Tetra Pak se prepara para enfrentar a concorrência
A entrada de competidores e o surgimento de novas soluções para conservação do leite agitam o mercado de embalagens longa vida
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2011 às 16h03.
São Paulo - Quanto tempo uma empresa consegue ficar no mercado praticamente sem concorrentes? No caso da Tetra Pak foram muitas décadas. Presente no Brasil desde 1957, a companhia de origem sueca reinou absoluta no país por quase todo este período. Sua tecnologia de produção de embalagens assépticas lhe permitiu abocanhar mais de 90% deste nicho de mercado. Seu reinado, porém, pode estar com os dias contados. Outros concorrentes começam a entrar no jogo para tentar abocanhar ao menos uma fatia do setor. E eles chegam de várias direções.
A tecnologia da Tetra Pak foi uma das grandes responsáveis pela popularização no país do leite longa vida (UHT). A combinação da pasteurização na indústria leiteira (processo que destrói microrganismos) com as embalagens cartonadas da empresa permitiu que o produto pudesse ser guardado por até seis meses – o que no período de inflação elevada, em que as famílias esforçavam-se para estocar alimentos, veio muito a calhar.
Foi assim que este mercado dobrou de tamanho em pouco mais de uma década. Em 1993, o consumo era de pouco mais de 5 bilhões de litros de leite, mas o volume chegou a mais de 10 bilhões de litros em 2006. O velho “leite de saquinho” definitivamente ficou para trás.
A Tetra Pak aproveitou, é claro, para avançar. Hoje, no entanto, seus concorrentes globais voltam-se ao Brasil com planos agressivos. A suíça Sig Combibloc – que produz, assim como a Tetra Pak, embalagens cartonadas assépticas e máquinas de envase para alimentos e bebidas – é uma dessas empresas. Com um investimento de 90 milhões de euros, ela acabou de inaugurar uma fábrica no Paraná com a capacidade de fabricar um bilhão de embalagens ao ano.
Em dois anos, a meta é dobrar a produção. “Nossa chegada muda o cenário. A ideia é promover uma concorrência saudável”, diz Luciana Galvão, diretora de marketing da Sig Combibloc no Brasil, que já conquistou contratos de peso, como os do Grupo Schincariol e da Brasil Foods (dona das marcas Batavo e Elegê).
Em termos mundiais, o mercado de embalagens cartonadas comporta, de fato, poucos competidores. Além da Tetra Pak e da Sig, apenas duas outras empresas se destacam. São elas a norueguesa Elopak, que não atua no Brasil, e a chinesa GA Pack, que começa a ter representantes por aqui.
Outras soluções – Mas não é só a caixinha do leite que agita o mercado de embalagens. Há empresas menores, as quais oferecem diferentes soluções de acondicionamento, que também têm planos para o país. Começa a crescer, por exemplo, a oferta de leite longa vida em recipientes de plástico – chamados de ‘embalagem barriga mole’ ou sachê.
O leite longa vida neste tipo de saquinho – que nada tem a ver com o que dominou supermercados e padarias antes dos anos 90 – não precisa ser refrigerado e consegue ficar até quatro meses nas prateleiras; praticamente o mesmo tempo que as embalagens cartonadas.
“Conseguimos oferecer um custo até 20% menor ao consumidor final”, diz Jack Chen, presidente da Plastrela, que atua neste novo segmento. “Trata-se de uma alternativa ao consumidor final”, completa. Por trás disso está sua parceira, a produtora de equipamentos de origem finlandesa Elecster. A companhia já começa a trazer para o Brasil máquinas que são capazes de produzir não só embalagens para leites de plástico, como outros produtos.
“Deu muito certo em outros países da América latina, como a Colômbia”, diz Chen. Estima-se que, enquanto uma embalagem cartonada custe 40 centavos a unidade, a de plástico pode sair por cerca de 10 centavos. “Há mercado para todos”, diz Mauricio Groke, presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre). “Cerca de 60% da produção nacional de embalagens para leite longa vida é dominada pelas cartonadas. O restante é abastecido por pequenos produtores, que podem aderir ao sachê”, afirma.
Reação – Enquanto isso a Tetra Pak não fica parada. “Inovação é o DNA de nossa empresa”, garante Eduardo Eisler, vice-presidente de estratégia de negócios. “Nossos esforços visam aprimorar constantemente a eficiência de nossos equipamentos e embalagens. Contamos hoje com um portfólio de cerca de 150 tipos de embalagens e inúmeras combinações”, explica.
Polêmica – Há alguns dias, o ex-presidente Lula foi contratado pela companhia sueca para uma conferência fechada. Em dado momento da conversa, ele se esqueceu de que não estava mais no poder e prometeu tentar articular junto ao governo federal uma forma de reduzir o ICMS do setor. Se a prática em si não configurasse tráfico de influência, até que poderia ser bem-vinda. Só os impostos incidentes sobre o leite in natura somam 18,65% de seu preço. “É claro que todos os custos são repassados aos consumidores”, diz João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). “E vai ser assim enquanto não houver reforma tributária”.
