Saraiva: rede de livrarias está em recuperação judicial desde o ano passado, assim como a concorrente Cultura (Saraiva/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de novembro de 2018 às 11h03.
Última atualização em 15 de novembro de 2018 às 12h05.
São Paulo - A corrida pela reacomodação do mercado de livrarias, após a líder de mercado fechar 20 de suas lojas, já começou: a livraria Leitura, hoje a segunda maior rede do País, fez propostas para tentar assumir cinco dos pontos de venda que a rival Saraiva fechou nas últimas semanas. Algumas dessas unidades ficam na capital paulista, onde a mineira, forte fora do eixo Rio-São Paulo, tem presença discreta. De acordo com o presidente da Leitura, Marcus Teles, é possível que duas ou três das ofertas realizadas resultem na mudança da bandeira Saraiva para a Leitura.
Nas últimas semanas, o Estado conversou com diversas editoras de livros sobre a situação do setor, e executivos apontaram a Leitura como a principal candidata a compensar parte do baque que o mercado de livros sentirá com as dificuldades enfrentadas pela Saraiva. Com dívida de R$ 485 milhões, a líder do setor está com pagamentos atrasados com as editoras e tenta um novo acordo para evitar a recuperação judicial, caminho já traçado por outro peso pesado do mercado, a paulistana Cultura.
Assim como as editoras, o presidente da Leitura afirma que a crise enfrentada por grandes livrarias está menos ligada ao produto em si e mais a questões específicas da administração das empresas. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), as vendas de livros acumulam expansão de 3,65% em volume e de 5,37% em valor de janeiro a outubro de 2018, na comparação com o mesmo período de 2017. Entre os caminhos seguidos pelas rivais que Teles afirma querer evitar estão a forte aposta nas vendas pela internet - setor no qual, segundo ele, as margens costumam ser negativas - e a abertura nas "megastores".
Sem bater de frente com as concorrentes ao escolher abrir mercados em capitais pouco servidas por livrarias - como Teresina, João Pessoa e Porto Velho - e em cidades do interior, como Mogi das Cruzes (SP), a rede mineira cresce se desviando de dívidas e com olhos atentos à rentabilidade. "Se uma loja dá prejuízo por mais de dois anos, nós a fechamos", explica Teles. Uma das "vítimas" desse pragmatismo foi a unidade que a Leitura chegou a abrir na Avenida Paulista.
A "tradição" de encerrar pontos deficitários deverá ser mantida em 2019, quando a Leitura pretende abrir sete lojas - incluindo as conversões da Saraiva -, mas deverá encerrar duas. Desta forma, a Leitura deverá fechar 2019 com 75 unidades, número próximo às 84 que a Saraiva tem hoje. Depois de alguns anos de retração, o empresário diz que a rede voltou a crescer em 2018 - cerca de 8% no acumulado do ano - e prevê uma alta maior, de aproximadamente 10%, no ano que vem. A empresa não revela faturamento, mas o Estado apurou que a receita está próxima da marca de R$ 480 milhões.
Com duas das principais rivais em crise, a Leitura pretende manter o ritmo de crescimento para, dentro de três ou quatro anos, ser a livraria líder em varejo físico no País. Para ganhar espaço, a empresa está buscando oportunidades em espaços ignorados pelas grandes redes. Em São Paulo, está assumindo pontos de venda nos terminais rodoviários Tietê e Barra Funda, por exemplo. A ideia é manter os gastos com aluguel sob controle, com lojas que variem entre 300 e 500 metros quadrados.
Embora persiga a liderança no varejo físico de livros, Teles diz que não está interessado em fazer o mesmo movimento no e-commerce. Ausente das vendas pela web desde 2014 - após encerrar uma operação que perdurou por 16 anos -, ele prepara o retorno da Leitura ao meio virtual para 2019, mas sem grandes ambições. O presidente da Leitura pretende aproveitar os ativos que já tem, usando as lojas físicas como eixos de distribuição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.