Negócios

Principais executivos da BRF serão mantidos após eleição de novo conselho

Segundo fontes, o entendimento de grandes acionistas é de que as mudanças mais necessárias na empresa são de estratégia

BRF: mergulhada numa crise profunda, a empresa viu suas ações perderem mais da metade do valor (BRF/Divulgação)

BRF: mergulhada numa crise profunda, a empresa viu suas ações perderem mais da metade do valor (BRF/Divulgação)

R

Reuters

Publicado em 16 de abril de 2018 às 17h27.

São Paulo - O primeiro escalão de executivos da BRF deve ser mantido após a eleição do novo conselho de administração, dado o entendimento de grandes acionistas de que as mudanças mais necessárias na empresa são de estratégia, disseram três fontes com conhecimento direto do assunto à Reuters.

"Os executivos atuais não têm culpa pela situação atual da empresa", disse a fonte, sob condição de anonimato. "Além disso, eles têm uma visão muito clara do que precisa ser feito."

Mergulhada numa crise profunda, com alto endividamento e alvo de uma investigação por fraude sanitária, a BRF, maior exportadora de carne de frango do mundo viu suas ações na B3 perderem mais da metade do valor desde o início de 2017, precipitando uma forte disputa entre dois grupos de acionistas pelo futuro da empresa.

A sucessão de crises levou um dos grupos, formado pelos fundos de pensão Previ (dos empregados dos Banco do Brasil) e Petros (dos funcionários da Petrobras), além do fundo europeu Aberdeen a pleitear a mudança do conselho da BRF, assunto que será votado numa assembleia de acionistas no próximo dia 26.

Esses investidores, que em conjunto detêm cerca de 27 por cento do capital da BRF, querem reduzir o poder do grupo rival liderado pelo empresário Abilio Diniz, hoje presidente do conselho da empresa. Ele tem como aliado o fundo brasileiro Tarpon, e juntos detêm cerca de 12 por cento das ações da BRF.

Tentativas de formar uma chapa unificada fracassaram e o Aberdeen sugeriu a adoção do voto múltiplo, sistema que dá aos investidores poder de voto proporcional ao número de assentos no conselho.

Segundo a fonte, esse modelo não é o ideal para a BRF, uma vez que reduz as chances de composição de um conselho mais "harmônico". Mas isso não deve impedir a adoção de mudanças estratégicas importantes".

Essas mudanças, que serão sinalizadas ao mercado pouco depois da eleição do novo conselho, devem incluir um foco a tornar a BRF numa empresa mais ligada a alimentos e menos a proteínas, ao se concentrar em produtos com melhores margens.

"Há também trabalho a fazer em termos de reposicionamento geográfico e de táticas comerciais", afirmou a fonte, sem no entanto detalhar se isso envolverá vendas de ativos.

Uma abertura de capital da subsidiária OneFoods, voltada para o mercado muçulmano, ficará para um segundo momento, acrescentou a fonte.

O conflito entre dois grupos no conselho têm há tempos sido uma preocupação de investidores, com o grupo comandado por Diniz influenciando na maior parte das decisões importantes da companhia.

De acordo com a fonte, uma das ênfases do novo conselho será justamente dar maior autonomia aos executivos, após terem recebido as novas orientações estratégicas do novo conselho.

Consultada sobre a reportagem, a BRF afirmou que não iria comentar sobre o assunto.

A Península, veículo de investimentos do empresário Abilio Diniz, não respondeu de imediato a pedidos de comentários.

José Drummond Jr. assumiu como presidente global da BRF em dezembro, no lugar de Pedro Faria. Dois meses antes, Lorival Luz Jr. havia assumido a diretoria financeira e a área de relações com investidores do grupo.

Uma segunda fonte afirmou que a nova diretoria ainda não fez "qualquer tipo de apresentação dos atuais executivos. Não dá para avaliar ainda se já começa a dar resultado a nova gestão". Entretanto, na avaliação da fonte, "se eles estão lá, algum mérito têm. É preciso dar um voto de confiança". O comentário foi ecoado por uma terceira fonte, que afirmou que "de fato, a gestão atual merece muito crédito por manter o foco, apesar de todo o barulho no nível do conselho".

Faria chegou a ser preso em março na segunda etapa da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, por suspeita de ter atuado para impedir denúncias de fraude em exames laboratoriais sobre a qualidade de produtos de frango para exportação. A Polícia Federal entendeu que a alta administração da BRF sabia de fraudes cometidas pela empresa entre 2012 e 2015.

A segunda etapa da Carne Fraca fez em meados de março o Ministério da Agricultura suspender temporariamente produção e certificação sanitária de produtos de aves da BRF exportados do Brasil para a União Europeia. A medida afetou 10 de 35 unidades produtivas da BRF no Brasil.

A segunda fonte comentou que entre as situações mais urgentes a serem lidadas pela BRF enquanto se prepara para escolha de um novo conselho é "lidar com o possível fechamento do mercado europeu para o frango". Segundo a fonte, "a empresa tem que estar ativa. Tem que evitar a todo custo o banimento".

O ministro da agricultura, Blairo Maggi, deve fazer na terça-feira uma apresentação à imprensa sobre as negociações do país com a União Europeia em torno das exportações de carne de frango. A apresentação acontecerá enquanto a Comissão Europeia avalia na terça e quarta-feiras se imporá restrições ao produto brasileiro.

Acompanhe tudo sobre:BRFCarnes e derivadosEmpresas

Mais de Negócios

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia

"Bar da boiadeira" faz investimento coletivo para abrir novas unidades e faturar R$ 90 milhões