São Paulo - Quanto tempo uma empresa consegue ficar no mercado praticamente sem concorrentes? No caso da Tetra Pak foram muitas décadas. Presente no Brasil desde 1957, a companhia de origem sueca reinou absoluta no país por quase todo este período. Sua tecnologia de produção de embalagens assépticas lhe permitiu abocanhar mais de 90% deste nicho de mercado. Seu reinado, porém, pode estar com os dias contados. Outros concorrentes começam a entrar no jogo para tentar abocanhar ao menos uma fatia do setor. E eles chegam de várias direções.
A tecnologia da Tetra Pak foi uma das grandes responsáveis pela popularização no país do leite longa vida (UHT). A combinação da pasteurização na indústria leiteira (processo que destrói microrganismos) com as embalagens cartonadas da empresa permitiu que o produto pudesse ser guardado por até seis meses – o que no período de inflação elevada, em que as famílias esforçavam-se para estocar alimentos, veio muito a calhar.
Foi assim que este mercado dobrou de tamanho em pouco mais de uma década. Em 1993, o consumo era de pouco mais de 5 bilhões de litros de leite, mas o volume chegou a mais de 10 bilhões de litros em 2006. O velho “leite de saquinho” definitivamente ficou para trás.
A Tetra Pak aproveitou, é claro, para avançar. Hoje, no entanto, seus concorrentes globais voltam-se ao Brasil com planos agressivos. A suíça Sig Combibloc – que produz, assim como a Tetra Pak, embalagens cartonadas assépticas e máquinas de envase para alimentos e bebidas – é uma dessas empresas. Com um investimento de 90 milhões de euros, ela acabou de inaugurar uma fábrica no Paraná com a capacidade de fabricar um bilhão de embalagens ao ano.
Em dois anos, a meta é dobrar a produção. “Nossa chegada muda o cenário. A ideia é promover uma concorrência saudável”, diz Luciana Galvão, diretora de marketing da Sig Combibloc no Brasil, que já conquistou contratos de peso, como os do Grupo Schincariol e da Brasil Foods (dona das marcas Batavo e Elegê).
Em termos mundiais, o mercado de embalagens cartonadas comporta, de fato, poucos competidores. Além da Tetra Pak e da Sig, apenas duas outras empresas se destacam. São elas a norueguesa Elopak, que não atua no Brasil, e a chinesa GA Pack, que começa a ter representantes por aqui.
Outras soluções – Mas não é só a caixinha do leite que agita o mercado de embalagens. Há empresas menores, as quais oferecem diferentes soluções de acondicionamento, que também têm planos para o país. Começa a crescer, por exemplo, a oferta de leite longa vida em recipientes de plástico – chamados de ‘embalagem barriga mole’ ou sachê.
O leite longa vida neste tipo de saquinho – que nada tem a ver com o que dominou supermercados e padarias antes dos anos 90 – não precisa ser refrigerado e consegue ficar até quatro meses nas prateleiras; praticamente o mesmo tempo que as embalagens cartonadas.
“Conseguimos oferecer um custo até 20% menor ao consumidor final”, diz Jack Chen, presidente da Plastrela, que atua neste novo segmento. “Trata-se de uma alternativa ao consumidor final”, completa. Por trás disso está sua parceira, a produtora de equipamentos de origem finlandesa Elecster. A companhia já começa a trazer para o Brasil máquinas que são capazes de produzir não só embalagens para leites de plástico, como outros produtos.
“Deu muito certo em outros países da América latina, como a Colômbia”, diz Chen. Estima-se que, enquanto uma embalagem cartonada custe 40 centavos a unidade, a de plástico pode sair por cerca de 10 centavos. “Há mercado para todos”, diz Mauricio Groke, presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre). “Cerca de 60% da produção nacional de embalagens para leite longa vida é dominada pelas cartonadas. O restante é abastecido por pequenos produtores, que podem aderir ao sachê”, afirma.
Reação – Enquanto isso a Tetra Pak não fica parada. “Inovação é o DNA de nossa empresa”, garante Eduardo Eisler, vice-presidente de estratégia de negócios. “Nossos esforços visam aprimorar constantemente a eficiência de nossos equipamentos e embalagens. Contamos hoje com um portfólio de cerca de 150 tipos de embalagens e inúmeras combinações”, explica.
Polêmica – Há alguns dias, o ex-presidente Lula foi contratado pela companhia sueca para uma conferência fechada. Em dado momento da conversa, ele se esqueceu de que não estava mais no poder e prometeu tentar articular junto ao governo federal uma forma de reduzir o ICMS do setor. Se a prática em si não configurasse tráfico de influência, até que poderia ser bem-vinda. Só os impostos incidentes sobre o leite in natura somam 18,65% de seu preço. “É claro que todos os custos são repassados aos consumidores”, diz João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). “E vai ser assim enquanto não houver reforma tributária”.