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Pagamento instantâneo começa em 2020 e deve pressionar setor financeiro

Fontes do mercado apontam que o pagamento instantâneo vai acabar de vez com a era de taxas polpudas cobradas sobre transferências de recursos

Pagamento Instantâneo: Banco Central confirma a implantação completa do sistema está prevista para novembro de 2020 (Thinkstock/Thinkstock)

Pagamento Instantâneo: Banco Central confirma a implantação completa do sistema está prevista para novembro de 2020 (Thinkstock/Thinkstock)

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Reuters

Publicado em 23 de julho de 2019 às 19h59.

Última atualização em 23 de julho de 2019 às 20h02.

São Paulo — O pagamento instantâneo, sistema de transferências bancárias automáticas que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, deve estrear no Brasil em 2020, e impactar receitas do setor de pagamentos eletrônicos.

Empresas do setor estão acelerando esforços para ampliar o vínculo com clientes para evitar a migração de operações para o novo sistema ou ao menos evitar que os lojistas abram mão das transações hoje feitas com cartões.

As credenciadoras têm incentivado a movimentação de recursos por meio de suas próprias contas digitais, repassando por meio delas os valores de compras pagas com cartões e, na maioria dos casos, oferecendo produtos adicionais como crédito e conciliação, ampliando o relacionamento com os clientes.

"Estamos nos antecipando; já temos nossa conta digital e operamos um sistema interno de transferências instantâneas", disse à Reuters Danilo Caffaro, vice-presidente de produtos, negócios, e inovação da Cielo, maior adquirente do país, que já abriu mais de 105 mil contas digitais nos últimos meses.

Em outra frente, bandeiras como Mastercard e Visa tentam emplacar produtos desenvolvidos no exterior no modelo de operação do sistema, que ainda está sendo definido.

"Estamos prontos para trabalhar também no pagamento instantâneo", diz João Pedro Paro Neto, presidente para Brasil e Cone Sul da Mastercard.

Simultaneamente, fintechs, que emergiram apostando em contas simplificadas para pessoas físicas, vêm desenvolvendo soluções similares para atender pequenos negócios. O Banco Original lançou este mês um aplicativo para gerir num único ambiente conta pessoa física e jurídica de um mesmo cliente. O Nubank anunciou na semana passada que começará a abrir contas para autônomos, microempreendedores individuais e microempresas.

Isso tende a acirrar a competição pelo público que está na intersecção entre pessoas, empreendedores individuais e microempresas, que têm sido a principal aposta de expansão das empresas de pagamentos.

Esse cenário se desenrola num ambiente de incerteza sobre o potencial estrago dos pagamentos instantâneos tanto na indústria de cartões como nas transferências bancárias. Por envolver menos intermediários, ser mais ágil e muito mais barato do que as transações com cartões ou DOC e TED, especialistas acreditam que o pagamento instantâneo deve ganhar popularidade rápido.

Consultado pela Reuters em relação ao cronograma para os pagamentos instantâneos, o Banco Central afirmou em nota que "a implantação completa está prevista para novembro de 2020".

Para executivos do setor, a principal função do pagamento instantâneo deve ser a de substituir transações hoje pagas com dinheiro em espécie ou boletos. Transações de valores maiores tenderiam a seguir sendo feitas por canais tradicionais.

"O pagamento instantâneo deve coexistir com outras modalidades de transferências de recursos, especialmente porque os meios eletrônicos aqui ainda têm grande potencial de crescimento", disse o vice-presidente de Produtos da Visa no Brasil, Percival Jatobá.

Mercado novo

Segundo dados da Abecs, que representa a indústria de cartões, os plásticos respondem por cerca de um terço dos gastos privados, ante índice que chega ser o dobro em regiões da Europa e dos Estados Unidos.

De todo modo, os participantes do mercado têm em comum a leitura de que o pagamento instantâneo vai acabar de vez com a era de taxas polpudas cobradas sobre transferências de recursos, especialmente num cenário de competição crescente, no qual esses serviços passaram a ser oferecidos por fintechs, bancos digitais e marketplaces.

