Reforma tributária, inovação e China: o que as lideranças de franquias debateram em convenção da ABF
Convenção da ABF reuniu executivos de grandes franqueadoras, franqueados de peso e expositores
Repórter de Negócios
Publicado em 31 de outubro de 2023 às 19h05.
Última atualização em 1 de novembro de 2023 às 14h42.
A 21ª edição da convenção de franquias da ABF reuniu cerca de 700 pessoas na Ilha de Comandatuba, no litoral sul da Bahia, entre os dias 25 e 29 de outubro. O evento promove networking, painéis com referências do mercado e mesas-redondas sobre gestão e liderança de franquias. O público é composto de executivos de grandes franqueadoras, franqueados de peso e expositores.
A ABF CON é um momento de celebração do setor que se orgulha de representar 2% do PIB brasileiro — e que se organiza para conquistar mais espaço. Só no primeiro semestre, o franchising avançou 15% e faturou R$ 105 bilhões.
A reforma tributária, que está tramitando no Senado, foi a pauta econômica do momento. Em seu discurso de abertura, o presidente da entidade, Tom Moreira Leite, enfatizou a importância da redução na carga tributária para as empresas, em especial para as que usam o sistema tributário do Simples Nacional, que é o caso da maioria dos franqueados.
Com o faturamento médio mensal de R$ 95 mil, as mais de 180 mil franquias serão afetadas negativamente pela atual proposta de reforma. A ex-senadora Kátia Abreu participou do evento e deu uma breve declaração em apoio ao setor na cerimônia de encerramento, assim como o ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, Christino Áureo e senador Laércio Oliveira.
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Com o tema "A inovação transforma você", o evento contou com 25 palestrantes que destacaram o que há de mais atual na gestão e liderança de seus negócios. Além de um painel sobre o atual cenário macroeconômico, estratégias para 2024, insights de liderança e marketing e oportunidades na China foram temas abordados.
Palestras motivacionais também tiveram espaço na programação. Alcione Albanesi, fundadora do Amigos do Bem, subiu ao palco para falar do projeto social que atua há 30 anos no sertão nordestino e que já conta o apoio de algumas franquias. O surfista brasileiro Derek Rabelo tirou aplausos fervorosos da plenária ao contar sua trajetória para conseguir surfar uma onda gigante em Nazaré, Portugal, sendo deficiente visual.
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O evento também foi marcado pelo anúncio de dois projetos educacionais da ABF. Um deles, em parceria com o Sebrae, é o Portal Parceria Sebrae ABF, que conta com conteúdo sobre gestão e franquias voltado para franqueados e franqueadores. A parceria foi anunciada pelo presidente da ABF e Ivan Hussni, gerente de competitividade do Sebrae Nacional.
O outro projeto é a ABF Academy, que é uma evolução da plataforma de educação voltada para os associados e que vai contar com recursos gamificados para difundir as boas práticas e os temas atuais do franchising.
Confira, a seguir, alguns pontos de destaque dos painéis da ABFCon 2023 sobre gestão e inovação no mercado de franquias:
Inovação no franchising
No mercado de franquias, inovação se traduz em adotar ferramentas digitais para análise de dados. Inteligência artificial (IA) e integração de canais já deixaram de ser novidades. É consenso que os negócios que ainda não adotam essas ferramentas estão na lanterna da inovação.
Ana Bogus, presidente da Havaianas, José Gonçalves Júnior, diretor da Portobello Shop e Estanislau Bassols, da Cielo, falaram sobre o uso de IA e o desenvolvimento da ominicalidade.
A omnicanalidade é um ponto que pode ser observado na Havaianas, marca de 65 anos que conta com 550 franquias no Brasil e está presente em mais de 100 países. No período da pandemia foram desenvolvidas ações para digitalizar a marca e se aproximar dos clientes. Tudo isso atrelado ao maior diálogo com franqueados.
“Criamos comitês dentro da empresa e eles tiveram atuação preponderante no entendimento das necessidades dos clientes. Paralelo a isso, também temos feito um trabalho intenso de modo a tornar nossos vendedores engajados”, disse Bogus.
A executiva citou uma loja no Osasco Plaza, em São Paulo, como um case de sucesso no processo de digitalização. "Quarenta por cento do faturamento vem digital. É um resultado que não existia”, disse.
Gonçalves, da Portobello, ressaltou a importância de se ter um mix de produtos.
