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Setor aéreo segue em crise sem encontrar solução

Para a deputada federal Yeda Crusius, a intervenção é a única forma de recuperar a Varig. E nesta semana, a Justiça do Trabalho mandou intervir em outra companhia aérea, a Vasp

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A crise nas companhias aéreas segue em um emaranhado de propostas e contrapropostas, decisões judiciais e intervenções parlamentares sem alcançar nenhuma solução. Varig e Vasp vivenciaram nesta semana mais alguns desdobramentos da agonia que protagonizam em praça pública.

Nesta sexta-feira (11/3), o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, recuou da idéia de intervenção governamental na Varig, proposta que ele mesmo havia ventilado ontem. Alencar afirmou que não há razões jurídicas que justifiquem um processo como esse. "O que o Estado deseja é uma solução de mercado", disse hoje, após participar de uma palestra na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, no Rio de Janeiro.

A intervenção voltou a ser cogitada depois que a Fundação Rubem Berta, que controla a Varig (25ª empresa no ranking das Melhores e Maiores de EXAME), proibiu que representantes do Unibanco e da Trevisan comparecessem a uma audiência pública no Senado, marcada para ontem. As duas empresas assessoram, atualmente, os controladores da Varig em um projeto de reestruturação da companhia. O objetivo era compreender a real situação da empresa.

"Quebrou-se a confiança na atual gestão da Varig. Para que a empresa seja salva, é preciso que uma nova diretoria assuma", afirma a deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS), coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa da Varig, que reúne 78 congressistas, entre senadores e deputados. "A irresponsabilidade da Fundação Rubem Berta já chegou ao limite", diz.

O grupo de parlamentares pretende entregar, na próxima terça-feira (15/3), um documento a Alencar com uma proposta formal de intervenção na companhia. De acordo com Yeda, não se trata de defender a estatização da empresa, mas sim de garantir o acesso a informações importantes sobre a situação da Varig, que seus atuais controladores estariam sonegando. "Continua sendo uma solução de mercado, mas que passa pelo governo. Se houver viabilidade para a empresa, elabora-se um plano de recuperação. Se não houver, liquida-se. Mas a Varig é viável", diz.

Em nota oficial, a companhia aérea condenou a proposta de intervenção. A empresa afirma que "em vez de reivindicar uma ação radical e totalitária dessa natureza, os chamados defensores da Varig deveriam demonstrar concretamente seu interesse numa solução justa". O texto declara, ainda que, apesar das dificuldades financeiras, a empresa está pagando as dívidas em dia e melhorando os índices operacionais.

Próximos passos

Mesmo que o governo recue novamente e a Varig sofra uma intervenção, seus problemas não terão nem de longe chegado ao fim. Uma nova diretoria teria a missão de recuperar a empresa, cujas operações estão ainda mais delicadas com o fim do compartilhamento de vôos com a TAM. A venda da empresa e a chegada de novos sócios a chamada "solução de mercado" defendida hoje por Alencar também não são soluções simples.

As dívidas da companhia são tão pesadas, que o patrimônio líquido está negativo em cerca de 6 bilhões de reais. "É um nível de endividamento muito alto. Nenhum investidor entraria na Varig, sem que a dívida já estivesse reestruturada", afirma André Castellini, sócio da consultoria Bain Brasil, especializada em gestão estratégica.

No momento, duas propostas são debatidas para salvar a Varig. A primeira é um encontro de contas entre o que a empresa deve ao governo e a indenização de 2,5 bilhões a 3 bilhões de reais concedida pelo Superior Tribunal de Justiça à Varig no final de 2004. A indenização refere-se às perdas sofridas com a defasagem das tarifas aéreas entre 1985 e 1992. Nessa época, o governo passou a controlar o reajuste dos preços das passagens e chegou a determinar, inclusive, o congelamento.

De acordo com Yeda Crusius, apesar de sua situação, a Varig é atraente para diversas companhias aéreas nacionais e internacionais, devido à forte presença em rotas internacionais. Nesta semana, por exemplo, o grupo português Pestana confirmou, por meio de comunicado à imprensa, que fez uma oferta para adquirir 20% da companhia, desde que pudesse também participar da gestão. A aquisição seria feita por meio da EuroAtlantic Airways, companhia aérea do grupo, cuja origem é o setor hoteleiro.

O comunicado menciona que a proposta foi encaminhada ao governo brasileiro, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e à Varig. Todos os citados negam que tenham sido procurados. Alencar, afirmou hoje que não foi oficialmente informado da oferta. Já a Varig, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou que conhece o interesse do Pestana, mas que não havia recebido uma proposta formal.

Vasp

As turbulências no setor aéreo também sacudiram a Vasp (201ª empresa no ranking Melhores e Maiores de EXAME) nesta semana. Ontem, a 14ª Vara da Justiça Trabalhista de São Paulo determinou a intervenção, por até 12 meses, na companhia, a fim de que sejam quitadas dívidas de 75 milhões de reais com cerca de 2 000 funcionários e ex-funcionários. Desde dezembro, a empresa não paga os salários. A decisão também bloqueia os bens do controlador da Vasp, Wagner Canhedo. O interventor será o Departamento de Aviação Civil (DAC).

Para a promotora Sandra Lia Simon, do Ministério Público do Trabalho, a medida é bem-vinda porque aumenta a garantia de que os funcionários receberão seus vencimentos. Procurada pelo Portal EXAME, a empresa não se pronunciou.

Com informações da Agência Brasil.

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