Preço do minério pode ameaçar rentabilidade da Vale
Se trajetória de queda se mantiver, as minas de baixo custo, blindadas aos valores mais baixos do insumo poderão ter sua rentabilidade colocada em xeque
Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2014 às 10h01.
São Paulo - Os preços do minério de ferro atingiram, na quarta-feira, 19, seu valor mínimo desde junho de 2009. A cotação do insumo encerrou ontem US$ 70 a tonelada, queda de 2,9% em relação ao dia anterior e desvalorização de 48% desde o início do ano.
A base de referência é o minério com teor de concentração de 62%, negociado no porto de Tianjin (China). Se essa trajetória de queda se mantiver, as minas de baixo custo, que são aquelas vistas como blindadas aos valores mais baixos do insumo - caso das minas da Vale - poderão ter sua rentabilidade colocada em xeque.
A queda dos preços do minério reflete, além da desaceleração da economia mundial, o aumento da oferta global do insumo, puxado por investimentos feitos pelas três maiores companhias - Vale, BHP Billinton e Rio Tinto. Apenas a produção da Vale, por exemplo, de janeiro a setembro, cresceu 8,1% na comparação com igual período de 2013.
Apontada como uma das poucas mineradoras do mundo que conseguiria se manter lucrativa com o preço em US$ 65 a tonelada, as ações da Vale têm sido penalizadas. As ações preferenciais acumulam perdas de quase 40% no ano e as ordinárias, de 35%.
Analistas de mercado já começaram a chamar a atenção em relação ao preço do minério e as consequências para algumas operações da Vale, assim como da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Entre as operações da Vale, os sistemas Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul) e Sul-Sudeste (Minas Gerais) são vistos com mais cautela, já que entre as operações da companhia, essas têm custos mais altos. Um analista destaca que a operação Centro-Oeste, que possui problemas de logística, é pouco representativa para a Vale, ao contrário do Sistema sul-sudeste.
Relatório do Citi calcula que o minério do sistema Sul-Sudeste tenha um ponto de equilíbrio ("break-even point", que é aquele em que as receitas se igualam às despesas) em US$ 65 a tonelada, excluindo as pelotas (que é de melhor qualidade), de acordo com a instituição financeira. O mesmo valor é apontado pelo Citi como o "break-even" em Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da mina Casa de Pedra, da CSN. Já a Namisa, estaria operando no vermelho.
De acordo com o relatório do Citi, o ponto de equilíbrio para a produção de pelotas da Vale é de US$ 44 e, em Carajás (Sistema Norte), de US$ 50. Com o custo nesse patamar, implicaria em postergar plano de investimentos, venda de ativos e aumento da dívida líquida.
O BTG Pactual destacou, também em relatório, que um cenário de preço abaixo de US$ 80 a tonelada em 2015 e em 2016 poderá colocar em risco a distribuição de dividendos mínimos da Vale, de US$ 1,8 bilhão, mesmo assumindo venda de ativos, que somam US$ 2 bilhões. "Essa avaliação se baseia na tese de que os dividendos da Vale não serão financiados por alavancagem", segundo o documento.
Dogma
A queda do preço do minério neste ano acabou rompendo com o dogma de que com o valor do insumo abaixo de US$ 100 de forma prolongada provocaria o fechamento de capacidades de produção da matéria-prima de mais alto custo, em especial na China. Na prática, apenas uma capacidade foi suspensa desde maio, quando as cotações recuaram abaixo de US$ 100.
Na esteira da queda do preço, aconteceu uma onda de revisão da recomendação para as ações da Vale. Além do Citi que reduziu de neutro para venda, o Credit Suisse rebaixou para "underperform", ou seja, um desempenho abaixo da média do mercado. O J.Safra reduziu para neutro, assim como o BTG Pactual.
