Quem é Carl Icahn, o bilionário agitador que quer a Dell
Conhecido como um investidor ativista, o bilionário já comprou brigas com gigantes como Yahoo!, Marvel e Texaco
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2013 às 07h51.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h41.
Aos 77 anos, Carl Icahn amealhou uma bela fortuna comprando e vendendo participações em empresas - mais especificamente, 20 bilhões de dólares, o que o torna o 26º homem mais rico do mundo, segundo a Forbes. E não sem fazer barulho. Conhecido como um investidor ativista, o bilionário não hesita em espernear por companhias que ele considera subavaliadas pelo mercado ou mal administradas pelos gestores, desafiando medalhões do naipe da Texaco, Yahoo! e Dell - esta última, objeto de sua mais recente peleja. Na briga com gigantes, Icahn aponta o dedo para CEOs e dá entrevistas escrachando decisões corporativas. O resultado, muitas das vezes, se traduz em alguns milhões a mais na conta da sua holding de investimentos, a Icahn Enterprises. Veja, a seguir, as empresas que entraram no radar do investidor e foram alvejadas pela sua metralhadora giratória.
No esforço de fazer aquela que já foi a maior fabricante de computadores do mundo voltar aos trilhos, Michael Dell, fundador da empresa, propôs fechar o capital da companhia. Mas segundo Carl Icahn, sua oferta de 13,65 dólares por ação da empresa, não faria jus ao real valor da Dell. Icahn propõe 15 dólares pelo papel. Antes disso, o investidor já havia montado uma posição de cerca de 100 milhões de ações na empresa, insistindo que a Dell deveria optar pelo caminho de recapitalização alavancada, mantendo parte das suas ações na bolsa. Os acionistas da Dell, que também está sendo cortejada pelo grupo de private equity Blackstone, aguardam os próximos capítulos da disputa.
A discussão sobre a sustentabilidade do negócio da Herbalife colocou Icahn e o gestor de fundos de hedge Bill Ackamn em campos opostos de uma batalha pra lá de quente. Do seu lado, Ackman divulgou que estava apostando na queda das ações da companhia, baseado na avaliação de que a empresa de suplementos alimentares opera em um sistema de pirâmide. O movimento jogou para baixo as ações da companhia, o que fez Icahn aumentar sua posição na Herbalife por acreditar que os papéis estavam baratos, no começo do ano. Sobre Ackman, ele disse em entrevista à CNBC que, depois de um almoço com o rival, não conseguiu descobrir se ele era "o cara mais hipócrita ou o mais arrogante" que conheceu na vida.
Alfinetadas públicas e processos: de olho no estúdio de cinema Lionsgate, responsável por produções como Jogos Vorazes, Icahn travou uma verdadeira queda de braços com Jon Feltheimer, presidente da empresa. Mas saiu perdendo. Em agosto de 2011, Icahn finalmente desistiu de sua oferta hostil pelas ações do estúdio, vendendo toda sua participação no negócio.
Em 2008, Icahn levou sua insatisfação com o Yahoo! às últimas consequências, pedindo a cabeça do fundador e então presidente da companhia, Jerry Yang. Na avaliação de Icahn, o CEO não deveria ter rejeitado a proposta de compra que a Microsoft fizera pela empresa, uma oferta considerada pra lá de vantajosa por Icahn. Por isso, o investidor turbinou sua presença na mídia, disparando contra o Yahoo! e pedindo a saída de seu principal executivo, o que acabou se concretizando.
De 1995 a 2000, Icahn fez quatro propostas para comprar a fabricante de alimentos Nabisco, que hoje faz parte da Mondelez (atual divisão de guloseimas da Kraft Foods). Com o objetivo de tomar o controle da companhia e dissolver suas operações, suas investidas mexeram com o preço das ações. Quando Icahn enfim resolveu se desfazer da participação que mantinha na companhia, acabou embolsando 800 milhões de dólares.
Sob o controle de Icahn, a companhia de petróleo Texaco entrou de cabeça em uma briga com a rival Pennzoil, no fim dos anos 80. A ideia inicial era que as duas fundissem suas operações, um plano que acabou indo para o brejo. O clima entre as empresas azedou, mas o acordo final acertado entre elas fez as ações decolarem. Icahn aproveitou o bom momento. Estima-se que ele tenha lucrado cerca de 600 milhões de dólares com a jogada, o dobro do que tinha investido na companhia.
