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Por que o Paraguai é chave no futuro da cannabis medicinal no Brasil

LACann Group aposta em plantio de maconha no Paraguai para baratear insumos no mundo, de olho em ascensão do mercado medicinal no Brasil e em outros países

Paula Dall'Stella começou os estudos para ajudar noivo com tumor cerebral (LEREXIS/Getty Images)

Paula Dall'Stella começou os estudos para ajudar noivo com tumor cerebral (LEREXIS/Getty Images)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 13 de maio de 2021 às 09h00.

Última atualização em 14 de maio de 2021 às 17h31.

O mercado de produtos medicinais da maconha começa a ser palco de movimentações fortes de investidores e empreendedores no Brasil. 

As empresas Green Flower Brazil, a INDEOV e a InterCan Academy que já atuam no segmento agora compõem o LACann Group, holding que pretende formar uma cadeia completa de produtos derivados da cannabis. 

Em meio a um forte estigma, já existem no Brasil duas formas de empresas de cannabis medicinal atuarem, seguindo as regras da Anvisa: elas podem operar como e-commerces para oferecer a importação de produtos como o canabidiol ou, se forem produtoras, seguirem por um caminho mais burocrático e pedir o aval da Anvisa para produzir e vender nas farmácias.

A primeira opção já garantiu um mercado com mais de cem e-commerces que operam principalmente de forma binacional, comprando de fornecedores de países em que o mercado é totalmente legal, como Canadá e Estados Unidos, e vendendo para o consumidor.

As pessoas precisam apenas de uma receita médica e de uma autorização da Anvisa para comprar derivados medicinais como o canabidiol, que é possível conseguir online. Apesar de pouco difundido, o consumo desses produtos é autorizado no país via importação desde 2015.

Já a segunda opção, de produzir e vender no Brasil, só tinha a farmacêutica Prati Donaduzzi atuando nas prateleiras das farmácias brasileiras. Uma decisão recente, porém, autorizou a Nunature, fundada por empresários americanos, a operar no mercado brasileiro. 

O LAcann Group tem um plano que olha para este mercado físico que ainda engatinha no Brasil. A ideia é plantar cannabis no Paraguai e produzir derivados de diversos tipos para essas empresas que conseguirem entrar no mercado nacional de cannabis medicinal com autorização da Anvisa. 

Mas não é só do Brasil que o projeto depende. Como o Paraguai tem energia e mão de obra barata, o plano da holding é se transformar em uma fornecedora com preços competitivos da cannabis para a América Latina e o mundo.

“O Paraguai é como se fosse uma China da América Latina. É a mesma coisa de você pensar por que a Apple não faz o iPhone nos Estados Unidos, mas na Ásia, mesmo podendo”, explica Daniel Rodrigues, co-fundador do grupo.

De acordo com ele, o país tem o melhor custo de produção do mundo de cannabis devido à energia do país custar ⅓ do valor que custa no Brasil. 

Custo efetivo real

Com menos custos, a empresa quer oferecer produtos derivados da cannabis com custo efetivo real, sem valores abusivos. Hoje, a Prati Donaduzzi importa sua matéria-prima de uma empresa canadense e o preço do miligrama do produto sai a 38 centavos em média.

A ideia da LACann Group é oferecer produtos para marcas que possam levar o preço para cerca de 20 centavos a miligrama nas farmácias brasileiras.

Ou seja, querem oferecer para as farmacêuticas que ganharem autorização da Anvisa um preço tão bom quanto o que é possível na importação. Nos próximos cinco anos, o grupo pretende fazer investimentos de cerca de 80 milhões de reais.

Para fazer o plantio, o LACann Group já tem um terreno de 25 hectares no Paraguai onde pretende construir estufas fechadas para a plantação da cannabis. O grupo já conta com um time com mais de 30 profissionais dedicados.

Em 18 meses, a empresa deve estar pronta para fornecer derivados medicinais próprios. Até agora, o grupo recebeu dois milhões de dólares de aportes de investidores. A próxima rodada de captação pretende levantar mais 1,5 milhão. 

Enquanto apostam no Paraguai para fazer seus investimentos na produção das plantas de cannabis, um projeto de lei tem avançado no Brasil para autorizar organizações, empresas e instituições de pesquisas a plantarem a matéria-prima no Brasil.

Se aprovado, a tendência é que as empresas que têm autorização da Anvisa para vender canabidiol nas farmácias possam também investir na produção vertical para tentar baratear o produto. 

Isso, porém, não deve atrapalhar os planos da Lacann Group de se tornar uma grande fornecedora. Independentemente de as empresas produzirem verticalmente ou comprarem no futuro da empresa, os executivos acreditam que o Paraguai vai se destacar como um local barato para produzir matéria-prima de cannabis.

“Nós vamos conseguir mostrar para os investidores brasileiros que o custo efetivo lá é menor. É um custo três vezes menor de energia, mão de obra mais barata… Independentemente das farmacêuticas conseguirem autorização para plantar aqui”, explica Daniel Rodrigues. 

LACann

Camila Teixeira: empresário é a CEO do Lacan Group; Camila fundou o INDEOV, primeio e-commerce de derivados medicinais de cannabis a chegar no Brasil (LACann/Divulgação)

Um dos braços que formam a LACan Group, a INDEOV é no Brasil um dos principais representantes de empresas e produtos de cannabis para importação. Já a GFB é o braço que, no Paraguai, tem a autorização para o plantio e a produção dos produtos e a InterCan Academy é o braço de educação, que tem a missão de oferecer capacitação para médicos sobre a prescrição de cannabis medicinal.  

A nova empresa será comandada pela fundadora da INDEOV, Camila Teixeira. “Temos o compromisso de desenvolver produtos e serviços inovadores neste setor, com o objetivo principal de promover saúde, bem-estar e qualidade de vida para as pessoas que podem ser impactadas positivamente pelo uso terapêutico da Cannabis. Nosso principal diferencial é ter o foco no mercado brasileiro, buscando democratizar o acesso à Cannabis com fins terapêuticos para a nossa população”, destaca a CEO.

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