixíssimo efeito. Criamos então uma metodologia de estudo científico para pacientes antes de chegar ao estado grave. Nesse tratamento, usamos a hidroxicloroquina, que é menos tóxica. É importante ressaltar que esse medicamento não é novo, é usado no tratamento de lúpus, artrite.

E o que vocês identificaram até agora?

Traçamos uma linha do tempo da doença, de um a dez dias, a partir do início dos sintomas. Do primeiro ao terceiro dia, a pessoa tem sintomas de gripe típicos. Do terceiro ao quinto dia, apresenta febre associada. No quarto e no quinto dia, esse quadro evolui para uma dispneia (dificuldade de respirar). Essa é a evolução dentro de um padrão clássico de gravidade. E, no nosso entendimento, a ação mais adequada do medicamento começa a ser aparente após 48 horas do uso da medicação. Então eu preciso de dois dias para apresentar resposta adequada com efeito no controle da reprodução do vírus. Se inicio o tratamento tardio, esse paciente já tem quase dez dias de doença. Nos pacientes mais frágeis, com dez dias, infelizmente eles evoluem com padrão gravíssimo, necessitando de hospitalização e UTI. Essa linha do tempo indica a necessidade da entrada precoce da medicação. Com o passar dos dias, há um aumento do processo inflamatório no corpo, principalmente nos pulmões. O objetivo da medicação precoce é impedir a replicação viral e não deixar que o corpo entre em processo inflamatório agudo. Temos evidência robusta de que a introdução precoce é extremamente efetiva no tratamento de pacientes com covid-19, os resultados do trabalho científico vão poder confirmar isso e dar um alento a todos que vão precisar de tratamento devido à infecção.

Quantas pessoas já foram tratadas dentro desse protocolo?

Já temos 500 pacientes tratados com hidroxicloroquina mais azitromicina no início da doença dos que precisaram de internação. Desses, 300 já receberam alta hospitalar e estão em casa.

Quais os riscos associados ao uso desse medicamento no estágio precoce da doença?

O principal risco no uso agudo da medicação é que um em cada 1.000 paciente pode ter arritmia durante o uso, que é revertida com a suspensão da medicação.

Quais pacientes são elegíveis para esse uso?

Pacientes de grupo de risco, frágeis e que apresentam sintomas.

A Prevent Senior também está receitando a hidroxicloroquina para pacientes em consultas virtuais?

Temos um segundo protocolo de pesquisa em pacientes ambulatoriais, que não são casos de internação. Eles fazem acompanhamento via telemedicina. Se tiver os sintomas clássicos é convidado a fazer uma tomografia, coletar outros exames. E existe também a indicação da medicação apenas pelos sintomas clínicos. Para isso, o paciente tem de assinar um termo da pesquisa científica, se ele aceita é encaminhado para tomar esse remédio. Muitos não aceitam participar e continuam sendo monitorados. É importante ressaltar que, em algum momento da vida, esses pacientes avaliados via telemedicina passaram por uma consulta prévia presencial conosco. Se o paciente tem algum problema cardíaco, por exemplo, ele não será indicado para tomar a medicação somente com a avaliação clínica. E se ele tiver qualquer um dos padrões alterados é convidado a passar presencialmente.

Quando o paciente aceita esse tratamento, qual é o procedimento?

Entregamos a medicação na casa dele, uma vez que ela não é encontrada na rede.

Quantos pacientes ambulatoriais já foram tratados dessa maneira?

Esse dado faz parte da pesquisa que será publicada, não podemos divulgar.

O uso da hidroxicloroquina em estágio precoce é autorizado pelo Ministério da Saúde?

Essa não é uma medicação nova, ela é usada há mais de 70 anos. Estamos identificando a eficiência em outro padrão de doença. Os dois protocolos de pesquisa, tanto do uso em pacientes internados quanto do uso ambulatorial, foram enviados para a Plataforma Brasil da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do governo federal e receberam autorização. Também fazemos parte de um estudo multicêntrico semelhante junto com o Hospital Albert Einstein.

A Prevent Senior teve reuniões com o governo federal para falar sobre o tema?

Temos uma ótima relação com o ministério, com o governo federal e com todos os governos. Essas informações que estou passando para você são divulgadas para o governo. Existe um padrão de ética em pesquisa que tem de ser seguido para proteger a pesquisa e garantir que ela seja feita de forma isenta, sem qualquer viés.

O senhor defende que haja um protocolo para uso precoce do medicamento em todo o país?

Estamos fazendo um trabalho científico que busca evidência técnica para comprovação da eficácia da introdução da medicação em fase precoce da doença.

Quando devem publicar o estudo?

Já foi feita a revisão técnica e estamos enviando para publicação em revista indexada de âmbito mundial, o interesse é do mundo todo.

O uso desse medicamento em estágio inicial da doença tem sido estudado em outros países?

Temos contato com outros países o tempo todo. E sim há estudos semelhantes em outros países.

O número de mortes por coronavírus em pacientes da Prevent Senior diminuiu depois que começaram a usar esse protocolo?

Não posso relatar o número de óbitos, isso faz parte da pesquisa. O que posso dizer é que os dados são robustos e trazem esperança de tratamento adequado para a população.

Acredita que com o uso da hidroxicloroquina precoce é possível abrir mão de isolamento social?

De jeito nenhum. A quarentena é fundamental para a estruturação de toda a sociedade e proteção dos pacientes frágeis. Enquanto não houver resposta científica, há necessidade de proteção da população. Havendo evidência científica, aí todos os governos vão poder tomar as medidas mais adequadas para dar respostas a suas economias.

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