Em 1985, Icahn assumiu o controle da companhia aérea TWA. Começava uma história que lhe renderia fama e fortuna no mundo das finanças. Sob seu comando, a TWA comprou operadoras regionais, turbinou sua eficiência e passou a lucrar mais. Três anos depois, o capital da empresa foi fechado na bolsa através de um plano de recompra de ações. No começo dos anos 90, a companhia acabou se desfazendo das suas rotas mais valiosas. Enfraquecida, terminou entrando em concordata. Para sair da empresa, no entanto, Icahn conseguiu que a TWA pagasse o que lhe devia em passagens, com valor três vezes superior ao que elas de fato valiam. Como o acordo previa que os bilhetes não poderiam ser vendidos a agente de viagens, o investidor criou a LowestFare.com, onde encontrou uma porta de saída para a bolada e, de quebra, acabou marcando profundamente a indústria de venda de passagens aéreas. Durante a contenda, Icahn chegou a ser descrito como "um dos homens mais gananciosos da Terra" pelo então presidente do conselho da TWA, C.E. Meyer Jr.
Depois de comprar ações da Motorola em 2007, Icahn empreendeu esforços para entrar no conselho da companhia e indicar nomes de sua confiança ao grupo. As tentativas não renderam frutos e Icahn subiu o tom. Em 2008, ele processou a companhia com o objetivo de receber documentos sobre a divisão de aparelhos celulares, que estava perdendo dinheiro e penalizando a ação da companhia na bolsa. No fim das contas, a Motorola terminou separando o negócio em dois. E a Motorola Mobility, divisão de aparelhos móveis na qual Icahn detinha ações, entrou na mira do Google em 2011. No começo do ano passado, a própria Motorola comprou a participação de Icahn na empresa, avaliada em 1,1 bilhão de dólares.
Entrar, chiar e orquestrar um programa de recompra de ações. A combinação, seguida por Icahn em uma série de empresas, se repetiu na Time Warner. A partir de 2006, ele começou uma cruzada a favor da dissolução da companhia em quatro empresas diferentes. O plano acabou não indo para a frente. Mas a diretoria sucumbiu às suas pressões, elegendo dois conselheiros independentes e aderindo a um plano de recompra de papéis orçado em 20 bilhões de dólares. Icahn, que não é mais acionista da empresa, teve um lucro de mais de 200 milhões de dólares quando liquidou sua posição, de acordo com o The Wall Street Journal.
A icônica montadora não escapou dos ataques de Icahn. Um mês depois de notificar a GM que estava disposto a comprar 15% da empresa, em 2000, o investidor vendeu todas as ações que tinha na companhia. Nesse meio tempo, os papéis subiram - e Icahn ganhou com isso. Mais tarde ele revelou que tinha a intenção de fazer a montadora vender seu braço eletrônico, então dono da DirecTV, ao bilionário do entretenimento Rupert Murdoch, uma investida que virou realidade em 2003.
Carl Icahn não foi o único grande nome das finanças a se interessar pela gigante dos quadrinhos. No fim dos anos 90, ele e o investidor Ronald O. Perelman, então controlador da Marvel, lutaram pela companhia. As faíscas voaram: Icahn chamou as táticas do rival de "inconcebíveis". Perelman devolveu, descrevendo-o como "manifestamente ridículo". Quem terminou com a Marvel, no entanto, foi Isaac Perlmutter, dono da empresa Toy Biz. Em 2009, a Marvel foi vendida à Disney por 4 bilhões de dólares.
Recentemente, Icahn enviou uma carta aos acionistas da perfuradora de petróleo Transocean. Além de pedir dividendos, ele reiterou sua insatisfação com o conselho da empresa, sugerindo nomes que considerava mais adequados para as cadeiras. "Eu acredito que a incapacidade da Transocean de crescer e pagar sua dívida é resultado de uma pobre alocação de capital, que tem impulsionado o preço das ações para baixo", disparou. "Os acionistas da companhia devem substituir os diretores que foram responsáveis por arquitetar essa estratégia fracassada, incluindo o presidente do conselho", acrescentou em outro trecho.
O investidor havia comprado papéis da empresa em setembro de 2011, data em que declarou sua crença em uma possível escalada das ações. Em um ano, no entanto, os ativos caíram quase pela metade, fazendo Icahn mandar uma missiva desaforada para o conselho da Navistar. Depois de dizer na carta que a fabricantes de caminhões era "garota-propaganda de decisões de negócio sem sentido e pobre governança corporativa", ele ganhou sinal verde para colocar dois de seus aliados no conselho da companhia.
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