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Tem início primeiro julgamento por pesticida de glifosato da Monsanto

O Roundup, um dos pesticidas mais usados no mundo, contém a substância controversa que é alvo de estudos científicos sobre seu caráter cancerígeno

 (Charles ORear/USDA/Divulgação)

(Charles ORear/USDA/Divulgação)

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AFP

Publicado em 9 de julho de 2018 às 16h44.

A Monsanto deliberadamente ocultou os riscos de seu herbicida de glifosato? Essa é uma das perguntas que um tribunal americano examinará a partir desta segunda-feira no julgamento movido por um indivíduo com câncer em estágio terminal.

Embora haja milhares de processos em andamento nos Estados Unidos contra a gigante agroquímica, a denúncia de Dewayne Johnson, americano de 46 anos, que trabalhou fumegando Roundup por mais de dois anos, é a primeira relacionada com este produto e seus possíveis efeitos cancerígenos a ser julgada.

O processo teve início oficialmente em meados de junho com a designação de um juiz, mas os debates aprofundados começam nesta segunda-feira, depois de uma série de audiências técnicas. Ele está previsto para durar três semanas em San Francisco, na costa oeste do país.

Vendido há mais de 40 anos, o Roundup, um dos pesticidas mais usados no mundo, contém glifosato, uma substância muito controversa que é alvo de estudos científicos contraditórios sobre seu caráter cancerígeno.

A Monsanto, que poderia ser obrigada a pagar milhões de dólares em reparação de danos, sempre negou qualquer ligação entre o câncer e o glifosato.

Dewayne Johnson "luta por sua vida" depois de ter sido diagnosticado com linfoma não Hodgkin incurável há dois anos, afirma um de seus advogados, David Dickens, do escritório Miller, especializado na defesa de vítimas de produtos com defeitos.

"Não foi um azar", não se deve a um problema "genético", "é por sua exposição contínua ao Roundup e ao Ranger Pro" (produto similar da Monsanto), que ele pulverizou entre 2012 e 2014 nos terrenos escolares da cidade de Benicia, na Califórnia (oeste), garante Dickens.

"Isso poderia ter sido evitado", afirma o advogado, acusando a Monsanto - que acaba de ser adquirida pela alemã Bayer - de deliberadamente ocultar do público os riscos de seus produtos.

- Decisões contraditórias -

Os advogados de Johnson ainda não estabeleceram o valor que pretendem reivindicar, mas falam de uma "ação de vários milhões de dólares".

No entanto, o processo não será fácil para Johnson. Seus advogados terão que provar uma ligação entre sua doença, que causa muitas lesões na pele, e a fumigação do glifosato.

A pergunta é: "a exposição de Johnson ao glifosato causou o câncer? (...) Não causou câncer", diz Sandra Edwards, do escritório Farrella, Braun e Martel, um dos advogados da Monsanto.

Durante o julgamento, "eles vão ver muita informação e ciência", disse ela, observando que há "estudos que acompanharam por anos e anos pessoas que usaram esses produtos" sem concluir que eles causaram câncer.

"Legalmente, é extremamente difícil responsabilizar uma empresa por casos específicos de câncer ou outras doenças relacionadas a pesticidas", diz Linda Wells, da ONG Pesticide Action Network North America. Mas "se o senhor Johnson vencer este caso, será um grande golpe para toda a indústria de pesticidas", acrescenta Wells.

O caso é ainda mais complexo porque existem muitos estudos e decisões contraditórias sobre o glifosato.

Contrariando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), a Califórnia colocou o glifosato na lista de cancerígenos.

Neste estado, qualquer fabricante que tenha conhecimento do caráter cancerígeno comprovado ou suspeito de um produto deve obrigatoriamente incluir essa informação na embalagem.

O glifosato também está classificado como "provavelmente cancerígeno" desde 2015 pelo Centro Internacional de Pesquisa do Câncer, organismo da Organização Mundial da Saúde (OMS), diferentemente das agências europeias, a Efsa (segurança alimentar) e a Echa (produtos químicos).

O glifosato é particularmente polêmico na Europa. Após a decisão da União Europeia em novembro de renovar a licença do pesticida por cinco anos, o governo francês se comprometeu a deixar de usar esta substância para seus principais usos em três anos.

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