Pesquisa mostra que CEOs nunca foram tão pressionados
Estudo da Booz Allen Hamilton, feito com as 2 500 maiores empresas de capital aberto do mundo, revela que o primeiro homem da companhia nunca esteve tão ameaçado de ser mandado para o olho da rua
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2013 às 17h25.
A vida não está nada fácil para os CEOs mundo afora. Um estudo da consultoria Booz Allen Hamilton, feito com as 2 500 maiores empresas de capital aberto do mundo, revela que o primeiro homem da companhia nunca esteve tão ameaçado de ser mandado para o olho da rua. No ano passado, 39% das saídas de CEOs foram forçadas em 2001, a taxa tinha sido de 25%. O número de companhias que trocaram de comandante permaneceu mais ou menos o mesmo nos últimos três anos. Mas o índice de trocas motivadas por descontentamento com os resultados da empresa é o maior desde a primeira vez que a Booz Allen fez esse estudo, em 1995: 3,9% (veja a tabela abaixo).
Não só os conselhos das empresas se mostram mais dispostos a demitir CEOs, como também estão menos tolerantes. O retorno aos acionistas dos CEOs demitidos em 2002 ficou 6,2 pontos porcentuais abaixo do retorno atingido pelos que saíram voluntariamente. Nos dois anos anteriores, a diferença tinha sido 11,9 pontos porcentuais (em 2001) e 13,5 pontos (em 2000). CEOs estão sendo postos para fora por falhas de desempenho que costumavam ser toleradas, pelo menos no passado recente , escreveram Chuck Lucier, Rob Schuyt e Eric Spiegel, três vice-presidentes da Booz Allen que assinam o relatório da pesquisa, intitulado CEO Succession 2002 Deliver or Depart (Sucessão de CEOs 2002 Dê Resultados ou Vá Embora), que foi divulgado mundialmente nesta segunda-feira (12/5).
O Brasil assim como toda a América Latina não está retratado nesse estudo, porque a amostra de empresas locais presente na lista é pequena. Mesmo assim, pode-se detectar o mesmo fenômeno aqui, de acordo com Ivan de Souza, vice-presidente da Booz Allen no Brasil. O Brasil segue, ou está começando a seguir, uma série de práticas de governança corporativa que o aproximam da tendência mundial de pressão sobre os CEOs por resultados , diz Souza. A rotatividade aqui não é tão alta porque o ativismo dos conselhos ainda é nascente e porque muitas empresas têm controle familiar. Mesmo assim, Souza afirma que a vida média do CEO nas empresas brasileiras está diminuindo.
Basicamente, o mundo inteiro vem adotando o estilo americano de cobrança dos CEOs. Desde 1995, a taxa de sucessões cresceu 192% na Europa (ou seja, quase o triplo de empresas trocou de presidente em 2002) e 140% na região da Ásia/Pacífico sendo que nesta última região, onde a saída forçada era praticamente inexistente, as demissões de CEOs representaram 45% das trocas de comando. A região foi responsável por quase 20% das trocas de comando no ano passado um aumento significativo em relação a 2001, quando apenas 8% das sucessões eram em empresas de lá, e 2000, com 6%.
O número de fusões e aquisições sempre uma das fortes razões para a saídade CEOs, pela extinção do cargo na companhia absorvida - caiu no ano passado. Com isso, as sucessões relacionadas a fusões representaram 15% do total, bem abaixo dos 27% de 2001 e dos 29% de 2000. Mesmo assim, o índice de empresas que trocaram de comando, 10,1%, foi maior do que o de 2001 (9,2%). O recorde foi em 2000, com rotatividade de 11,2%. De qualquer forma, os três anos estão bem acima da média de 1995, que era de 6%. Os setores campeões de demissão de CEOs por desempenho foram, obviamente, os mais atingidos pela crise econômica. O setor de telecomunicações teve 9,4% de demissões forçadas, seguido pelo de ulities (serviços de luz, água etc.), com 5,7%, e de tecnologia de informações, com 4,7%.
Sucessão interna ou externa?
Um novo quesito de análise da pesquisa da Booz Allen, este ano, foi sobre o tipo de sucessão: o CEO que vem de fora da companhia é melhor ou pior que o CEO promovido internamente? A resposta a que a consultoria chegou foi: é melhor, e é pior. Na média dos cinco estudos similares da Booz Allen (1995, 1998, 2000, 2001 e 2002), o CEO que chega de fora deu, na primeira metade do mandato, um resultado 6,8 pontos porcentuais maior que o CEO promovido internamente. Já na segunda metade do mandato, o resultado foi um retorno ao acionista 5,5 pontos porcentuais pior. O retrato dos mandatos de CEO colhido destes dados parece indicar que os que vêm de fora chegam extremamente fortes, não conseguem sustentar sua promessa inicial e são mais suscetíveis de gerar insatisfação entre os acionistas e demissão pelo conselho , diz o relatório da Booz Allen.
Fracasso leva a sucessão | |||||
Cresce a taxa de troca de executivos por desempenho insatisfatório | |||||
Ano | 1995 | 1998 | 2000 | 2001 | 2002 |
Sucessão regular (aposentadoria, problema de saúde, oferta melhor) | 4,2% | 3,6% | 4,8% | 4,4% | 4,7% |
Sucessão por desempenho (iniciativa do conselho, atribuída a resultados abaixo do esperado) | 1,0% | 1,9% | 3,2% | 2,3% | 3,9% |
Sucessão por fusão (o cargo foi eliminado) | 0,8% | 1,9% | 3,2% | 2,5% | 1,5% |
Total | 6,0% | 6,4% | 11,2% | 9,2% | 10,1% |
Fonte: Booz Allen Hamilton |