Por que o Casino quer a renúncia de Abilio do Pão de Açúcar
Veja na íntegra quais foram os argumentos apresentados pelo grupo francês aos demais acionistas na assembleia de hoje
Tatiana Vaz
Publicado em 20 de fevereiro de 2013 às 13h32.
São Paulo – O pedido de renúncia de Abilio Diniz do Conselho do Grupo Pão de Açúcar , feito hoje pelo acionista controlador Casino durante a assembleia extraordinária de acionistas levou em conta o comportamento do empresário desde meados de 2012, que "tem sido o de criar turbulência, ignorando o interesse da Companhia".
A informação, contida no voto-registro da holding Wilkes, representada pelo Casino, faz parte da lista dos argumentos apresentados pelo grupo francês aos demais acionistas na assembleia. O controlador tem se mostrado descontente com a possível entrada de Diniz no conselho da BRF, uma das principais fornecedoras da varejista.
A iniciativa teria sido considerada pelo grupo francês como conflito de interesses, já que a fabricante concorre com o Pão de Açúcar em produtos de marca própria. "A presença do Sr. Abilio Diniz nas duas companhias causaria grande desconfiança na diretoria, nos demais conselheiros, nos acionistas e demais stakeholders de CBD", diz o voto.
Abaixo, veja a íntegra do voto-registro do maior acionista do grupo apresentado na assembleia de hoje (a assessoria de imprensa do empresário ainda não se pronunciou sobre o assunto).
Senhor Presidente,
Esta declaração de voto é formulada neste momento em que dois novos membros são eleitos para o Conselho de Administração, para expressar aos senhores acionistas e aos Conselheiros agora eleitos certas preocupações da Wilkes, como acionista controladora direta de Companhia Brasileira de Distribuição ("CBD" ou "Companhia"), e por consequência do Casino, como acionista controlador e destacadamente o maior acionista da Companhia.
A anunciada possibilidade de eleição do Presidente do Conselho de Administração da CBD, Sr. Abilio Diniz, como membro do Conselho de Administração de BRF - Brasil Foods S.A. ("BRF"), causaria no âmbito da CBD uma situação de evidente conflito de interesses, decorrente das intensas e relevantes relações entre as duas empresas.
A presença do Sr. Abilio Diniz nas duas companhias causaria grande desconfiança na diretoria, nos demais conselheiros, nos acionistas e demais stakeholders de CBD (inclusive o acionista controlador). Tal cenário também colocaria a CBD em situação desconfortável no seu mercado de atuação, criando problemas de interlocução com os seus demais fornecedores relevantes dos produtos também fornecidos por BRF.
O Sr. Abilio Diniz pretende ter uma atuação ativa na CBD, mantendo uma sala própria no andar da Diretoria, uma mesa na sala da Diretoria, secretárias com grande acesso a informações. Ele participa ativamente dos comitês (inclusive daqueles de que não faz parte) e indica membros para outros comitês (inclusive por meio da instauração de procedimento arbitral).
Parece, portanto, claramente incompatível que, ao mesmo tempo, o Sr. Abilio Diniz se torne relevante investidor e membro do Conselho de Administração (e talvez seu Presidente) de um dos maiores fornecedores da CBD. Na verdade, em alguns produtos e setores, a BRF é um fornecedor dominante. A BRF é também é um dos maiores fornecedores (e dominante em alguns casos) dos principais concorrentes de CBD. Os interesses comerciais da BRF são necessariamente conflitantes e contrapostos com os da CBD.
Mas não é só. Os produtos da BRF também competem com os produtos das marcas próprias da CBD e as decisões estratégicas sobre o desenvolvimento desses produtos são fundamentais para a CBD.
É imperativo que o Sr. Abilio Diniz coloque seus interesses pessoais em segundo plano, privilegiando os da CBD: caso venha a ser apontado para o Conselho de Administração da BRF ou venha a manter interesse ou posição de influencia relevante naquela companhia, o Sr. Abilio Diniz deve renunciar imediatamente ao cargo de membro do Conselho de Administração da CBD, evitando uma desnecessária confrontação adicional quanto ao tema.