"Há algum tempo o pagamento virou apenas parte dos serviços e começamos a oferecer produtos como crédito e passamos a remunerar a conta de pagamentos", disse Túlio Oliveira, diretor do Mercado Pago, braço financeiro do Mercado Livre.

Pedro Paro Neto, da Mastercard, vai além: "O negócio baseado em maquininha tende a desaparecer e os bancos vão ter que encontrar seu caminho também", disse.

A possível perda de mercado das transações tradicionais assusta instituições mais tradicionais por dois motivos. Um é a provável perda de receitas, o que pode ser ilustrada pelo custo envolvidos em cada tipo de transação. No pagamento instantâneo, o custo unitário é estimado na casa de um dígito de centavos.

Mesmo tendo caído severamente nos últimos anos, o custo transacional para o vendedor sobre uma venda paga com cartão ainda circula entre as faixas de 3,5% a 6% do valor da venda, percentual tanto maior quanto menor for o lojista, incluindo taxa para antecipação de recebíveis.

Por isso, a expectativa é de que o pagamento instantâneo terá um impacto enorme sobre operações de pequeno valor, diz Oliveira, do Mercado Pago.

Numa ilustração recente desse quadro, a Cielo, após ver seu lucro recuar 45% no primeiro trimestre e sua ação perder metade do valor em 12 meses, em maio desistiu da projeção de lucro para 2019 e reduziu bastante a remuneração a acionistas, enquanto se prepara para enfrentar no novo cenário.

Para os bancos, o impacto tende a ser menos dramático, mas longe de desprezível. Receitas com tarifas têm sido nos últimos anos o carro-chefe do crescimento das receitas do setor, uma vez que o ciclo prolongado de baixa atividade econômica tirou deles muito do apetite por conceder novos empréstimos. Uma TED/DOC avulsa pode custar até 20 reais, dependendo do banco, segundo dados da Febraban.

O Itaú Unibanco, por exemplo, reduziu em maio a expectativa de alta da receita com tarifas e serviços neste ano, pouco depois de seu braço de adquirência, Rede, ter adotado uma abordagem comercial mais agressiva. O presidente do banco, Candido Bracher, disse na época não esperar que a concorrência no setor em 2019 vai esfriar.

Neste cenário, ter operação rentável para tantos competidores num sistema com menos participantes pode parecer inviável. A possibilidade de abocanhar um naco das receitas do universo dos pagamentos instantâneos dependerá em parte do modelo a ser adotado no Brasil, que deve ser definido pelo BC até o fim do ano.

O regulador já indicou que, em vez do sistema chinês, concentrado nas plataformas Wechat e Alipay, que não conversam entre si, por aqui o sistema será interoperável, com as transações sendo liquidadas por uma plataforma central, como a CIP, à qual devem se conectar todas as instituições financeiras participantes do sistema.

Nesse sentido, o BC tem tentado aliviar receios de empresas ligados à segurança ou a questões legais derivadas de possíveis problemas futuros com os pagamentos instantâneos. Enquanto isso, a diretoria do BC tem pressionado para manter o cronograma, como parte dos esforços recentes para ampliar a competitividade no setor financeiro.

Ao mesmo tempo em que mede forças com alguns participantes do mercado, o regulador tenta garantir que o projeto fique desidratado por falta de adesão. O cuidado é para tentar evitar a experiência do Banco Central Europeu, que em novembro passado lançou o sistema de transferência interbancária instantânea, num desafio a empresas como PayPal, Google, Facebook e Amazon, além das chinesas Alibaba e Tencent, que dominam o serviço na Europa. No entanto, apenas oito pequenos bancos aderiram ao serviço.

Para participantes mais recentes do mercado, embora questões de segurança e autenticação sejam genuínas, já houve preocupação similar antes da implementação de inovações financeiras no país, como a portabilidade de salários, mas foram resolvidas.

"A solução para questões de segurança está na tecnologia e não impede a implementação do pagamento instantâneo", disse Bruno Magrani, diretor de relações institucionais do Nubank.

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