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Por dentro do maior cruzeiro do mundo

No Harmony of the Seas, lançado ao mar em maio, 24 elevadores zunem entre 16 deques. No quarto andar: teatro, balada, clube de jazz, cassino. Sexto: carrossel, Starbucks, paredes de escalada, arena para performances aquáticas. Décimo quinto: piscinas, jacuzzis, o maior escorregador dentro um cruzeiro no mundo (que despenca de dez andares). As acomodações vão […]

HARMONY OF THE SEAS: 6.780, suítes com até 140 metros quadrados, e um tobogã com 10 andares de altura   / Stephane Mahe/ Reuters

HARMONY OF THE SEAS: 6.780, suítes com até 140 metros quadrados, e um tobogã com 10 andares de altura / Stephane Mahe/ Reuters

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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2016 às 17h43.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h43.

No Harmony of the Seas, lançado ao mar em maio, 24 elevadores zunem entre 16 deques. No quarto andar: teatro, balada, clube de jazz, cassino. Sexto: carrossel, Starbucks, paredes de escalada, arena para performances aquáticas. Décimo quinto: piscinas, jacuzzis, o maior escorregador dentro um cruzeiro no mundo (que despenca de dez andares).

As acomodações vão de apertadas cabines internas (que projetam na parede “janelas virtuais”) às royal loft suites, com 140 metros quadrados, dispostos em corredores cinzas tão longos que causam ilusões de ótica. Ironicamente, quanto maior o navio, menos você se sente dentro de um navio, a não ser por eventuais instabilidades sob os pés e a buzina escandalosa que soa sem aviso.

Construído em três anos por 1 bilhão de dólares, a nova embarcação da Royal Caribbean é a maior de passageiros do mundo (para 6 780 hóspedes e mais 2 100 tripulantes), com 362 metros de comprimento e 277.000 toneladas. O Harmony é gêmeo dos já existentes Allure e Oasis of the Seas – e, a bem da verdade, só uma pernada maior –, e tem muitas das mesmas atrações, como uma franquia do restaurante do chef Jamie Oliver, um bar com coqueteleiras robôs (que faz sucesso, a julgar pelas filas), e o Central Park, um pátio arborizado onde estão os restaurantes mais sofisticados. De novidade, temos o tal tobogã (por sinal, bem divertido), um parque aquático infantil e uma montagem do musical Grease.

Há sempre um quê de cafonice em navios descomunais – vide a apresentação de patinação de gelo com roupas de época e a banda tocando “Don’t Stop Believin'” para o pessoal da meia-idade, que se acaba numa pizza insossa pós-show.

Ponto baixo também para as piscinas, cujo tamanho certamente não condiz com o maior navio do mundo. Fora isso, a decoração é aprazível, sem os exageros cromáticos das companhias italianas, a comida do bufê e do restaurante principal, inclusa na diária, é farta e bem-feita, e o passeio realmente supre famílias em férias, já que as atrações contemplam de bebês a vovôs.

Um mercado em ebulição

A Royal Caribbean é uma companhia norueguesa com sede em Miami e ocupa o segundo lugar do mercado mundial de cruzeiros, atrás da gigante americana Carnival. Faturou 8,3 bilhões de dólares em 2015 e vem numa toada de seis inaugurações de navios desde 2009, pretendendo lançar mais três até 2020.

Fora o preço da passagem do cruzeiro, que corresponde a cerca de 70% do faturamento, o restante vem dos gastos dos passageiros a bordo: são, em média, 127 dólares por dia por pessoa, principalmente com cassino, bebidas alcoólicas e produtos nas lojas (no Harmony há grifes como Bvlgari e Cartier). A viagem de 3 noites visitando Bahamas custa a partir de 786 dólares (com refeições inclusas).

O ritmo agressivo vem coerente com o mercado mundial de cruzeiros, cuja demanda cresceu 68% nos últimos dez anos: em 2016 serão nove novos navios marítimos e 18 fluviais, com 27 outros encomendados, e um total de 24 milhões de passageiros transportados. Desses, 11 milhões vêm dos Estados Unidos – o que explica as atrações e a comida moldados claramente para esse público. O próprio Harmony está destinado a fazer viagens de sete noites pelo Caribe saindo de Fort Lauderdale, na Flórida.

Mas é a China que vêm dando novo fôlego ao setor, onde há pouco mais de dez anos o mercado era quase inexistente. O número de passageiros cresceu 79% ao ano de 2012 a 2014, quando chegou a 700.000, graças ao aumento do poder aquisitivo da classe média e incentivos do governo, que proporciona subsídios e melhoras na infraestrutura dos portos. “Os números da China se tornaram tão relevantes que temos agora dois navios dedicados unicamente ao país”, diz Ricardo Amaral, diretor da Royal Caribbean para Brasil e América Latina. São eles o Quantum of the Seas, em Xangai, e o recém-inaugurado Ovation of the Seas, aportado em Tianjin. A concorrente Carnival deve ter seis navios operando ali até o fim do ano.

Com mais gente querendo navegar, a variedade de cruzeiros se expande para todas as direções. Não, nem todo mundo topa passar as férias em um resort flutuante com outros 6.000 indivíduos. Companhias como a Costa e a Norwegian Cruise Line investem em alas especiais dentro dos navios maiores com suas próprias piscinas e restaurantes para quem quiser pagar mais.

Outras, como a Regent Seven Seas, priorizam barcos menores e mais intimistas, para em média 700 pessoas. A comida vem sendo aprimorada com chefs de renome, os shows a bordo tiveram um upgrade com montagens da Broadway, novos itinerários chegam ao Alaska, Costa Rica, Mianmar. A coisa ferve nos rios, principalmente da Europa: a Viking River Cruises, a maior do negócio, lançou sete novas embarcações em março.

No Brasil, tudo é mais difícil

O Brasil vai na contramão. No verão de 2010, chegamos a ter 20 navios viajando pelo litoral. O número caiu pela metade em 2015 e, para a temporada de 2016, que começa em novembro, apenas três estão com passagens à venda no momento. A Royal Caribbean, que navegou por aqui sete anos, anunciou que não vem ao país essa temporada.

Crise à parte, quase todos os processos que envolvem a realização de um cruzeiro aqui são caros e complicados, desde a aprovação da construção de um porto, o preço do combustível e a retirada do lixo do navio. A falta de infraestrutura, os impostos e a regulação trabalhista dos tripulantes também acarretam custos altos. “O preço da praticagem aqui, por exemplo, é seis vezes maior do que em outros países. Estamos perdendo nossos navios para China, Austrália, Cuba, Dubai”, diz Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Abremar).

Com a diminuição da oferta nacional, acabamos trocando Santos, Búzios e Salvador pelo Caribe e o Mediterrâneo. A CVC, maior operadora de viagens do país, observou um aumento de 15% na demanda por cruzeiros internacionais em 2015, o que deve crescer muito esse ano. Em datas como o Carnaval, brasileiros chegam a ser 40% do público em alguns dos navios da Royal Caribbean saindo de Miami, e devem chegar junto no Harmony of the Seas. Ainda bem que tem Raul na seleção do karaoquê.

(Betina Neves)

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