Público de shoppings ainda está 20% abaixo do pré-pandemia
Crescimento das vendas pela internet e popularização do home office podem estar por trás do movimento
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de outubro de 2022 às 09h07.
Última atualização em 15 de outubro de 2022 às 10h55.
Mesmo com o arrefecimento da pandemia de covid-19 , o hábito de ir ao shopping center não voltou ao normal. Os estabelecimentos deixaram de receber mais 100 milhões de visitas, queda de 21% do patamar de 505 milhões, em 2019, para 397 milhões, em 2022, segundo dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).
Apesar do retorno ao trabalho presencial em muitas empresas e da liberdade para passear em segurança, os shoppings não estão lotados como antes. Uma pesquisa qualitativa feita pela Abrasce captou uma queda na frequência dos visitantes mais assíduos: pessoas que tinham o hábito de ir até seis vezes por mês aos centros de compras recuaram para a faixa de quatro a cinco vezes.
Para Glauco Humai, presidente da Abrasce, há duas hipóteses para explicar esse comportamento. A primeira delas é de que boa parte dos shoppings está localizada em regiões de escritórios. Ou seja muitos visitantes eram trabalhadores que entravam nos shoppings na hora do almoço ou após o expediente. Hoje, esse público trabalha de casa alguns dias por semana "e não frequentam tanto o shopping quanto antes".
O segundo fator é o aumento de vendas no e-commerce. As pessoas buscam na internet desde livros e eletrônicos até roupas, calçados e alimentos, "roubando" uma parcela das compras que antes eram feitas presencialmente.
"O mundo físico cobra preços mais altos porque tem menos concorrentes ao lado. Na internet, os preços são mais baixos e a comparação é mais simples. É diferente de ter de se deslocar para outro shopping ou até diferentes lojas para ver o preço da mesma camiseta. A pandemia intensificou as possibilidades das compras via internet, como cashback e outros benefícios. Além disso, as pessoas se tornaram mais bancarizadas e podem comprar online", diz Lorain Pazzetto, executivo da empresa de tecnologia de varejo Grupo Fcamara.
Retorno gradual
Segundo Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da consultoria Gouvêa Malls, a retomada da circulação nos shoppings deve acontecer, mas com experiências que vão além de lojas e restaurantes.
"Os shoppings já estão se ajustando à nova realidade em que o centro de compras terá recorrência devido a consultas médicas, cinema, almoços ou eventos. Por isso, vemos eventos como a exposição Mundo Pixar, no Eldorado, ou a do Van Gogh, no Morumbi Shopping", diz Marinho. "Antes, era necessário ir a uma loja física para comprar alguma coisa. Agora, é preciso preferir ir até lá. Por isso, os shopping buscam formas de criar novas razões para as pessoas irem até eles", afirma.
Outro fator que deve ajudar é a esperada melhora nas safras de filmes. A indústria do cinema foi uma das mais afetadas pela covid-19, com muitas produções paralisadas, canceladas ou postergadas. E os blockbusters são um grande chamariz.
Vendas acima de 2019
As vendas dos shoppings do País caminham para crescer 27,4% em 2022, na comparação com 2021, em termos nominais (sem levar em conta a inflação do período), atingindo a marca de R$ 202 bilhões, de acordo com estimativa da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Em termos reais (descontando a inflação), a alta prevista é de 18% no período.
Se confirmado, o resultado representará o maior patamar de vendas da história do setor em termos nominais e uma recuperação importante perante 2019 (R$ 193 bilhões), último ano antes da chegada da pandemia que provocou o fechamento do comércio. As vendas nos shoppings voltaram sete anos no tempo devido à crise sanitária. Em 2020, o faturamento caiu 33%, batendo em R$ 129 bilhões, mesmo volume de 2013.
"Alguns analistas tinham falado que o setor ia levar cinco a seis anos para recuperar as vendas. Estamos vendo que isso vai acontecer em apenas dois anos", destaca o presidente da Abrasce.