Petrobras: estatal estava sob forte pressão desde o fim de semana (Ricardo Funari/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 06h38.
Última atualização em 19 de setembro de 2019 às 06h57.
Qual será a reação dos investidores ao aumento de 4,2% para o diesel e de 3,5% para a gasolina, anunciados ontem à noite pela Petrobras e que passam a valer nesta quinta-feira? A estatal estava sob forte pressão desde o fim de semana, quando ataques a refinarias na Arábia Saudita fizeram o preço do petróleo disparar 15% na segunda-feira.
Diante do imprevisto, a petroleira brasileira preferiu esperar que o preço se estabilizasse em novo patamar, o que de fato aconteceu na terça-feira. O governo saudita anunciou que retomará a produção paralisada de 5,7 milhões de barris diários em semanas, e não meses, como era previsto inicialmente, o que fez o preço do petróleo cair e se estabilizar numa alta acumulada na casa dos 6%.
“Hoje a volatilidade retornou à média, e foi possível ter uma visão do novo patamar de preços no curto prazo”, disse ontem o Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, em entrevista ao site Brazil Journal.
A decisão, portanto, vai ao encontro da autonomia esperada por investidores em relação à companhia. A dúvida é se a forma como o aumento se desenrolou deixará questões em aberto. Jair Bolsonaro, afinal, ligou para Castello Branco na segunda-feira para segurar o reajuste inoportuno. O presidente ainda fez questão de ressaltar que os caminhoneiros têm o benefício de um cartão que trava o preço do diesel por 30 dias.
O que teria acontecido se o preço do petróleo se fixasse 15% acima do patamar da semana passada? A questão se impõe porque a história não está terminada. O ataque à refinaria ainda pode ter desdobramentos. Estados Unidos e seus aliados ainda estudam respostas ao Irã, apontado como autor dos ataques.
Ontem, Donald Trump afirmou que há soluções para além de uma guerra, como o aumento de sanções. Mas seu secretário de Estado, Mike Pompeo, chegou à Arábia Saudita para conversas com o príncipe Mohammed bin Salman chamando o episódio de “ato de guerra”.
Vizinhos como Emirados Árabes e Kuwait aumentaram o nível de alerta para defender seus próprios campos de produção. A escalada das tensões deve manter a volatilidade nos preços do petróleo. Um novo ataque faria a cotação disparar novamente.
Seria uma grande oportunidade para a Petrobras, que tem leilão da cessão onerosa do pré-sal previsto para 6 de novembro, com arrecadação prevista para o governo de 106 bilhões de reais. Mas seria um novo teste para a autonomia do Petrobras. Esta quinta-feira será oportunidade de avaliar se investidores já esqueceram a ligação presidencial. A ver o que acontece em um próximo episódio.