Estratégia contra a crise: a Tramontina vai adicionar ao seu portfólio um total de 30 itens de eletroportáteis de alto padrão fabricados pela australiana Breville (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2015 às 10h10.
São Paulo - Batedeiras que vão ser vendidas a mais de R$ 2 mil fazem parte da estratégia da gaúcha Tramontina para resistir à crise econômica.
A indústria de produtos para a casa vai adicionar ao seu portfólio, a partir desta terça-feira, 15, um total de 30 itens de eletroportáteis de alto padrão fabricados pela australiana Breville.
Por enquanto importados, os produtos poderão ser fabricados localmente no futuro, afirma o presidente do conselho da Tramontina, Clovis Tramontina.
O objetivo é distribuir os produtos para toda a América Latina a partir do Brasil.
A linha premium de eletroportáteis, que chega para concorrer com a Kitchen Aid e será distribuída com exclusividade pela Tramontina em 300 pontos de venda de todo o país, faz parte de um direcionamento "premium" que a fabricante gaúcha está desenvolvendo em 2015 para não sucumbir à crise.
A meta da Tramontina é crescer 17% no ano e superar a marca de R$ 4,5 bilhões de faturamento. "Até julho, estávamos conseguindo cumprir o cronograma, mas ficamos abaixo em agosto", afirma o empresário.
A corrida para buscar um diferencial que vá além do preço passa por outros tipos de produto. Mais conhecida pelas linhas de cutelaria e panelas, a Tramontina hoje também produz localmente fornos e coifas de alto padrão.
Para mostrar tudo o que tem a oferecer em aço inox - sua principal matéria-prima, tanto em produtos para o lar quanto em eletrodomésticos -, a empresa também montou lojas próprias.
Tem uma unidade no Rio de Janeiro e outra em Salvador. Ainda em 2015, abrirá outra unidade em terras cariocas, no bairro de Botafogo.
Do lado industrial, os investimentos até o fim do ano vão se concentrar em uma fábrica de móveis plásticos, que fica em Pernambuco. "A ideia é produzir uma linha com mais design, mais sofisticada", diz Tramontina.
Ele afirma que essa corrida rumo ao alto padrão tem razão de ser: "Na crise, não dá para só pensar em preço. A gente busca um produto premium, pois neste segmento não tem crise."
A empresa tem dez fábricas no Brasil, sendo que as maiores ficam no Rio Grande do Sul. Lá fora, a companhia mantém uma unidade industrial nos Estados Unidos, voltada especialmente às vendas naquele país.
Apesar de atuar em eletrodomésticos, fornos e ferramentas, a área de cutelaria, panelas e utensílios para o lar ainda é o carro-chefe da empresa, respondendo por 75% de seu faturamento. A Tramontina tem hoje 7,5 mil funcionários.
Câmbio
Exportadora desde os anos 1960, a empresa deve se beneficiar parcialmente com a alta do dólar. As exportações da companhia devem ficar em US$ 200 milhões este ano - mesmo patamar do ano passado -, mas a rentabilidade deverá ser auxiliada pela alta do dólar.
Por outro lado, a estratégia inicial de importação dos produtos Breville será prejudicada pela desvalorização do real.
"Quando começamos a negociar este contrato, o dólar valia R$ 2,20. Então, nesse caso, é claro que atrapalha", diz Clovis Tramontina.
Independentemente da volatilidade do câmbio e também das dificuldades econômicas atuais, o empresário afirma que a Tramontina seguirá investindo.
"Não dá para parar por causa da crise. Se fizermos isso, não teremos como aproveitar a retomada", explica. "Hoje, a gente vive uma crise política e de confiança, mas a economia não parou. As pessoas estão comprando menos, mas estão comprando."
O empresário diz que, em 104 anos, a Tramontina não só sobreviveu a diferentes regimes políticas, moedas e pacotes econômicos, mas também a duas guerras mundiais.
Estratégia
De acordo com o especialista em marcas Eduardo Tomya, a Tramontina e a Breville estão fazendo um "cobranding", ou seja, promovendo a união de duas marcas com bons atributos.
"A estratégia costuma funcionar, como a união de Apple e Nike, que desenvolvem produtos juntas." No caso da linha Tramontina by Breville, explica Tomya, a Tramontina vai emprestar credibilidade local, enquanto a Breville contribuirá com o aspecto "aspiracional" que traz de fora.
"Na crise, este tipo de proposta costuma funcionar. Não dá para as empresas competirem só em preço."