Com esse cenário, a Vale tem defendido a importância de que seu projeto Serra Sul (S11D) siga no atual ritmo, já que quando começar a operar a mina terá garantido minério de mais baixo custo, o que será importante na fase de preços mais baixos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo .
São Paulo - Os preços do minério de ferro atingiram, na quarta-feira, 19, seu valor mínimo desde junho de 2009. A cotação do insumo encerrou ontem US$ 70 a tonelada, queda de 2,9% em relação ao dia anterior e desvalorização de 48% desde o início do ano.
A base de referência é o minério com teor de concentração de 62%, negociado no porto de Tianjin (China). Se essa trajetória de queda se mantiver, as minas de baixo custo, que são aquelas vistas como blindadas aos valores mais baixos do insumo - caso das minas da Vale - poderão ter sua rentabilidade colocada em xeque.
A queda dos preços do minério reflete, além da desaceleração da economia mundial, o aumento da oferta global do insumo, puxado por investimentos feitos pelas três maiores companhias - Vale, BHP Billinton e Rio Tinto. Apenas a produção da Vale, por exemplo, de janeiro a setembro, cresceu 8,1% na comparação com igual período de 2013.
Apontada como uma das poucas mineradoras do mundo que conseguiria se manter lucrativa com o preço em US$ 65 a tonelada, as ações da Vale têm sido penalizadas. As ações preferenciais acumulam perdas de quase 40% no ano e as ordinárias, de 35%.
Analistas de mercado já começaram a chamar a atenção em relação ao preço do minério e as consequências para algumas operações da Vale, assim como da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Entre as operações da Vale, os sistemas Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul) e Sul-Sudeste (Minas Gerais) são vistos com mais cautela, já que entre as operações da companhia, essas têm custos mais altos. Um analista destaca que a operação Centro-Oeste, que possui problemas de logística, é pouco representativa para a Vale, ao contrário do Sistema sul-sudeste.
Relatório do Citi calcula que o minério do sistema Sul-Sudeste tenha um ponto de equilíbrio ("break-even point", que é aquele em que as receitas se igualam às despesas) em US$ 65 a tonelada, excluindo as pelotas (que é de melhor qualidade), de acordo com a instituição financeira. O mesmo valor é apontado pelo Citi como o "break-even" em Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da mina Casa de Pedra, da CSN. Já a Namisa, estaria operando no vermelho.
De acordo com o relatório do Citi, o ponto de equilíbrio para a produção de pelotas da Vale é de US$ 44 e, em Carajás (Sistema Norte), de US$ 50. Com o custo nesse patamar, implicaria em postergar plano de investimentos, venda de ativos e aumento da dívida líquida.
O BTG Pactual destacou, também em relatório, que um cenário de preço abaixo de US$ 80 a tonelada em 2015 e em 2016 poderá colocar em risco a distribuição de dividendos mínimos da Vale, de US$ 1,8 bilhão, mesmo assumindo venda de ativos, que somam US$ 2 bilhões. "Essa avaliação se baseia na tese de que os dividendos da Vale não serão financiados por alavancagem", segundo o documento.
Dogma
A queda do preço do minério neste ano acabou rompendo com o dogma de que com o valor do insumo abaixo de US$ 100 de forma prolongada provocaria o fechamento de capacidades de produção da matéria-prima de mais alto custo, em especial na China. Na prática, apenas uma capacidade foi suspensa desde maio, quando as cotações recuaram abaixo de US$ 100.
Na esteira da queda do preço, aconteceu uma onda de revisão da recomendação para as ações da Vale. Além do Citi que reduziu de neutro para venda, o Credit Suisse rebaixou para "underperform", ou seja, um desempenho abaixo da média do mercado. O J.Safra reduziu para neutro, assim como o BTG Pactual.
Com esse cenário, a Vale tem defendido a importância de que seu projeto Serra Sul (S11D) siga no atual ritmo, já que quando começar a operar a mina terá garantido minério de mais baixo custo, o que será importante na fase de preços mais baixos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo .