Negócios

Triunfo sobre a tragédia

Apesar da crise que se seguiu aos atentados nos Estados Unidos, a Embraer conquistou ótimos resultados

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Os 9 000 quilômetros que separam Nova York de São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde fica a sede da Embraer, não impediram que ela fosse uma das primeiras empresas brasileiras a sentir o impacto dos atentados ao World Trade Center, no fatídico 11 de setembro de 2001. Imediatamente após a tragédia e nas semanas que seguiram, companhias de aviação comercial de todo o mundo sofreram uma drástica redução na ocupação de seus vôos. Num efeito dominó, fabricantes de aviões e fornecedores de peças viram-se obrigados a retardar entregas programadas. Datas de pagamento foram atrasadas. Em todo o mundo, cerca de 210 000 funcionários do setor foram demitidos. A Embraer, que planejara entregar um total de 205 aviões no ano, baixou sua meta para 160. A empresa demitiu, no mês seguinte ao ataque, 1 800 de seus 12 700 funcionários, ou 14% de sua força de trabalho. Suas ações na Bolsa de Nova York caíram à metade em apenas dez dias. "Foi um ano absolutamente atípico", diz Maurício Novis Botelho, presidente da Embraer.

Ainda assim, a ex-estatal apresentou ao final de 2001 excelentes resultados, que a destacaram, pela terceira vez, como a melhor empresa do setor automotivo de MELHORES E MAIORES (a Embraer também foi sagrada Empresa do Ano em 1999). "Reagimos com flexibilidade e agilidade, o que certamente contribuiu para nosso desempenho positivo", afirma Botelho. "Reduzimos a produção mensal média de aeronaves de 18 para 11." No final, a Embraer não teve nenhum pedido cancelado, embora algumas datas de entrega de aeronaves tenham sido postergadas. Sua carteira de pedidos fechou 2001 em 23,4 bilhões de dólares.

Quem olhasse apenas os números da companhia ao final do ano não poderia imaginar que algo de anormal tivesse acontecido. De acordo com os dados ajustados por MELHORES E MAIORES, a Embraer faturou 3,08 bilhões de dólares em 2001, contabilizando um crescimento de 22,3% e posicionando-se como a segunda em liderança de mercado no setor automotivo. O lucro superou os 451 milhões, possibilitando que sua rentabilidade do investimento no ano alcançasse 34,8% -- o melhor índice do setor. Também é a líder em riqueza criada por empregado, com 145 356 dólares. Além disso, a empresa manteve sua posição de quarta maior fabricante de aviões comerciais do mundo e segunda maior exportadora brasileira. Em 2001, exportou 2,9 bilhões de dólares, o que, descontadas suas importações, gerou um superávit de 1,1 bilhão de dólares na balança comercial do país.

Mesmo depois do atentado, boas notícias continuaram a vir de São José dos Campos. Em outubro, a empresa fez a apresentação pública do Embraer 170 -- o primeiro integrante da nova família de jatos comerciais para a faixa de 70 a 108 passageiros --, que já nasceu com mais de 200 pedidos em carteira. Se somadas as encomendas de seu irmão maior, o Embraer 190, os pedidos ultrapassam 300 unidades. "A nova família de jatos tem um papel fundamental no futuro da companhia", diz Botelho. Junto com parceiros, a Embraer está investindo 850 milhões de dólares no desenvolvimento dos modelos.

Outra novidade foi o início das operações da pista de pouso junto da nova fábrica que está sendo construída em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo. A pista, com 5 quilômetros de extensão -- a maior do Hemisfério Sul --, era uma necessidade antiga e representa economia de custos e de tempo. Os ensaios dos protótipos de aviões da Embraer até então eram realizados nos Estados Unidos. Além dos testes de aeronaves comerciais, a unidade concentrará a fabricação de jatos executivos e aviões militares. Considerado apenas um contrato de 420 milhões de dólares assinado com a Força Aérea Brasileira no ano passado, não faltará serviço. A Embraer vai produzir para a FAB 99 aviões Super Tucano/ALX, destinados à segurança e à vigilância do espaço aéreo da Amazônia.

Gavião Peixoto talvez não seja o único lugar, além de São José dos Campos, a sediar uma fábrica da Embraer. Em 2001, a empresa iniciou negociações com o governo da China para montar uma fábrica lá em parceria com a Avic II (Aviation Industries of China). Se o negócio for concretizado, a expectativa é que sejam produzidos cerca de 400 jatos comerciais para o mercado chinês nos próximos dez anos -- um salto e tanto num país para o qual a Embraer, até hoje, vendeu apenas cinco jatos.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

Sentimentos em dados: como a IA pode ajudar a entender e atender clientes?

Como formar líderes orientados ao propósito

Em Nova York, um musical que já faturou R$ 1 bilhão é a chave para retomada da Broadway

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Mais na Exame