É lamentável que o Sr. Abilio Diniz pretenda impor sua presença no Conselho apenas por razões pessoais em uma situação de claro conflito de interesses. Na verdade, o comportamento do Sr. Abilio Diniz, desde a assunção do controle isolado pelo Casino em meados de 2012, tem sido o de criar turbulência, ignorando o interesse da Companhia.
Mesmo em circunstâncias normais ninguém é indispensável ou insubstituível. Mas neste caso, o Sr. Abilio Diniz é um acionista minoritário, que entretanto tenta impor sua presença apenas para obter benefícios privados, abusando do seu direito contratual de permanecer como Presidente do Conselho.
Ontem mesmo o Conselho de Administração aprovou, por larga maioria, seguindo recomendação unânime do Comitê de Governança Corporativa, a concessão de uma garantia aos executivos da Companhia, que foram ameaçados por escrito pelo Presidente do Conselho, com ações cíveis e criminais, quando tentavam implementar a decisão do Conselho sobre as despesas de segurança do Sr. Abilio Diniz e de sua família. É impensável que um Presidente do Conselho escreva cartas ameaçadoras aos executivos de uma Companhia aberta.
O acionista controlador tem deveres perante os demais acionistas e vai cumpri-los, atuando até as últimas consequências para impedir que o sr. Abilio Diniz, que voluntariamente está se colocando em uma posição de conflito com os interesses da CBD, venha a fazê-lo.
Por tudo isto é que o acionista controlador quer destacar a importância de que os membros apontados pelo Sr. Abilio Diniz para o Conselho de Administração de CBD, a serem eleitos nesta assembleia, atuem no exclusivo interesse de CBD, e não na defesa dos interesses de um acionista minoritário que tem agido como antes descrito.
Feitas essas considerações, senhor Presidente, a acionista Wilkes vota pela eleição dos Srs. Luiz Fernando Figueiredo e Claudio Galeazzi para o Conselho de Administração da CBD.
Wilkes Participações S.A.
São Paulo – O pedido de renúncia de Abilio Diniz do Conselho do Grupo Pão de Açúcar , feito hoje pelo acionista controlador Casino durante a assembleia extraordinária de acionistas levou em conta o comportamento do empresário desde meados de 2012, que "tem sido o de criar turbulência, ignorando o interesse da Companhia".
A informação, contida no voto-registro da holding Wilkes, representada pelo Casino, faz parte da lista dos argumentos apresentados pelo grupo francês aos demais acionistas na assembleia. O controlador tem se mostrado descontente com a possível entrada de Diniz no conselho da BRF, uma das principais fornecedoras da varejista.
A iniciativa teria sido considerada pelo grupo francês como conflito de interesses, já que a fabricante concorre com o Pão de Açúcar em produtos de marca própria. "A presença do Sr. Abilio Diniz nas duas companhias causaria grande desconfiança na diretoria, nos demais conselheiros, nos acionistas e demais stakeholders de CBD", diz o voto.
Abaixo, veja a íntegra do voto-registro do maior acionista do grupo apresentado na assembleia de hoje (a assessoria de imprensa do empresário ainda não se pronunciou sobre o assunto).
Senhor Presidente,
Esta declaração de voto é formulada neste momento em que dois novos membros são eleitos para o Conselho de Administração, para expressar aos senhores acionistas e aos Conselheiros agora eleitos certas preocupações da Wilkes, como acionista controladora direta de Companhia Brasileira de Distribuição ("CBD" ou "Companhia"), e por consequência do Casino, como acionista controlador e destacadamente o maior acionista da Companhia.
A anunciada possibilidade de eleição do Presidente do Conselho de Administração da CBD, Sr. Abilio Diniz, como membro do Conselho de Administração de BRF - Brasil Foods S.A. ("BRF"), causaria no âmbito da CBD uma situação de evidente conflito de interesses, decorrente das intensas e relevantes relações entre as duas empresas.
