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Sem dinheiro nem cartão: 50 mil lojas já têm QR Code do Mercado Pago

A expansão em estabelecimentos físicos é parte da estratégia para transformar os meios de pagamento no país. Oportunidade e concorrência são grandes

Marcos Galperin: o argentino é CEO do Mercado Livre, empresa que mira estratégia de pagamentos digitais (Germano Lüders/Exame)

Marcos Galperin: o argentino é CEO do Mercado Livre, empresa que mira estratégia de pagamentos digitais (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2018 às 15h22.

Última atualização em 5 de dezembro de 2018 às 15h48.

A varejista online Mercado Livre já tem 50.000 estabelecimentos aceitando pagamento por QR Code via seu aplicativo Mercado Pago, anunciou a companhia nesta quarta-feira.

A novidade chegou primeiro à Argentina, onde o Mercado Livre foi fundado, e em setembro ficou disponível no Brasil, seu maior mercado. Há dois meses, a Argentina já tinha mais de 160.000 estabelecimentos cadastrados para receber pagamentos via QR Code — e a meta é que até o final do ano 500.000 pessoas façam compras em estabelecimentos físicos via aplicativo. No Brasil, o potencial é ainda maior: 2,5 milhões de pessoas já têm saldo em conta no Mercado Pago.

Para o lojista começar a utilizar a tecnologia, basta entrar no site e criar o QR Code do seu estabelecimento para ficar apto a receber pagamentos pelo aplicativo. O usuário pode pagar com o saldo disponível em sua conta Mercado Pago ou selecionando um de seus cartões de crédito cadastrados no aplicativo.

Uma das vantagens, para os lojistas, é eliminar o intermediário nas transações. Outras podem vir com o tempo: redes de restaurantes estão desenvolvendo junto com a empresa soluções de cardápios que já trazem a opção de pedido e pagamento via QR Code.

A expansão da base de pagamentos em estabelecimentos físicos é parte da estratégia do Mercado Livre na transformação dos meios de pagamento na América Latina. Segundo reportagem da última edição de EXAME, a companhia criada em 1999 com o objetivo de democratizar o varejo na região tem agora como objetivo maior democratizar o dinheiro.

Segundo seu fundador, o argentino Marcos Galperin, em dez anos o pagamento com dinheiro vai ser coisa rara em países como o Brasil, e o Mercado Livre pode ser um agente importante nesta transformação. Para isso, um dos pontos centrais da estratégia é romper as barreiras entre as compras físicas e as digitais.

O Mercado Pago foi criado em 2003 para facilitar a transação entre vendedor e comprador dentro do próprio Mercado Livre e, aos poucos, passou a permitir outros serviços, como pagamento de contas. Em 2015, lançou suas maquininhas no varejo, um nicho de mercado disputado a tapa por companhias como Cielo, PagSeguro, Stone e, agora, até a financeira Crefisa.

Num setor disputado por cada vez mais empresas, o Mercado Livre acredita ter como diferencial a experiência em desenvolver um mercado, equilibrando oferta e demanda — ou seja, varejistas que aceitam pagamentos digitais, e clientes com aplicativos instalados para pagar digitalmente. A companhia tem 40 milhões de clientes e 10 milhões de vendedores na América Latina. O plano é partir desta base para, aos poucos, pescar novos clientes no mar aberto. “O potencial é enorme. Estamos em conversas com redes de farmácias, restaurantes, supermercados, lanchonetes e franquias”, diz Tulio Oliveira, diretor do Mercado Pago. “Estamos focados na digitalização do mundo offline”.

Além do poder de escala, o Mercado Livre tenta ganhar a clientela oferecendo novos serviços aos varejistas e aos consumidores. Nesta quarta-feira a empresa também anunciou que as contas do Mercado Pago terão rendimento estimado em 5,2% ao ano via aplicação no Tesouro. Em novembro a empresa também recebeu autorização do Banco Central para atuar como uma instituição de pagamentos, permitindo a seus usuários receber salários e transferir dinheiro.

A inspiração para os pagamentos no varejo físico vem da China, onde mais de 60% das compras feitas em 2017 foram pagas digitalmente. Nas grandes cidades chinesas, garçons usam QR Code em seus aventais para receber gorjetas e artistas de rua recebem transferências digitais em vez de moedas no chapéus. Duas gigantes dominam o setor por lá: o WeChat Pay e o AliPay, que hoje têm juntos mais de 1,3 bilhão de clientes.

No Ocidente, o país mais ativo nos pagamentos via QR code é a Suécia, onde 95% das compras feitas por jovens até 24 anos são digitais – com cartão ou, cada vez mais, com QR Code. Um quinto da população não usa mais caixa eletrônico, e mais de quatro mil implantaram microchips na mãos para pagar pedágios e viagens de trem automaticamente.

Por lá, a euforia é tanta que o governo está se perguntando se as mudanças não estão acontecendo rápido demais, reduzindo o poder do Estado como fiador soberano. No Brasil, o Banco Central tem estimulado as inovações observando a “integridade do sistema – levou a audiência, em novembro, as transferências instantâneas a qualquer hora do dia. Técnicos do futuro governo, segundo EXAME apurou, consideram a desconcentração bancária nestes novos serviços como uma prioridade.

A tendência é que o Mercado Livre ganhe cada vez mais concorrentes com estratégias cada vez mais disruptivas e agressivas — entre elas estão empresas de entregas como Rappi e iFood, adquirentes como a Cielo e os grandes bancos. A tecnologia, segundo executivos do setor, é de fácil acesso. O desafio está na confiabilidade do sistema, na proteção contra fraudes, na facilidade de uso dos aplicativos.

O mercado está aberto. Você pode até não vir a instalar um microchip nas mãos, mas é bom ir se acostumando à onda do QR Code.

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