Produção de petróleo nos Estados Unidos (Daniel Acker/Bloomberg)
Juliana Estigarribia
Publicado em 26 de agosto de 2020 às 18h15.
Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 20h00.
O furacão Laura, que deve atingir a costa dos Estados Unidos nos próximos dias, acertou em cheio a indústria petrolífera. Mais de 80% da capacidade de produção da commodity na região do Golfo do México foi fechada, levando os preços do barril à máxima em cinco meses. Para analistas, as cotações devem continuar com tendência de alta nos próximos meses, mas em menor grau.
Até esta quarta-feira, 26, a indústria americana já havia fechado temporariamente cerca de 1,5 milhão de barris de petróleo por dia (bpd) de capacidade de produção, diante do temor em relação ao furacão. A tempestade passou para a categoria 3, "potencialmente catastrófica", segundo autoridades.
Com isso, o Brent subia cerca de 0,5% nesta quarta-feira, para 45,9 dólares por barril. O petróleo dos Estados Unidos (WTI) avançava 0,3%, a 43,3 dólares.
"No passado, o petróleo subia mais de 5% em apenas um dia com esse tipo de evento climático. Mas diante das incertezas em relação à demanda atualmente, o impacto é suavizado", afirma Bruno Lima, analista de renda variável da Exame Research.
Ele acrescenta que o risco de uma possível onda de reinfecção pela covid-19 não deve necessariamente derrubar os preços.
"As cotações só devem ser impactadas se houver um novo lockdown no mundo." Por outro lado, Lima afirma que os preços podem ganhar fôlego no curto prazo caso os estoques de petróleo recuem, o que vem acontecendo lentamente nas últimas semanas.
Marcelo Assis, chefe de pesquisa da consultoria especializada Wood Mackenzie América Latina na área de upstream, afirma que os preços têm apresentado oscilações por inúmeros motivos. A interrupção da produção na Líbia - um grande produtor global - devido a conflitos políticos e as expectativas em relação à disputa eleitoral nos Estados Unidos são alguns deles.
"O mercado global de petróleo vem apresentando muita volatilidade e deve continuar assim no curto e médio prazo."
Para o ano, a consultoria mantém projeção média dos preços de 35 a 40 dólares para o Brent. No ano que vem, a estimativa é de 50 a 55 dólares na média.
Segundo o especialista, o corte de produção de 1,5 milhão de bpd nos Estados Unidos aconteceu principalmente entre os perfuradores de shale gas. "Há muito tempo, esses produtores vêm trabalhando muito alavancados e a covid-19 só piorou o quadro."
Em fevereiro, os Estados Unidos registraram pico de produção em torno de 13 milhões de bpd, o maior volume em quase 20 anos. No entanto, a pandemia do novo coronavírus veio para mudar essa trajetória. "Esse pico não deve se repetir mais", diz o consultor, acrescentando que a indústria de shale vem "respirando por aparelhos."