Lindomar Góes, da Proesc: "O nosso sonho gigante é criar um modelo que transformar o Amapá no estado mais inovador da Amazônia" (Proesc/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 06h00.
Última atualização em 29 de fevereiro de 2024 às 07h56.
Em qualquer menção ao nome "Lindomar", os aplausos irrompem da plateia formada por empreendedores, representantes do governo e entidades de fomento à inovação no Startup20, promovido em Macapá, no Amapá. A cena se repete na entrevista, várias vezes interrompida por cumprimentos e elogios.
Celebridade na cena de empreendedorismo do Amapá, Lindomar Góes Ferreira é fundador da Proesc, a startup que recebeu em 2022 o maior aporte na história da região amazônica até aqui, no valor de R$ 8 milhões em 2022.
A empresa funciona como uma plataforma para gestão escolar, reunindo no mesmo lugar informações pedagógicas, acadêmicas, financeiras e uma solução de ensino remoto. Os pais, por exemplo, podem acompanhar as notas e frequências dos filhos, além de acessos aos boletos das mensalidades.
A ferramenta é usada por mais de 2000 escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Além disso, está em unidades de ensino em países como Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Japão.
No total, mais de 2 milhões de alunos utilizam o sistema, que transacionou R$ 5 bilhões no ano passado. Em faturamento, a Proesc avançou mais de 100% em relação a 2022 e encerrou o ano com R$ 13 milhões. A projeção também é forte para 2024: R$ 20 milhões, alta de 54%.
Os números em ascensão contrastam com uma frase que Goés usa para retratar as dificuldades de quem busca empreender no seu estado: “Nós empreendemos na escassez”.
O fundador da Proesc sabe bem do que está falando. Ele é da comunidade Jarilândia, em Vitória do Jari, no extremo sul do estado, onde só recentemente chegou a internet. Quando os seus pais casaram, eles, que não tiveram a oportunidade de estudar, fizeram um pacto de que dariam educação aos sete filhos.
“Só que na vilazinha de casas, à beira do rio, não tinha estudo. E eles tiveram que sair mudando de cidade”, conta. “Meu pai, em cada cidade que ele ia, montava um comércio ambulante com barco para nós estudarmos. Então, a minha vida sempre se confundiu entre educação e empreendedorismo”.
Com o impulso familiar, Lindomar terminou os estudos e se formou em matemática. Foi dando aulas em uma escola que surgiu o embriāo que levaria à Proesc. Com mais de 400 alunos, ele procurou encontrar uma fórmula para não ficar “louco” com tanta informação e começou a programar um sistema.
Em funcionamento, o modelo logo atraiu a atenção de professores da unidade e também de outras escolas. “Quando eu vi, já estava em 40 escolas”, afirma. “Isso foi em 2008, não tinha internet nem pen drive ainda. Nós levávamos a solução que eu tinha desenvolvido em vários disquetes, chegávamos na escola e tínhamos que descompactar”.
Dois anos depois, nasceu a Proesc como uma proposta de gestão de ensino público, ao lado do sobrinho Felipe Ferreira, que ocupa a cadeira de CEO do negócio.
O conceito de startup apareceu anos mais tarde, quando a empresa percebeu a oportunidade de entrar em colégios privados e atender as dores financeiras das escolas, com gestão de mensalidades e matrículas. Foi neste momento que a Proesc iniciou o processo de expansão por outros estados, mantendo o modelo de crescimento com as próprias pernas.
O primeiro investimento veio apenas em 2022, quando os sócios decidiram que poderiam buscar novos cenários. “Nós decidimos que a Proesc não tem o direito de sonhar pequeno. As startups do Amapá e da Amazônia se inspiram em nós. Então, decidimos naquele momento que a Proesc ia lutar para ser a maior startup de educação do Brasil no segmento de gestão escolar”, diz.
Uma vez alcançada a meta, prevista para 2025, a startup pretende colocar na rua uma estratégia de internacionalização. Até agora, as escolas dos outros países chegaram de forma orgânica, pelos conteúdos divulgados nas redes sociais.
Mas os aplausos a Lindomar não são apenas pela Proesc e pela história de vida. Ele, ao lado dos fundadores da Orçafascio, outra pioneira no estado, foi o responsável pela criação do Tucuju Valley, ecossistema para fomentar o empreendedorismo no estado.
Criada há cerca de 10 anos, a Tucuju reúne pouco mais de 100 startups. A rede é o principal canal de contato para quem deseja inovar, num estado sem aceleradora nem fundo de investimento. Além das trocas entre eles, a comunidade tem a missão de atrair mais interessados em conhecer sobre o universo dos negócios e promove uma série de eventos pelo estado.
Os membros também criaram uma espécie de metodologia, acompanhando o empreendedor desde a curiosidade até a ida ao mercado, passando pelas fases de ideação, definição do modelo de negócios e construção da máquina de vendas.
Assim, ajudaram o estado a alcançar o número de 100 startups já faturando. “Agora, nós fizemos o planejamento estratégico para ter 1000 startups no Amapá em dois anos. Esse é o nosso sonho grande”.
Os olhos de Lindomar brilham ainda mais quando fala do horizonte que enxerga à sua frente. “O nosso sonho gigante é criar um modelo para transformar o Amapá no estado mais inovador da Amazônia. Não como forma de distinção, mas de validação para que possamos levar para outros estados da Amazônia”.