“Além do porcelanato, também temos uma série de outros itens que contribuem para oferecer um atendimento em 360 graus, sobretudo fora do país”, ressaltou.
“Inauguramos uma fábrica no estado americano do Tennessee e, lá, entendemos como funciona o mercado e passamos a oferecer produtos diferenciados, de acordo com a preferência local”, completou.
Liderança e gestão
A importância das lideranças no sucesso da operação de franquias foi o tema do painel com Paulo Camargo , CEO do Espaçolaser, Silvina Mirabella, da Óticas Carol, mediado por Décio Pecin, da CNA e membro do conselho da ABF.
Para a diretora de varejo da EssilorLuxottica, que administra a Óticas Carol, a gestão de um grande time é muito importante estar presente o fator estabilidade emocional.
“Precisamos ser exemplo e caminhar juntos. Sentir que somos um time para o nosso business. Isso é muito importante para a eficiência e para que as pessoas se sintam ouvidas”, disse Mirabella.
A executiva também evidenciou a relevância de um processo de gestão organizado, com planejamento e revisão constantes dos projetos e das prioridades, para se entender as dores imediatas e as estratégias para o bom andamento da corporação.
Para Paulo Camargo, que deixou a liderança do McDonald's para se dedicar ao Espaçolaser, os colaboradores não se conectam com cargos e sim com pessoas que têm a visão transparente.
“O líder tem de ter a visão do todo, da complexidade, ter a capacidade de sintetizar e dar foco no que é importante e no que deve ter esforço”, disse o executivo.
Uma sugestão de Camargo para aumentar o sucesso das empresas é criar comitês, envolvendo os franqueados, para priorizar a solução dos problemas. A Espaçolaser conta atualmente com seis comitês.
Estratégias das pequenas e médias franquias
As pequenas e médias franquias também têm conhecimento para compartilhar. Em nichos diferentes, o painel reuniu Fabio Khouri, da Vai Voando, Felipe Buranello, da Maria Brasileira, e Natiele Krassmann, da Criamigos. A conversa foi mediada pela consultora Lyana Bittencourt.
Com a pandemia, novos segmentos cresceram no mercado de franquias, como lazer, entretenimento e limpeza. Foi o caso da Criamigos e Maria Brasileira, que viram seu número de franquias saltar nos últimos anos.
"As crianças estão ditado cada vez mais os momentos de lazer e entretenimento das famílias. Nós queremos oferecer uma experiência completa para pais e filhos", diz Natiele Krassmann sobre o crescimento do segmento de lazer e entretenimento no franchising.
A franquia de turismo Vai Voando passou por grandes dificuldades no mesmo período. Uma das estratégias adotadas pela rede para gerar melhores resultados entre os franqueados foi o compartilhamento da DRE, o relatório contábil que evidencia se as operações de uma empresa estão gerando lucro ou prejuízo.
"Pode parecer loucura, mas o compartilhamento das DREs fez os franqueados aprenderem mais uns com os outros", disse Fabio Khouri.
Negócios da China
Fruto de uma missão da ABF na China, Alberto Serrentino, da Varese Retail, e Eduardo Terra, da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), apresentaram os principais insights sobre o varejo, e-commerce, cross border, meios de pagamento e tecnologia envolvida nos negócios chineses.
"A China tem o maior mercado consumidor do mundo, com cerca de 450 milhões de pessoas na classe média, 710 milhões de pessoas com acesso à internet e metade da penetração global dos e-commerces", disse Serrentino.
Participaram também do painel Felipe Daud, da Alibaba Brasil, e Ricardo Geromel, da 3G Radar.
A última missão da ABF tinha acontecido em 2019, no período pré-pandemia de covid-19. De lá para cá, os executivos brasileiros perceberam a evolução do ecossistema de negócios. Novos modelos de negócios que transbordam as fronteiras do varejo são cada vez mais comuns.
"As empresas chinesas estão adicionando atividades complementares aos seus aplicativos. É possível comprar roupas ou itens de decoração e contratar um serviço de saúde na mesma plataforma. Pode parecer estranho, mas esse movimento não enfraquece as empresas", explica Terra.
A fronteira entre conteúdo, entretenimento, mídia e compras está cada vez mais mais tênue. Comprar sem sair das redes sociais é uma realidade comum na China — e essa deve desembarcar no Brasil em breve.
"As marcas vão ter de trabalhar cada vez mais com criadores de conteúdo e plataformas. É um caminho sem volta", disse Serrentino.
*A repórter da EXAME viajou a convite da ABF