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Petrobras terá de reorganizar aportes caso participe de leilões

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou nesta quarta que a empresa estuda adquirir direitos exploratórios de áreas apenas em águas profundas

Pedro Parente: o atual plano de negócios 2017-2021, anunciado em setembro de 2016, prevê investimentos de 74,1 bilhões de dólares (Lucas Jackson/Reuters)
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Reuters

Publicado em 17 de maio de 2017 às 21h44.

Nova York - A Petrobras terá de reorganizar as prioridades dos aportes previstos para os próximos anos, caso a empresa decida participar dos leilões de áreas de petróleo e gás que serão realizados pelo governo brasileiro neste ano.

Em entrevista exclusiva à Reuters, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou nesta quarta-feira que a empresa estuda adquirir direitos exploratórios de áreas apenas em águas profundas que serão ofertadas nos três grandes leilões deste ano, e que deverá ter alguma posição sobre o tema ainda neste mês.

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O atual plano de negócios 2017-2021, anunciado em setembro de 2016, prevê investimentos de 74,1 bilhões de dólares, cerca de 25 por cento menor que o Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 revisado em janeiro daquele ano.

"Nós temos uma previsão de investimentos de 75 bilhões de dólares entre 2017 e 2021, e isso é muito importante para atingir nossas metas de alavancagem... Se nós ganharmos novas áreas, nós teremos que reorganizar nossas prioridades", disse Parente, que visitou a redação da Reuters, em Nova York, antes de participar de vários encontros com investidores nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que tem que escolher bem seus investimentos, devido à enorme dívida líquida de cerca de 300 bilhões de reais, a maior de uma empresa do setor no mundo, a Petrobras também não pode abrir mão facilmente de agregar novas reservas por meio de leilões no Brasil, de onde vem a maior parte de sua produção de petróleo.

Segundo o executivo, se a previsão de investimentos aumentar, a empresa terá de buscar reduzir ainda mais custos.

A empresa tem entre a última semana deste mês e a primeira de junho para decidir e anunciar se irá exercer seu direito de preferência nos dois leilões do pré-sal, previstos para outubro.

Além disso, a empresa também irá decidir ainda se participará do leilão de áreas exploratórias fora do pré-sal, sob regime de concessão, previsto para setembro.

"Nós vamos nos concentrar em águas profundas, não só no pré-sal, mas águas profundas", destacou.

Parente adiantou ainda que a empresa não tem nenhum interesse em adquirir direitos de exploração em áreas em terra ou em águas rasas.

Inclusive, a companhia planeja colocar à venda todos os seus atuais ativos em terra, de acordo com Parente, como parte do seu bilionário plano de venda de ativos e parcerias, que prevê arrecadar um total de 21 bilhões de dólares entre 2017-2018.

Recentemente, a empresa precisou reiniciar o processo de venda de ativos e atração de parcerias, como forma de trazer maior transparência, após uma intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU).

O executivo não quis dar mais detalhes por enquanto sobre quais os ativos a empresa quer vender, uma vez que eles estão passando por um processo interno de aprovação, antes de serem anunciados ao mercado.

Entretanto, a empresa já afirmou diversas vezes seu interesse de priorizar os seus esforços para desenvolver campos produtores em águas profundas, podendo então vender participações em refinarias, dutos, terminais, ativos relacionados a biocombustíveis, fertilizantes, dentre outros.

Avanços

Perto de completar um ano como presidente da Petrobras, Parente já considera a possibilidade de a empresa atingir uma meta de desalavancagem bem antes do previsto, após a petroleira ter apresentado um desempenho operacional histórico no primeiro trimestre.

Com bons resultados operacionais e um grande plano de venda de ativos em curso, a empresa reduziu a alavancagem, com o índice dívida líquida sobre Ebitda ajustado atingindo 3,24 vezes no primeiro trimestre, ante 4,81 vezes no mesmo período de 2016, aproximando-se cada vez mais da meta de 2,5 no fim de 2018.

"Assumindo que nós não tenhamos grande volatilidade nas taxas de câmbio, nós devemos atingir antes de 2018, entretanto esse não é um número definitivo. Um número saudável para a dívida deveria ser 1,5 (vez dívida líquida sobre Ebitda)", afirmou Parente.

O executivo, no entanto, frisou que a meta da companhia permanece a mesma e ele não tem como precisar quando os números irão convergir para o que a atual gestão considera o ideal, o que permitiria à empresa novos e mais diversificados investimentos.

Parente assumiu a companhia em junho de 2016, indicado pelo presidente Michel Temer, após o afastamento definitivo de Dilma Rousseff, durante o pior momento da história da Petrobras, que sofria o impacto do avanço das investigações sobre um bilionário esquema de corrupção envolvendo alguns de seus ex-executivos.

Parente aceitou o desafio com a promessa de que ele teria liberdade para atuar em prol da recuperação financeira da Petrobras e anunciou à época que ficaria na empresa até o fim de 2018, quando termina o mandato de Temer e para quando estão endereçadas as principais metas atuais da empresa.

Entretanto, diante da forte aprovação do mercado financeiro em relação ao seu trabalho, Parente já considera permanecer na empresa por mais tempo, dependendo é claro de decisões governamentais, já que a companhia é estatal.

O CEO ressaltou que a empresa conseguiu, em uma emissão de títulos de 4 bilhões de dólares nesta semana, que os investidores aceitassem um rendimento abaixo de 5 por cento em uma das tranches de operação.

Tal taxa foi obtida pela primeira vez desde o início da crise que abateu a empresa. No pior momento, as taxas cobradas atingiram cerca de 13 por cento, segundo ele.

"Se o novo governo mantém a mesma condição para fazer o que precisa fazer, no caminho certo, eu vou considerar continuar, mas eu não posso dizer se vou continuar ou não, depende do novo governo", afirmou Parente.

Enquanto isso, o presidente está focado em busca dos objetivos já traçados, que virão da forte disciplina de capital, redução de custos e desalavancagem, segundo ele.

Parente antecipou, sem entrar em detalhes, que a empresa deve fazer pequenas revisões em seu plano de negócios, mas longe das profundas mudanças realizadas no passado.

"Não faria sentido para a companhia revisar tão profundamente o plano todo ano", afirmou Parente.

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