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Queda do preço do minério de ferro se soma a desafios da Vale

Os preços do minério no mercado à vista na China, maior importador global, já caíram mais de 40 por cento desde a máxima do ano acima de US$ 90

Vale: "O mercado é movido por surpresas, positivas ou negativas", disse diretor da FGV (Yusuf Ahmad/Reuters)
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Reuters

Publicado em 6 de junho de 2017 às 18h06.

Rio de Janeiro - A mineradora Vale permanece bastante rentável apesar da expressiva queda dos preços do minério de ferro neste ano, mas uma expectativa de demanda mais fraca traz um desafio adicional para o novo presidente da empresa líder do setor, Fabio Schvartsman, segundo especialistas.

Os preços do minério de ferro no mercado à vista na China, maior importador global, já caíram mais de 40 por cento desde a máxima do ano acima de 90 dólares por tonelada, pressionados também pelo aumento da oferta global. Nesta terça-feira, fecharam em cerca de 56 dólares.

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Como resultado dos preços mais baixos, a receita brasileira com as exportações de minério do país em maio cresceu apenas 1,8 por cento ante o mês anterior, para 1,651 bilhão de dólares, enquanto os embarques cresceram 46 por cento no mesmo período, para 35,111 milhões de toneladas, segundo dados do governo federal.

O dado de exportação do país é um importante indicativo da receita da Vale, maior produtora global da commodity e dominante nas exportações do produto nacional.

Mas para enfrentar esse cenário a companhia fez esforço muito grande de redução de custos nos últimos anos e tem ainda a seu favor o aumento progressivo da produção da mina S11D --o maior investimento da história da empresa, em Canaã dos Carajás, no Pará, que produz um minério com elevado teor de ferro e alta tecnologia.

"A Vale fez um dever de casa muito bom, ganhando eficiência e, com o S11D, tem um minério para vender no segundo e terceiro trimestres de melhor qualidade", afirmou o estrategista da Guide Investimentos Luis Gustavo Pereira.

A mina S11D entrou em operação comercial em janeiro e está em fase de aumento de produção. Com o ativo, a empresa pode gerenciar melhor a sua produção de acordo com a demanda e gerar mais valor para suas operações.

O início da operação também permite o encerramento de um ciclo de investimentos da Vale, que não tem novos ativos gigantes para investir no curto prazo.

Executivos da empresa vêm afirmando que a mineradora está focada em atingir a meta de redução da dívida, enquanto conclui o ciclo de aportes e prepara as bases para uma geração de fluxo de caixa livre ainda mais forte a partir deste ano.

Impacto nas ações

No entanto, analistas que acompanham a Vale acreditam que a volatilidade dos preços, além de reduzir a rentabilidade da empresa, influenciam no comportamento de suas ações na bolsa.

"Enquanto a Vale continua sendo uma empresa muito bem gerenciada, acreditamos que a queda do minério de ferro deve continuar sendo o principal driver", afirmaram os analistas do BTG Pactual Leonardo Correa e Caio Ribeiro, em relatório enviado a clientes sobre os impactos dos preços do minério.

Para o BTG, a alta dos preços a 80/90 dólares por tonelada no primeiro semestre deste ano não tinha fundamentos, diante do crescimento da oferta de grandes mineradoras, da desaceleração da demanda e outras questões.

"A maioria desses riscos se materializou, e os preços rapidamente se desinflaram para 60 dólares por tonelada, o que consideramos mais razoável", afirmaram os analistas do BTG.

Desafios ao novo presidente

O novo cenário de preços representa um desafio adicional para Schvartsman, que tem como uma das principais missões liderar a Vale nos próximos anos rumo ao controle pulverizado e ao Novo Mercado da B3 (ex-Bovespa). O executivo, que assumiu em maio, ainda não concedeu entrevistas à imprensa.

O ex-diretor da Vale Roberto Castello Branco afirmou em entrevista à Reuters que o novo presidente já encontrou uma casa "razoavelmente arrumada" e que já anunciou "intenções muito boas", em conversas com analistas de mercado, como a criação de grupos para avaliar a estratégia e a performance da empresa em diversas unidades de negócios.

"A Vale tem ativos que não geram valor que têm que ser fechados... a questão crucial é se ver livre de ativos que não performam, como Nova Caledônia (na Oceania, onde produz Níquel)", afirmou Castello Branco, atualmente diretor institucional da Fundação Getulio Vargas.

Para Castello Branco, no entanto, o minério de ferro permanece sendo "o coração da Vale... grande gerador de caixa e de valor" da companhia.

Dessa forma, segundo ele, uma diversificação da empresa para reduzir os riscos à exposição do minério de ferro, o que também foi anunciado como uma intenção do novo presidente, deve ser feita de forma cuidadosa.

"O minério de ferro é e vai continuar a ser um super ativo da Vale", afirmou, explicando que uma recuperação dos preços irá depender de novidades do mercado.

Uma delas, segundo Castello Branco, poderia ser o fechamento de minas menos rentáveis no mundo devido à queda dos preços, já que uma surpresa do lado da demanda, no curto prazo, não parece provável em sua avaliação.

"O mercado é movido por surpresas, positivas ou negativas", completou.

Procurada para comentar o tema, a Vale não respondeu sobre o comportamento recente de preços, mas destacou por email que continua priorizando a maximização de margens em vez de volume e trabalhando para aumentar a eficiência da cadeia de valor global por meio de produtividade e redução de custos.

"Buscamos melhorar ainda mais a realização de preços através do desenvolvimento de novos canais de distribuição e a obtenção de prêmios com o minério de alta qualidade. Essas iniciativas ajudarão a empresa a tornar-se cada vez mais competitiva e eficiente", afirmou a empresa.

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