Em meio a um ciclo inédito de investimentos no setor de entretenimento no Brasil, o Hopi Hari busca se reposicionar diante da concorrência com gigantes como Beto Carrero e o novo parque da Cacau Show.
Para o especialista em branding Marcos Bedendo, o sucesso da retomada dependerá de licenciamento de marcas fortes, recuperação da imagem institucional e criação de um ecossistema integrado que transforme a região em destino turístico de permanência.
Confira a entrevista:
EXAME: Como o Hopi Hari se posiciona em relação à concorrência com outros parques temáticos no Brasil, como Beto Carrero e o futuro parque da Cacau Show?
MARCOS BEDENDO: Parques atraem tanto pessoas da região quanto de fora. O Hopi Hari acaba concorrendo de certa maneira com o Beto Carrero, e vai concorrer com o da Cacau Show — que é próximo dali — e, eventualmente, até com alguns ex-hoteleiros do interior. Concorre também com parques aquáticos e de águas termais localizados mais ao interior de São Paulo e em Goiás.
No fundo, todos participam de um mesmo ecossistema de entretenimento familiar. Embora um parque aquático ou de água termal não seja igual a um de diversões como o Hopi Hari, há sobreposição no tipo de programa que oferecem, disputando parte do mesmo público.
E, considerando o perfil de consumo da população brasileira e a localização estratégica do parque, próximo a uma região densamente povoada — com classes alta, média e outros segmentos —, há espaço para mais um parque dentro desse ecossistema.
EXAME: Como o cenário internacional influencia a concorrência com os parques nacionais?
MARCOS BEDENDO: No passado, esses parques nacionais competiam fortemente com os parques internacionais.
Hoje, fatores como o câmbio desfavorável, o alto custo de viagem e as restrições de visto dos Estados Unidos afastam parte do público. Isso afeta o turismo e abre espaço para opções nacionais.
EXAME: O Hopi Hari pode se diferenciar da concorrência?
MARCOS BEDENDO: Há possibilidade de o parque se reerguer com um posicionamento distinto do Beto Carrero, que é mais focado em shows.
O próprio parque da Cacau Show, ao que parece, será voltado a um público mais infantil. Já o Hopi Hari sempre teve um perfil mais adolescente. E existe espaço para essa segmentação.
EXAME: Qual a importância do licenciamento de marcas no setor hoje?
MARCOS BEDENDO: Hoje um parque precisa disso. No passado, o Hopi Hari criou seu próprio universo, com personagens e narrativa própria. Embora esse enredo possa ser resgatado — especialmente para quem o frequentou há anos —, atualmente é praticamente inviável operar sem marcas licenciadas.
Antigamente, o licenciamento era caro. Hoje, muitas empresas querem criar experiências imersivas e mágicas ligadas aos seus produtos. O Beto Carrero, por exemplo, tem áreas com Hot Wheels e outras propriedades. Hoje, o licenciador pode até aportar investimento em troca de visibilidade em um parque temático. Isso torna a negociação mais vantajosa.
O Hopi Hari deve procurar essas marcas para viabilizar novas áreas. O interesse é mútuo: a marca ganha contato direto com o público em um ambiente de fantasia.
EXAME: Mesmo assim, o conceito original do “país Hopi Hari” ainda pode ser aproveitado?
MARCOS BEDENDO: Esse tipo de criação é mais difícil hoje. Antes, havia menos histórias sendo contadas. Hoje, com o streaming e a multiplicidade de canais, há excesso de narrativas.
Porém, a história já foi criada. Pode ser aproveitada, talvez em menor escala ou mesclada com licenciamentos. O nome “Hopi Hari” ainda tem reconhecimento, principalmente no estado de São Paulo. Há lembrança afetiva — tanto positiva quanto negativa — que pode ser usada com cuidado.
EXAME: Como reposicionar a marca após os episódios negativos do passado?
MARCOS BEDENDO: A marca está enfraquecida por pouco uso e por associações negativas com acidentes fatais ocorridos no passado. O resgate das memórias positivas trará também as negativas.
É necessário planejamento para lidar com isso de forma consistente, destacando os pontos fortes e neutralizando os fracos.
EXAME: O investimento de R$ 200 milhões é suficiente para transformar o parque?
MARCOS BEDENDO: Sem acesso ao planejamento e aos números, não é possível avaliar se o valor é suficiente. Depende de quanto será destinado à infraestrutura, marketing e outras frentes.
Cinema, por exemplo, não parece ser um atrativo relevante, pois já está amplamente disponível. Um shopping pode ter mais impacto — especialmente se for no modelo outlet —, mas o público de outlet é diferente do de parque. É improvável que combinem as visitas.
EXAME: A localização do parque é uma vantagem competitiva?
MARCOS BEDENDO: A região tem infraestrutura boa, diferente do antigo Playcenter, que era dentro de São Paulo.
O Hopi Hari, por estar fora da capital, tem melhor acesso rodoviário e hotelaria mais barata. Isso permite pensar em um complexo parque-hotel, ainda que não replicável nos moldes de Orlando.
EXAME: Essa retomada do parque é sustentável ou pontual?
MARCOS BEDENDO: Se a retomada do parque é sustentável ou pontual, só o tempo dirá. Se os empreendimentos se pagarem, terão continuidade. Caso contrário, serão encerrados.
Mas, considerando o interesse crescente em atividades presenciais e a baixa penetração de parques no Brasil, há potencial de longo prazo.
EXAME: É possível atingir padrão internacional no Brasil?
MARCOS BEDENDO: Hoje não é difícil atingir esse padrão. A construção e manutenção de brinquedos já seguem padrões globais.
O Brasil tem profissionais qualificados para shows e espetáculos. A questão principal é adequar preços à realidade brasileira, mantendo a percepção de valor.
EXAME: O Hopi Hari pode atrair turistas de fora do Brasil?
MARCOS BEDENDO: Pela localização, o Beto Carrero atrai visitantes da América Latina. O Hopi Hari, bem estruturado e com atrações complementares, pode atrair visitantes de todo o Brasil — que é um mercado continental — e também de países andinos, como Chile e Peru. Um turista americano ou europeu dificilmente viria a um parque no Brasil, mas o turismo regional de curta distância é viável.
EXAME: O que falta para a região se consolidar como destino turístico?
MARCOS BEDENDO: Para justificar deslocamentos mais longos, o parque precisa oferecer atrações suficientes para manter o visitante por pelo menos três ou quatro dias.
A presença de outlets e o Wet’n Wild ajuda, mas seria necessário um esforço conjunto dos parques da região para criar uma proposta integrada de destino turístico. Isso pode transformar a região em um polo de entretenimento.