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Pandemia dá impulso a comércio online, puxado por itens de mercado

A transformação ocorreu não só por causa da aceleração nas vendas mas também nos tipos de produtos mais vendidos

 (Henry Nicholls/Reuters)

(Henry Nicholls/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de janeiro de 2021 às 15h13.

Última atualização em 1 de janeiro de 2021 às 16h03.

A pandemia mudou a cara do e-commerce brasileiro. A transformação ocorreu não só por causa da aceleração nas vendas mas também nos tipos de produtos mais vendidos e até no jeito de operar, agora bem mais descentralizado. Se em 2019 os eletroeletrônicos foram as vedetes de vendas, com a pandemia os itens de supermercados ganharam a dianteira e viraram a grande aposta dos gigantes do varejo online em 2020.

“Em 2019, o celular era o item mais vendido no nosso site e, em 2020, os hortifruti ficaram entre os dez mais”, afirma Raoni Lapagesse, diretor de relações institucionais da B2W. A varejista, uma das maiores do e-commerce, faturou 18,5 bilhões de reais de janeiro a setembro entre todos os produtos, próprios e de terceiros, com crescimento de 53% ante 2019. O executivo conta que a categoria supermercado era muito pequena dentro da companhia e, “da noite para o dia, tornou-se uma frente importantíssima”.

Em janeiro de 2020, a B2W comprou o Supermercado Now, uma empresa online do setor. Em abril, já na pandemia, lançou o Americanas Mercado e fechou parcerias com as redes Carrefour e Big para ter cobertura nacional nas vendas de alimentos. Com isso, a categoria supermercado foi o grande destaque do terceiro trimestre nos resultados da empresa.

As vendas desse segmento cresceram nove vezes em relação a igual período de 2019. Em número de itens, os produtos de supermercados foram os mais comercializados nos últimos dois trimestres até setembro.

Por causa desse desempenho, a companhia decidiu apostar em bicicletas elétricas para conseguir entregar um volume maior de compras de alimentos e bebidas, itens de consumo imediato, num prazo mais curto, de até 3 horas.

O projeto começou com apenas 50 bicicletas elétricas no Rio e em São Paulo pela pequena oferta dessas bikes no mercado, diz Lapagesse. Com capacidade de transportar 180 quilos, um volume muito maior do que uma bike comum, a bicicleta elétrica cargueira se encaixa perfeitamente nessa nova frente de negócios além de ter uma pegada sustentável.

O Magazine Luiza, gigante do varejo que teve no terceiro trimestre mais da metade do faturamento vindo do e-commerce, tinha planos de entrar no segmento de supermercado, porém não em 2020, conta Bernardo Leão, diretor de novos negócios. Com a pandemia, enxergou na venda desses itens uma oportunidade e antecipou o projeto.

Em março, em menos de dez dias, a varejista ingressou no segmento de supermercados. “Hoje é a categoria número 1 em itens vendidos. No terceiro trimestre foram mais de 5 milhões de pedidos”, conta Leão.

O Magalu opera nessa categoria com estoque de terceiros e também próprio, comprando diretamente da Unilever, P&G, Coca-Cola e Ambev, por exemplo. “Mais que dobramos o número de marcas em relação aos três primeiros meses do ano.”

Custos

Não foi por acaso que grandes empresas do varejo online decidiram investir no segmento de supermercados. Ele representa ainda cerca de 1% do total das vendas do e-commerce como um todo, mas tem potencial para alavancar os negócios.

Como a compra de alimentos e bebidas é recorrente, isto é, se repete de duas a três vezes por mês e com frequência muito maior do que em eletroeletrônicos e vestuário, ela acaba sendo um caminho para o varejista online oferecer produtos de maior valor. “É aí onde se ganha dinheiro”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra. Além disso, essa é uma via para ampliar a base de consumidores.

Depois da logística, uma das maiores despesas do e-commerce é o chamado custo de aquisição de clientes (CAC). Isto é, são os gastos com anúncios online para fisgar novos consumidores. Com a pandemia, essa despesa foi reduzida drasticamente, afirma Felipe Dellacqua, sócio da Vtex, empresa que provê plataforma de e-commerce para um quarto das lojas virtuais do país.

“Antigamente era como se existisse um lago com pouco peixe, onde era mais difícil e caro pescar”, compara Dellacqua. Mas, com as restrições do isolamento devido à pandemia, passou a existir abundância de consumidores navegando pelo canal digital e ficou muito mais fácil e barato capturá-los, observa.

Só no primeiro semestre de 2020, 7,3 milhões de consumidores ingressaram no e-commerce. É quase a mesma quantidade de novos brasileiros que passaram a fazer compras online no ano inteiro de 2019.

No primeiro semestre de 2020 existiam no Brasil 41 milhões de e-consumidores, número 40% maior do que em igual período do ano anterior, aponta o relatório Webshoppers, da Ebit/ Nielsen.

Reféns do isolamento social, esses brasileiros mudaram o hábito de compras e provocaram um salto nas vendas online. Entre março e setembro de 2020, o volume de vendas do varejo virtual cresceu 45% na comparação com igual período do ano anterior, apontam dados da Receita. “A pandemia trouxe a escala que faltava para o e-commerce começar a dar dinheiro”, afirma Terra.

Essa também é a análise de Dellacqua. A mudança diz respeito não só ao crescimento do volume das vendas online mas também à redução de custos. O ingresso no segmento de supermercados e a adoção de novas configurações diminuíram gastos importantes. As lojas físicas, por exemplo, passaram a ser usadas com mais frequência como minicentros de distribuição ou pontos de retirada de compras.

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