A presença do Sr. Abilio Diniz nas duas companhias causaria grande desconfiança na diretoria, nos demais conselheiros, nos acionistas e demais stakeholders de CBD (inclusive o acionista controlador). Tal cenário também colocaria a CBD em situação desconfortável no seu mercado de atuação, criando problemas de interlocução com os seus demais fornecedores relevantes dos produtos também fornecidos por BRF.
O Sr. Abilio Diniz pretende ter uma atuação ativa na CBD, mantendo uma sala própria no andar da Diretoria, uma mesa na sala da Diretoria, secretárias com grande acesso a informações. Ele participa ativamente dos comitês (inclusive daqueles de que não faz parte) e indica membros para outros comitês (inclusive por meio da instauração de procedimento arbitral).
Parece, portanto, claramente incompatível que, ao mesmo tempo, o Sr. Abilio Diniz se torne relevante investidor e membro do Conselho de Administração (e talvez seu Presidente) de um dos maiores fornecedores da CBD. Na verdade, em alguns produtos e setores, a BRF é um fornecedor dominante. A BRF é também é um dos maiores fornecedores (e dominante em alguns casos) dos principais concorrentes de CBD. Os interesses comerciais da BRF são necessariamente conflitantes e contrapostos com os da CBD.
Mas não é só. Os produtos da BRF também competem com os produtos das marcas próprias da CBD e as decisões estratégicas sobre o desenvolvimento desses produtos são fundamentais para a CBD.
É imperativo que o Sr. Abilio Diniz coloque seus interesses pessoais em segundo plano, privilegiando os da CBD: caso venha a ser apontado para o Conselho de Administração da BRF ou venha a manter interesse ou posição de influencia relevante naquela companhia, o Sr. Abilio Diniz deve renunciar imediatamente ao cargo de membro do Conselho de Administração da CBD, evitando uma desnecessária confrontação adicional quanto ao tema.
É lamentável que o Sr. Abilio Diniz pretenda impor sua presença no Conselho apenas por razões pessoais em uma situação de claro conflito de interesses. Na verdade, o comportamento do Sr. Abilio Diniz, desde a assunção do controle isolado pelo Casino em meados de 2012, tem sido o de criar turbulência, ignorando o interesse da Companhia.
Mesmo em circunstâncias normais ninguém é indispensável ou insubstituível. Mas neste caso, o Sr. Abilio Diniz é um acionista minoritário, que entretanto tenta impor sua presença apenas para obter benefícios privados, abusando do seu direito contratual de permanecer como Presidente do Conselho.
Ontem mesmo o Conselho de Administração aprovou, por larga maioria, seguindo recomendação unânime do Comitê de Governança Corporativa, a concessão de uma garantia aos executivos da Companhia, que foram ameaçados por escrito pelo Presidente do Conselho, com ações cíveis e criminais, quando tentavam implementar a decisão do Conselho sobre as despesas de segurança do Sr. Abilio Diniz e de sua família. É impensável que um Presidente do Conselho escreva cartas ameaçadoras aos executivos de uma Companhia aberta.
O acionista controlador tem deveres perante os demais acionistas e vai cumpri-los, atuando até as últimas consequências para impedir que o sr. Abilio Diniz, que voluntariamente está se colocando em uma posição de conflito com os interesses da CBD, venha a fazê-lo.
Por tudo isto é que o acionista controlador quer destacar a importância de que os membros apontados pelo Sr. Abilio Diniz para o Conselho de Administração de CBD, a serem eleitos nesta assembleia, atuem no exclusivo interesse de CBD, e não na defesa dos interesses de um acionista minoritário que tem agido como antes descrito.
Feitas essas considerações, senhor Presidente, a acionista Wilkes vota pela eleição dos Srs. Luiz Fernando Figueiredo e Claudio Galeazzi para o Conselho de Administração da CBD.
Wilkes Participações S.A.