Gerhard Cromme, presidente do conselho da ThyssenKrupp, após encontro para apresentação dos números anuais da companhia em Bochum (Wolfgang Rattay/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2013 às 11h07.
Bochum - O presidente de conselho da ThyssenKrupp, Gerhard Cromme, admitiu erros que contribuíram para grandes prejuízos sofridos pelo grupo alemão, mas não cedeu às pressões de alguns investidores para renunciar.
"Se vocês me perguntarem se nós, como um conselho supervisor, poderíamos ter feito as coisas melhores no passado, minha resposta sincera é 'sim'. Ficamos esperando por muito tempo, poderíamos ter agido mais cedo", declarou o executivo a centenas de acionistas na reunião anual da companhia nesta sexta-feira.
Cromme está sob fogo cruzado pelas perdas bilionárias sofridas pela ThyssenKrupp com a divisão Steel Americas, que inclui a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), além de festas para jornalistas e acusações de fixação de preços de trilhos ferroviários.
Os comentários do executivos foram recebidos por uma mistura de palmas e vaias de um público formado por mais de mil investidores cientes de que os problemas cresceram sob a gestão de Cromme e do ex-presidente-executivo Ekkehard Schulz.
No mês passado, a ThyssenKrupp divulgou prejuízo líquido anual de 4,7 bilhões de euros (6,1 bilhões de dólares) após ter registrado baixa contábil relacionada à unidade Steel Americas e informou que não pagará dividendo do ano fiscal 2011/2012.
A Steel Americas é integrada pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e por usina laminadora nos Estados Unidos. A ThyssenKrupp investiu bilhões de euros na Steel Americas, que custou mais do que o esperado e tem registrado prejuízo desde o início de suas operações.
Enquanto isso, a crise da zona do euro tem atingido a demanda por carros e pesado sobre os preços do aço, causando queda nos resultados europeus da ThyssenKrupp. A empresa tem dívida líquida de 5,8 bilhões de euros, quase 1,3 vez seu patrimônio.
O atual presidente-executivo do conglomerado, Heinrich Hiesinger, que em 2011 tornou-se o primeiro chefe da companhia contratado de fora da indústria siderúrgica, está liderando uma revisão para cortar a exposição do grupo à volátil indústria do aço e para mudar os investimentos em direção de produtos e serviços de margens maiores.
A companhia, por exemplo, está fabricando elevadores para a Freedom Tower, em Nova York, administra da cadeia de suprimento da Boeing e desenvolveu um material compósito para carros que afirma ter custo mais eficiente que o alumínio.
Esforços renovados
Após a venda dos ativos com receita anual de 10 bilhões de euros, somente 30 por cento dos negócios da Thyssen virão do setor siderúrgico.
Mas a situação difícil nas Américas, multa por combinação de preços de trilhos ferroviários e viagens luxuosas pagas a jornalistas pesaram sobre a tentativa de Hiesinger de focar em seus esforços de renovação do grupo.
A companhia confirmou que um membro do conselho levou jornalistas em viagens e Hiesinger afirmou durante a reunião com investidores que "certos elementos das viagens não foram apropriados". Ele não deu mais detalhes.
Depois de demitir metade de seu grupo de administração no mês passado e prometido acabar com redes de relacionamento com interesses pessoais dentro da companhia, Hiesinger prometeu aos acionistas focar no futuro da empresa em vez de nos erros passados.
"Se continuarmos a focar exclusivamente no passado acharemos coisas incontáveis que não são apropriadas pelos padrões atuais. A mídia pode listar cada viagem feita por um membro do conselho e isso não vai nos ensinar nada de novo", disse o executivo durante a reunião.
Cromme prometeu trabalhar com os executivos da Thyssen para assegurar um futuro seguro para a companhia, mas ainda colocou a maior parte da culpa pelo desastre nas Américas em ex-executivos do grupo.
O conselho supervisor foi "forçado a aceitar que apesar do questionamento crítico, uma série de presunções e números usados pelo conselho executivo se provaram excessivamente otimistas ou incorretos", disse ele.
Apesar de alguns acionistas terem manifestado verbalmente seu descontentamento com a refusa de Cromme em aceitar responsabilidade pelos erros da Thyssen, parece improvável que o executivo seja forçado a sair do comando do conselho supervisor após 11 anos no cargo.
Ele é apoiado por Berthold Beitz, patriarca de 99 anos no maior acionista da Thyssen, a Fundação Alfried Krupp von Bohlen und Halbach, que possui 25,3 por cento dos direitos a voto na companhia.