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"Sadigão" nasce com dívida de R$ 10,4 bilhões

Empresa resultante da fusão Sadia-Perdigão fará oferta de ações de R$ 4 bi para reduzir débitos

Um raio-X da Brasil Foods, criada pela fusão da Sadia com a Perdigão

Um raio-X da Brasil Foods, criada pela fusão da Sadia com a Perdigão

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A empresa criada pela fusão entre a Sadia e a Perdigão, denominada de Brasil Foods, nascerá com uma dívida líquida de 10,4 bilhões de reais. A maior parte herdada da Sadia, que fechou o primeiro trimestre deste ano com uma dívida líquida de 6,8 bilhões de reais, sendo 47,5% desse valor com vencimento no curto prazo.

O montante é considerado por analistas bastante elevado quando comparado à capacidade de geração de caixa da nova empresa. A dívida líquida da Brasil Foods será equivalente a 4,5 vezes o lucro antes de juro, impostos, depreciações e amortizações (Ebtida). "O ideal seria a metade disso", ressalta Peter Ping Ho, analista da corretora Planner.

O alto endividamento da Brasil Foods ajuda a explicar a queda das ações das duas empresas na BM&FBovespa. Às 12h04, os papéis da Perdigão (PRGA3) tinham queda de 4,26%, as ações ordinárias da Sadia (SDIA3) caíam 7,08% e as preferenciais (SDIA4) recuavam 2,64%.

A origem da dívida

A situação da Sadia se complicou no ano passado, quando a empresa contabilizou 2,6 bilhões de reais de perdas com operações financeiras. A empresa apostou em derivativos de câmbio fora do BM&FBovespa - portanto, no mercado a termo.

Com medo de perder rentabilidade com as exportações devido à queda do dólar, a empresa montou contratos bilionários em que apostava na manutenção da tendência de fortalecimento do real.

Com a quebra do banco americano Lehman Brothers e o agravamento da crise do crédito em todo o mundo, a moeda americana disparou no Brasil e obrigou a Sadia a levantar bilhões de reais para arcar com os compromissos assumidos com os bancos que estavam na outra ponta dos contratos de derivativos.

Como equacionar a dívida

A fusão com a Perdigão não resolve de imediato o problema do endividamento da Sadia porque os acionistas vão receber ações - e não dinheiro – após a conclusão do negócio. O plano da Brasil Foods é realizar nos próximos meses uma oferta de ações com o objetivo de captar 4 bilhões de reais.

Os acionistas de Sadia e Perdigão terão prioridade na oferta, que será estendida ao mercado caso não seja completamente absorvida pelos acionistas. "Esse dinheiro servirá para dar fôlego à empresa. Assim, ela poderá se reestruturar, incorporar a sinergia gerada pela união e elevar sua geração de caixa. Mas não resolve de imediato o problema do endividamento", explica Ping Ho.

Se os recursos forem totalmente direcionados ao pagamento de dívidas, o endividamento da Brasil Foods deverá recuar para cerca de 2,8 vezes o Ebtida, calcula o analista da Link Investimentos, Rafael Cintra.

O mercado esperava que o anúncio da fusão viesse acompanhado de um aporte de capital por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou ao menos de uma promessa do banco de que participará dessa operação de venda de ações.

EXAME apurou, no entanto, que isso não será anunciado agora porque o acordo com o BNDES ainda não está fechado. Tanto a Brasil Foods quanto o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disseram que a participação do banco é possível, mas ainda depente de negociações futuras.

A falta de segurança de que o BNDES vai adquirir papéis suficientes para garantir o sucesso da operação foi uma das razões apontadas pelo mercado para a queda das ações das duas empresas nesta terça-feira na BM&FBovespa.

Apesar do forte passivo, a Brasil Foods será a maior processadora de carne de frango do mundo, a décima maior empresa do setor alimentício das Américas e a segunda maior do Brasil, atrás somente da JBS-Friboi, com um faturamento anual de mais de 22 bilhões de reais. 

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