Schvartsman:"Vale é joia brasileira e não pode ser condenada por acidente"
O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, afirmou que a empresa não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 14h16.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às 14h47.
Brasília — O presidente da Vale , Fábio Schvartsman, disse nesta quinta-feira, 14, que a companhia de mineração é uma "joia brasileira" que não pode ser condenada pelo que aconteceu na barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e deixou 166 mortos e 155 desaparecidos. O executivo reconheceu que o sistema de monitoramento de barragens da companhia tem falhas e disse que todo o processo será revisado com base nas melhores normas internacionais.
"A Vale é uma das melhores empresas que eu conheci da minha vida. É uma joia brasileira, que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia", disse, ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados. "A Vale humildemente reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, pois uma barragem caiu."
Schvartsman afirmou que a companhia está em contato com o U.S. Army Corps of Engineers, órgão que licencia todas as barragens nos EUA, para revisar seus processos. O executivo disse ainda que o órgão poderá "colaborar com o novo Código de Mineração, introduzindo novas regras para o funcionamento de barragens".
O Código de Mineração brasileiro é de 1967, e a proposta enviada pelo governo Michel Temer em 2017, por meio de Medida Provisória, perdeu validade no ano passado, pois a Câmara dos Deputados não votou o projeto. Pelo Código de Mineração, a multa máxima que pode ser aplicada a uma mineradora por violar a legislação é de R$ 3.421,06.
"Vamos trabalhar de todas as formas possíveis para descobrir o que aconteceu", disse Schvartsman. "A Vale não quer, não pode e não deve ter problemas com barragens. Isso que aconteceu é inaceitável, então, vamos recorrer à ajuda externa."
O executivo disse ainda que a Vale vai realizar um seminário com especialistas internacionais para discutir aperfeiçoamentos nas regras para construção e manutenção de barragens.
A Vale tem cerca de 500 barragens de mineração e, de acordo com o presidente da empresa, o ideal é que o processo não seja burocrático e seja feito localmente, com independência e de forma ágil. "É essencial compreender que a questão de barragens se sustenta em algo fundamental, que é o laudo de estabilidade, concebido por especialistas nacionais e internacionais. É a pedra fundamental para mineração na Vale, no Brasil e no mundo", disse. "É impossível gerir um sistema que, mundialmente, tem dezenas de milhares de barragens no mundo se não for com base nesse sistema. Se a barragem corre risco iminente, o especialista não dará o laudo de estabilidade. Todo o sistema operacional é um sistema de delegação", acrescentou.
Schvarstman afirmou que a Vale tem 70 anos de história e nunca teve problemas com barragens antes do episódio de Brumadinho. A barragem de Mariana, que se rompeu em novembro de 2015 e causou 19 mortes, pertencia à Samarco, joint venture entre a Vale e a BHP Billiton.
Ele disse ainda que a barragem do Córrego do Feijão foi comprada pela Vale de uma outra empresa, pois a companhia não utiliza barragens a montante e já tinha decidido descomissioná-las. "Depois de Mariana, a Vale já tinha decidido descomissionar todas as barragens a montante. Em 30 anos na mineração mundial, nunca havia havido desastre com barragem inativa. Feijão é a primeira em 30 anos", comentou.
Ele afirmou que a empresa já tinha pedido licenciamento ambiental para desativar a barragem de Brumadinho, mas o processo foi aprovado em dezembro de 2018, pouco antes da tragédia, no dia 25 de janeiro. "Como garantir que outras barragens não sofrerão o mesmo risco? Mudamos o monitoramento de todas as estruturas para 24 horas por dia, integral, para todas elas, com a intenção de termos capacidade de reação a qualquer mudança de situação", disse.
Schvartsman destacou que a evacuação de moradores de Barão de Cocais (MG), no dia 8 de fevereiro, foi determinada pela Agência Nacional de Mineração (ANM) devido à falta de uma assinatura no laudo de estabilidade da barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco."Esse tipo de situação se tornará mais frequente. A qualquer sinal, teremos reação muito rápida", disse. Em relação a Brumadinho, ele frisou que não havia demonstração de perigo iminente. "Se tivéssemos qualquer sinal relevante em relação a essa questão, teríamos agido em conformidade."
Ele disse que o foco da Vale no momento é a questão humana, mas admitiu que o rompimento da barragem é também um desastre ambiental. Segundo ele, a Vale já tem tomado atitudes diligentes e rápidas para conter esses impactos.
Entre as ações estão o monitoramento da qualidade da água no rio, fornecimento de água potável, recolhimento e tratamento de animais da região e coleta de peixes e transferência para viveiros. A Vale também instalou membranas de contenção para evitar que os rejeitos e sedimentos se espalhem ainda mais. Além disso, bombeiros estão abrindo diques no local do acidente. "A Vale tem colaborado de maneira aberta e direta com autoridades, da maneira mais rápida possível, para estar à altura do desastre causado", disse o executivo.